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Críticas

Cineplayers

A dupla Rogen/Goldberg permanece engraçada, mas já apresenta sinais de esgotamento.

6,0

Seth Rogen e Evan Goldberg são roteiristas de carreira recente, cuja parceria, iniciada em 2007, já acumula seis trabalhos (incluindo o vindouro The End of The World, que será a estreia da dupla na direção) e marcas bastante peculiares, dentre as quais se destacam a exploração do “bromance”, amizade entre homens sem limites de cumplicidade (algo certamente portado de suas realidades), e uma dose generosa de humor vulgar e escrachado. Pois em Vizinhos Imediatos de 3° Grau (The Watch, 2012) essas características são bastante acentuadas pelo diretor Akiva Schaffer (do popular programa de TV Saturday Night Live), que acrescenta referências a outras obras da comédia sci-fi – o que talvez tenha sido a motivação para o terrível título nacional, óbvia e desnecessariamente inspirado no clássico de Steven Spielberg – e acerta sempre que busca um filme apenas divertido.

Evan (Ben Stiller), sujeito pacato na pequena Glenview, Ohio, canaliza sua grande frustração pessoal em prol de um comportamento exemplar, como marido, vizinho e profissional.  Quando um misterioso crime na loja de departamentos que gerencia vitima um de seus queridos empregados, a ação policial não bastará para Evan e ele funda um novo grupo na comunidade, a “vigilância da vizinhança”. Ironizada entre os habitantes, a iniciativa só chama a atenção dos despreparados Bob (Vince Vaughn), Franklin (Jonah Hill) e Jamarcus (Richard Ayoade, devidamente caracterizado como um choque cultural ambulante), tipos estranhos entre si unidos pela mesma motivação: a fuga dos próprios problemas num grupo formado por homens, sem imaginar que se envolveriam numa investigação perigosa e interplanetária.

O cenário descrito acima é ideal para Rogen, Goldberg e Schaffer proliferarem seu olhar cínico sobre a sociedade média americana (representada por Evan) ainda no primeiro minuto, quando estabelecem que um emprego como gerente de loja é maravilhoso e mostram os esforços do protagonista em fazer amigos de origem latina e negros, para prova de cidadania. Essa fina ironia, porém, fica no primeiro ato. O grupo de vigilantes, por exemplo, é extremamente heterogêneo (racial e socialmente), mas explorado de modo caricatural, evidenciando a despretensão dos realizadores em propor alguma reflexão. E quando o único intuito é ser engraçado, eles acertam em cheio, tanto quando percebemos a mão de Schaffer ao ironizar a polícia (o sargento Bressman [Will Forte] parece saído de um esquete de SNL), como pela espontaneidade com que o elenco principal reproduz seus diálogos absurdos (e talvez por isso Stiller tenha sido escalado para o mesmo papel pela centésima vez).

O ritmo do filme oscila sensivelmente em seu desenvolvimento, quando os realizadores saem de sua zona de conforto e tentam, desastradamente, dar dimensionalidade aos personagens principais, abordando seus dramas pessoais. Schaffer é mais eficaz com sátiras, então ridiculariza um vilão com a cara do Alien e o corpo do Predador, cria uma atmosfera de suspense marota, envolvendo subtramas de conspiração, paranoia e aliens, que resulta num misto insólito de Eles Vivem (They Live, 1988), De Olhos Bem Fechados (Eyes Wide Shut, 1999) e Ataque ao Prédio (Attack the Block, 2011) e abusa do slow motion no clímax do filme, como os irmãos Wachowski fizeram em Matrix (Idem, 1999).

A parte final de Vizinhos Imediatos de 3° Grau evidencia a simplicidade do roteiro de Seth Rogen e Evan Goldberg e seu favorecimento pela direção de Akiva Schaffer. O diretor possui um estilo que realçou as características mais fortes da dupla de comediantes (que às vezes pega pelo excesso de vulgaridade – para desespero dos responsáveis pela legendagem brasileira, que chegaram a traduzir “he came in my face” como “ele me atacou”) durante o filme e proporcionou, com o auxílio do montador Dean Zimmerman, resoluções rápidas ao fim da história, garantindo o todo como uma experiência divertida apesar dos sinais de esgotamento de uma fórmula explorada em longas-metragens desde Superbad – É Hoje (Superbad, 2007).

Comentários (3)

Ianh Moll Zovico | sábado, 22 de Setembro de 2012 - 16:28

Parece ser interessante, irei assistir e depois comento aqui.

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