7,0
Os Vingadores: Guerra Infinita era um sonho para a Marvel e seus fãs. O projeto foi de fato o rei das expectativas para uma franquia que, como ninguém, cultivou a espera pela obra tanto quanto o próprio filme em si. Dezenas de cenas pós-créditos, elementos de outras histórias e subtramas de personagens convergem para esse momento. O filme é o clímax de uma longa obra seriada cada vez mais interdependente e cuja máquina irrefreável de produção refina cada vez mais as qualidades dos produtos oferecidos - mas igualmente também exacerba vícios e lugares comuns confortáveis.
A aparição do titã louco Thanos e a sua busca pelas Joias do Infinito na missão de restaurar o equilíbrio do universo fez que com que os diretores irmãos Anthony e Joe Russo (de Soldado Invernal e Guerra Civil) conjugassem todas as "pratas da casa" e destaques recentes em seu projeto mais ambicioso, que acabou resultando no segundo filme mais caro da história. E como aconteceu nos dois filmes do Capitão América comandados pelo clã Russo, o resultado é uma narrativa de longa extensão onde humor, ação, suspense e drama nem sempre conseguem um casamento muito conciliatório.
O resultado é um tanto desequilibrado. Thanos é, de longe, o melhor elemento dramático do filme. A forma que os Russo construíram Thanos deram origem a um vilão que rouba o espetáculo de seus personagens. De fato, é o único personagem com um passado explorado, um dos únicos que tem que tomar decisões difíceis e praticamente o único sem ter que dividir tempo de tela com cenas a mais que ajudam a construir o personagem.
Sim, pela segunda vez em sequência o estúdio acerta no desenvolvimento do vilão tanto ou mais quanto dos heróis, após o Kilmonger de Pantera Negra. É curioso ver como um filme nascido da união de super-heróis onde eles se reúnem em tão grande quantidade, mas grande parte deles simplesmente não interessa. Certamente temos oportunidade de saber como Gamora, Tony Stark, Thor ou Peter Quill sentem-se frente à situação, mas a grande maioria - e aí podemos incluir Peter Parker, T'Challa, Natasha Romanoff, Bucky Barnes, James Rhodes, Sam Wilson ou Groot - não tem qualquer motivação ou questões particulares com as quais lidar na trama.
E em meio à tentativa de, com a mão pesada, sempre tentar imprimir a marca registrada, como o humor galhofeiro, a salvação do mundo, a criação de nêmesis cada vez mais poderosos, que a dramaturgia do filme sai perdendo. Como dito acima, o drama da maioria dos personagens mal arranha o drama de Thanos. Tony Stark fala sobre casamento e filhos no início do filme, mas isso logo deixa de importar assim que as naves de Thanos chegam à Terra. Bem como a culpa que Thor sente, explanada por meio de diálogos, mas poucas vezes desenvolvida.
É um filme muito mais sobre o arquétipo do herói contra o drama individualista de romance moderno do vilão, que acaba tendo que competir com as muitas cenas de ação que muitas vezes tornam-se redundantes. É uma luta atrás da outra, uma luta atrás da outra, e tudo é sobre as Jóias do Infinito. Não se fala em mais nada, ninguém tem mais nenhuma questão a ser resolvida: não há vícios, derrotas, mágoas, arrependimentos ou mentiras a serem exploradas. É sobre a salvação do mundo, e pronto. Pode-se mencionar que Capitão e Natasha mudaram após a Guerra Civil ocasionada pelo registro - mas em tela, atitudes, decisões, é algo que jamais se vê.
A própria forma como Thanos se enfrenta com os heróis tornaria o personagem um tanto chato como o foi o Lobo da Estepe em Liga da Justiça: é forte demais, poderoso demais, não há chance contra ele, os maiores esforços são praticamente infrutíferos. Não fosse o vilão estar lembrando do próprio passado, tomando decisões difíceis e argumentando a favor de sua causa, sua invencibilidade épica e cósmica de nada serviria sem um personagem minimamente interessante por trás.
Mas Os Vingadores: Guerra Infinita não é um filme ruim. Dá para definir mais como um filme mediano com excelentes momentos e personagens. Difícil ficar impassível ao drama de Gamora, talvez o mais contundente e pungente de todos os protagonistas, um dos únicos arcos que de fato envolve relações do passado com o presente e noções de sacrifício pessoal. Dá para dizer que, de longe, o ouro do roteiro é a dinâmica de ressentimento, afeto e ódio criada com o antagonista.
E é claro, o final. Sem contar muito, o clímax do filme dispensa as piadas (ao menos em grande parte), troca o heroísmo suicida, estoico e romântico por noções de sacrifício pessoal e aborda em grande parte apenas com reações, efeitos de computação e trilha sonora o momento esperado após o feijão com arroz básico das piadinhas e pancadaria incessantes. É um dos momentos mais plásticos, catárticos e, por que não, operísticos que a Marvel já foi capaz de oferecer.
Mas ainda falta alguma coisa, analisando o filme no resultado final. A noção de protagonismo individual é perdida, com muitos personagens basicamente atuando como apenas um, e esse apenas um jamais consegue clamar a mesma empatia que seu antagonista. Muito tempo é perdido no que os espectadores tanto clamam por ver, sob risco de todo o afeto dirigido não resultar em decepção. A pavimentação do caminho, ou pacing, é acidentada, com o último e dramático ato tendo que sustentar a duras penas um filme que quer causar uma grande reação no espectador - ainda que o tempo todo "alivie as pancadas" ao longo do caminho. E esse sentimento de concessão a um escapismo barato, de fórmula feita, refeita e refeita mais uma vez, falha em elevar o filme a tudo que prometeu. O resultado é um Frankenstein entre o esperado e o desafiador, degladiando-se o filme todo de maneira indigesta. Mas sim, para os que tanto investiram, há momentos extremamente satisfatórios, mas eles são pura e absolutamente isso: momentos. E se a parte sustenta o todo, aí só o público dirá.
De qualquer forma, este filme explodiu minha cabeça, me surpreendeu consistentemente, e isso é ainda mais ampliado quando assistido com uma multidão empolgada e enorme numa sala enorme vibrando e aplaudindo juntos cada grande cena, cada momento épico de poder e aparição dos personagens, minha melhor experiência cinematográfica de todos os tempos disparado, esse sentimento não pode ser descrito e é uma experiência que só uma sala de cinema enorme, lotada e com um público empolgado, pode proporcionar! Viva o cinema! Tem certas experiências que jamais dá para ter em casa. E se agradou o Brum, que nem é fã desse tipo de filme ou do apelo das batalhas épicas em si, imagine quem é! Assisti o filme hoje, na estreia e hoje ainda é meu aniversário!
Mas boa crítica Brum, parabéns, espero que tenha assistido com um público tão bom quanto o meu também.
Me lembro de uma entrevista dos Irmãos Russo em que eles disseram que Thanos era, de certa forma, o verdadeiro protagonista do filme e a história seria contada muito de sua perspectiva.
Muito bom, para mostrar que filme de super heróis não são todos iguais.