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Críticas

Cineplayers

Não é preciso muito para dizer tanto. A Pixar entrega outra animação de primeira linha.

9,5

Se esta crítica não precisasse ter um limite mínimo de parágrafos e caracteres ela conteria apenas umas três linhas. Bastava apenas dizer que Wall-E, a mais nova animação da sempre criativa Pixar, é brilhante. Ponto. E isso aqui deixaria de ser uma crítica. Mas o fato é que Wall-E é cativante. Ele consegue ser belo, sensível, apaixonante, tudo ao mesmo tempo. Não que ele seja aquele filme que quebra paradigmas, que consegue ser altamente inovador e carregado de mensagens profundas e reflexivas. Ao contrário. Ele é simples assim, com um recado bem pontual e direto: a preservação do planeta Terra. Mas em Wall-E não é preciso que seja despejada sobre o público uma “verdade inconveniente”. Aqui, as emoções dos personagens dão o tom da história.

É incrível como a Pixar conseguiu fazer com que personagens, cuja grande maioria são robôs, seres supostamente insensíveis e inexpressivos, incluindo os dois principais que são o grande foco da trama, transmitissem tamanho grau de emoção. Isso, em primeiro lugar, se deve ao grande trabalho técnico do estúdio, sempre impecável na animação e que, creio eu, tenha atingido o limite aqui. O filme não é apenas belo e detalhado, com reproduções incríveis do espaço, mas também, como disse, a animação é capaz de prover alma àqueles pequenos robozinhos, principalmente através de seus olhares. Em uma história praticamente desprovida de qualquer diálogo durante toda sua primeira parte, é invejável como ela consegue ser tocante sem precisar dizer muita coisa.

Assim, é difícil não simpatizar com Wall-E, o personagem do título. Não só por causa de sua caracterização e fisionomia, mas suas ações, após anos de isolamento, por ter sido o único mecanismo que continuou ativo depois que a Terra foi evacuada, foram moldadas a um estado de sensibilidade. Responsável pelo dever (e passatempo) de atulhar todo o lixo restante por aqui, Wall-E tenta ver a beleza em toda aquela sucata a sua volta. Romantizado, ele se sente tocado por uma cópia do filme Hello, Dolly! (1969), o qual assiste incessantemente e escuta suas músicas. E é com a chegada de EVA, a obstinada robô com uma missão ultra-secreta, que a história se torna cada vez mais cativante.

A relação entre Wall-E e EVA (não há outro modo de dizer) é bonitinha. Entre os dois há apenas gestos, pois cada um só é capaz de dizer o nome do outro. Para o espectador, resta aquele sorriso leve no rosto ao ver como EVA vai se afeiçoando por aquela criaturinha anacrônica. Com a simplicidade da inter-relação entre os dois, a história evolui para chegar na sua mensagem. Pois é justamente assim que o filme é: simples. Apesar do roteiro não se resumir aos dois e conter até uma trama por trás com críticas bem-humoradas senão absurdas, o filme, com apenas sua beleza visual, seu mundo de elementos criativos (sempre uma primazia da Pixar) e seus personagens altamente simpáticos, consegue dar seu recado sem precisar fazer maiores elaborações sobre o assunto. Até os créditos finais são de uma sutileza fantástica utilizando uma arte muito bonita.

Com Wall-E a Pixar consegue transmitir uma sensibilidade geralmente encontrada apenas em produções animadas orientais, como A Viagem de Chihiro, Meu Vizinho Totoro, ou Persépolis. Realmente ele se diferencia um pouco mais de seus outros filmes e principalmente dos outros estúdios que hoje apelam para a computação gráfica. Não há aqueles bichos estridentes que berram, fazem caretas, peidam e arrotam pra tentar arrancar risadas. Existe uma concepção por trás provida de uma leveza poucas vezes encontrada. É mostrar que não é preciso muito para dizer tanto.

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