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Críticas

Cineplayers

Um brasileiro dirigindo astros de Hollywood? Não acontece sempre, mas o resultado aqui foi decepcionante.

5,0

Esta investida do diretor brasileiro Bruno Barreto no cinema popular norte-americano trouxe resultados no máximo medíocres. Contando com um elenco quase estelar, liderado por Gwyneth Paltrow e Mark Ruffalo, o filme perde-se entre os gêneros de drama e comédia. Foi vendido como a última opção, porém não sabe disfarçar, em muitos momentos, que gostaria de ser um drama. Provavelmente o lado comercial falou mais alto, e as piadinhas com um Mike Myers caolho no trailer certamente enganaram a muitos. Uma pena, já que, caso tivesse seu lado dramático mais desenvolvido, ainda que com a existência de um roteiro absurdamente clichê, o filme poderia ter se dado melhor nas bilheterias, pois conta com uma Gwyneth lindamente fotografada e belíssimos cenários.

A história é mais do que manjada: uma garotinha do interior quer ser aeromoça para conhecer o mundo, e candidata-se em um teste que lhe dará a grande oportunidade de sua vida, quando adulta. Ao mesmo tempo apaixona-se por um bom moço, e no final terá que escolher entre ele ou sua carreira. A história é bonitinha e é tipicamente o que o público médio espera no cinema, porém o filme se perde com um humor um tanto quanto sem graça, personagens desnecessários e a aparente necessidade constante de exibir os corpos de suas personagens femininas, o que levou Gwyneth, em entrevista posterior ao lançamento, dizer que o filme se preocupava, antes de qualquer outra coisa, em mostrar seu bumbum. E isso realmente acontece. Mas quando não apela demais, e apresenta cenas de bom gosto, Bruno consegue fotografar a atriz de forma estonteante e tirar o máximo de sua beleza. Pena que isso acontece com um roteiro tão banal.

A boa notícia de tudo isso é que o filme passa rapidinho, de forma descontraída, tem uma trilha sonora muito boa e alguns poucos momentos interessantes que agregam um pouco de valor ao produto final. A melhor das cenas é o momento família que Donna (Gwyneth) passa ao lado de seu namorado (Mark Ruffalo). Um momento aconchegante e que traz maior importância ao relacionamento de ambos. No mais, todo o roteiro é composto de diálogos medíocres e que nunca soam originais ou especialmente interessantes. Por ser principalmente uma comédia, destaca-se a parte visual. E realmente: o filme possui uma profusão de cores e lugares muito heterogênea, em certos momentos até exagerada demais – não é incomum tudo parecer um grande carnaval. Se isso é bom ou ruim? Depende de seu gosto pessoal.

Bruno Barreto, que já dirigiu filmes muito mais importantes, pelo menos aqui no Brasil, tem há muito tempo um pé em Hollywood, mas desprezou sua maior chance de se tornar “alguém” naquela indústria ao dirigir um filme de forma burocrática, não apenas aceitando os problemas do roteiro, como os aumentando ao dar prioridade a cenas desnecessárias sobre um maior desenvolvimento de personagens. Vai se saber qual foi a liberdade (ou a falta dela) que o diretor enfrentou, porém isso não justifica ter filmado um filme que não soma em nada, e ainda assim de forma tão banal, tanto que não há sequer uma característica notável em seu trabalho que valha a pena ser comentada. O homem que trouxe ao mundo o maior sucesso do cinema nacional de todos os tempos – Dona Flor – poderia ter feito um pouco melhor, mesmo com o material limitadíssimo.

Voando Alto iria ser lançado em 2002, mas por causa dos atentados terroristas em 2001 acabou sendo prejudicado e veio a ser lançado somente em 2003. Ele inclusive contaria com uma cena de treinamento sobre como lidar com terroristas, que obviamente foi cortada. Enfim, é um filme que deve estar jogado num lugar bastante tímido da sua vídeo-locadora, e que só deveria ser visitado caso não haja realmente melhores opções disponíveis. Vale sim para quem é fã de Gwyneth ou está curioso para conhecer o que um diretor brasileiro pode fazer com material consagrado nos Estados Unidos. Mas a chance de você sair decepcionado no final não é pequena.

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