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Críticas

Cineplayers

O prazer é o êxtase da vida.

7,0

É sempre com imensa satisfação que ano após ano, muitos esperam ansiosamente pelo que é provisoriamente chamado de Woody Allen’s Spring Project (o projeto de primavera do diretor). Tendo em seus três últimos filmes trocado sua querida Nova York pela terra da rainha Elizabeth, Allen tem recuperado (apesar dos deslizes de Scoop) sua credibilidade como diretor junto à crítica e ao público. Agora, Londres cede espaço à Barcelona. 

Tanto a opulenta cidade espanhola quando a modesta vila de Oviedo, assim como a Nova York de “Manhattan”, se manifestam quase como outro coadjuvante no filme, cuja arte e história transpõem os limites espaciais, para impregnar as relações humanas com os ventos sedutores e caóticos das paixões avassaladoras, no ritmo dos violões catalães. 

Contando com o recurso da narrativa em terceira pessoa, o espectador é apresentado à dupla de turistas americanas e grandes amigas, formado pela séria e comprometida Vicky (Rebecca Hall) e a aventureira Cristina, (Scarlett Johansson) recém chegadas à Barcelona para as férias de verão. Não que o período antecessor ao encontro das duas com o sedutor artista plástico Juan Antonio (Javier Bardem) pudesse ser descrito como monótono, mas é graças ao seu provocativo convite que a estória realmente recebe o impulso necessário ao caos delicioso que se seguirá. 

A questão dos “duplos” pode ser verificada nos personagens, e é percebido como perspicaz, garantindo maior tenacidade ao roteiro. Cada indivíduo carrega em si, algum tipo de ausência que acaba por ser completada apenas através da simbiose com o outro. Seja efetivada através de sexo, amizade, aventura ou compromisso, paz ou guerra. É o que verifica-se por inteiro em Cristina, que seduzida pelo conturbado casal de artistas, se vê livre do tradicional materialismo e puritanismo americanos e inicia um relacionamento com os dois, para depois se perguntar se realmente não deseja ser um pouco mais como Vicky, aparentemente com seus pés fincados na terra e fiel ao desejo de se comprometer. 

Para um casal tão passional quanto disfuncional, o elemento veio na pele da loira de pensamento liberal, o vértice que faltava para o que se aproxima de ser, o triângulo amoroso mais sensual do cinema recente. E nos momentos de calmaria, o personagem de Bardem satisfaz a fantasia masculina, especialmente dentre os que sentem dificuldade em afirmar preferência entre loiras e morenas. 

Poucos diretores conseguem ser tão versáteis e bem sucedidos quanto Allen. Cômico ou trágico, ele nunca deixa de revisitar (muitas vezes de forma primorosa) obras e autores pelos quais sente grande apreço, seja pela tragédia grega em “O Sonho de Cassandra”, à literatura russa em “A Última Noite de Bóris Gruschenko” ou a Bergman e Fellini, em filmes como “Interiores” e “Memórias”, respectivamente. Talvez isto aconteça, pelo fato de que seu trabalho não se fecha em um gênero só. Suas comédias contêm uma boa dose de drama, assim como suas tragédias não são livres de comentários jocosos. Daí, uma das razões para a proposta de Juan Antonio às garotas não ser assim, tão descabida, já que ele mesmo reconhece que a vida é triste e terrivelmente curta, fazendo juz então, à tagline original do filme: “O prazer é o êxtase da vida.”

Divertido e sensual, o novo filme de Allen demonstra que apesar da idade, o diretor está em ótima forma e seu enorme interesse pelo sexo feminino permanece intacto, além de nos apresentar uma sensacional Penélope Cruz, no papel de uma mulher desequilibrada e passional, como aquela dos filmes do espanhol Pedro Almodóvar.

Comentários (1)

Paula Lucatelli | terça-feira, 13 de Janeiro de 2015 - 01:01

Minha análise: https://identidadecinefila.wordpress.com/2014/09/07/analise-profunda-vicky-cristina-barcelona/

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