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Críticas

Cineplayers

O tema da imigração contado de forma sóbria e contundente.

6,5

(Cobertura do Festival do Rio 2008)

Há algum tempo grande parte do dito cinema independente estadunidense vem focando seu olhar para o seu cidadão médio. Pequenas histórias que, na maioria das vezes, demonstram a fragilidade do cidadão perante situações limites. O Visitante se encaixa exatamente nesse perfil, ainda que com algumas surpresas que, se não fazem o filme ser brilhante, ajudam a torná-lo eficiente em sua proposta de tematizar a imigração.

A primeira surpresa deste novo filme de Thomas McCarthy, que já demonstrara talento em sua estréia em frente às câmeras, O Agente da Estação, é ver Richard Jenkins protagonista, no papel de Walter Vale, um professor universitário que, após perder a esposa, dedica-se a frustradas aulas de piano, como uma forma de manter acesa a chama da mulher, que era uma notável pianista.

Vale (que a princípio é sempre fotografado de costas, uma sutil referência à forma como encara a vida nesta fase difícil), é pego de surpresa ao visitar seu abandonado apartamento em Nova Iorque, o qual não visitava a tempos. Lá, ele encontra residindo um casal de imigrantes africanos ilegais, o simpático Tarek (Haaz Sleiman) e a arredia Zainab (Danai Jekesai Gurira). Os dois logo esclarecem que tinham alugado o apartamento e que não sabiam que tinham caído em um golpe.

Percebendo que o casal não teria para onde ir, Vale logo os convida a ficar no apartamento até encontrarem uma nova residência. Para sua surpresa, Tarek é músico, e logo este começa a apresentar a ele os segredos da percussão. A música os aproxima, e Vale percebe que o destino pode trazer novos caminhos para sua até então fragilizada vida, e quão farsesca estava sendo sua existência.

É quando o roteiro, do próprio McCarthy, se apropria do famoso ponto de virada para colocar injustamente Tarik atrás das grades e condená-lo a uma provável deportação. O filme passa então não só a questionar temas caros à América, como a imigração, como também apresenta-nos a personagem Mouna, em mais um extraordinário desempenho da israelense Hiam Abbass.

Mouna, mãe de Tarik, aparece sem sobreaviso no apartamento de Vale atrás de Tarik, seu filho. Ao descobrir que ele está preso, adentra então em uma espécie de limbo, onde o desespero de saber que o filho está atrás das grades é amenizado (se pudermos falar assim) com o afeto que cresce entre ela e Vale.

O Visitante poderia muito bem se resvalar no melodrama barato e cair nos velhos clichês, mas McCarthy conduz tudo com tanta sutileza e sobriedade que é impossível não se encantar com o filme. O desfecho, que poderia cair em truques tentadores de redenção, é de partir o coração mesmo fugindo das situações fáceis. E, enfiar o dedo na ferida de forma tão contundente e sóbria, é um grande mérito.

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