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Críticas

Cineplayers

Logan versus Wolverine.

6,0

James Mangold é um cineasta incrivelmente versátil. Ele já embarcou em praticamente todos os gêneros mais populares do Cinema, e jamais repetiu um deles em sua carreira. Sua estreia em Cop Land (idem, 1997) é uma incursão pelo gênero policial; Garota, Interrompida (Girl, Interrupted, 1999), um drama; Kate & Leopold (idem, 2001), a comédia romântica; Identidade (Identity, 2003), o suspense; Johnny & June (Walk The Line, 2005), uma cinebiografia; Os Indomáveis (3:10 to Yuma, 2007), o faroeste; Encontro Explosivo (Knight & Day, 2010), uma sátira ao cinema de ação; e, enfim, Wolverine – Imortal, um filme de super-heróis que, curiosamente, pode estar proporcionando uma nova perspectiva à carreira de um cineasta correto, mas também burocrático e, por vezes, omisso. Ele quase consegue alterar essa imagem por completo. Foi por pouco.

Há poucos meses, Mangold afirmou que havia se baseado nos filmes de samurais para adaptar o arco oriental dos quadrinhos Eu, Wolverine. Sua inspiração seriam os ronin (samurais sem daimyo, seu senhor) para representar a constante peregrinação do carcaju, característica esta inteligentemente inserida na saga do Wolverine, desde o primeiro ato. A ligação do mutante com o Japão é estabelecida de maneira imediata, quando ele é mostrado salvando o militar Yashida do efeito devastador da bomba atômica de Nagasaki.  Essa introdução épica não passava de um dos pesadelos de Logan, que sonha constantemente com situações traumáticas de sua vida centenária, principalmente com Jean Grey, morta pelas suas próprias garras.

Assim se constrói um verdadeiro filme de personagem. Tal qual um ronin, o protagonista é um homem solitário, sem destino. Segundo a cultura japonesa, um homem sem destino não tem sentido. O Wolverine não tem sentido. Ele é um ser imortal que se relaciona com pessoas mortais. Uma fera que se depara com sua humanidade quando perde um ente querido. Por esse motivo parte sem rumo, o que talvez explique seu envolvimento em conflitos mundo afora; essa seria uma tentativa de dar sentido à sua vida. Mas agora ele renega sua natureza bestial (negação esta metaforizada em cenas belíssimas e evidenciada pela repulsa ao codinome Wolverine). A ausência de Jean Grey em seus sonhos é tão presente que, quando acorda, Logan tem de apagar um objeto em chamas. James Mangold sabe exatamente o que quer.

Ao internalizar o personagem, o diretor lhe confere a complexidade dos quadrinhos. O comportamento arredio e antissocial do Wolverine, por exemplo, ganha outra perspectiva ao percebermos que ele carrega sua imortalidade com o peso de uma maldição. Desse modo, Mangold aprofunda-se com elegância na vida do herói, sendo capaz de conferir muito mais sentido à sua história do que fora o péssimo X-Men Origens: Wolverine   (X-Men Origens: Wolverine, 2009). Nesse sentido, o novo filme surge como uma possibilidade dos produtores   (o que inclui o astro Hugh Jackman) contarem a verdadeira origem do carcaju, já que não é possível simples e literalmente atirar o malfadado spin off do personagem na lixeira e no esquecimento de quem acompanha a franquia.

Conforme a projeção se desenvolve, Mangold é muito feliz em alternar boas cenas de ação com a adaptação da longa saga apresentada nas HQ’s para o cinema. A trama que envolve o clã Yashida e as ações ilícitas da Yakuza ganha as telas, ao passo que Logan é posto no curioso dilema de, finalmente, abrir mão de sua imortalidade. Porém, o ritmo do longa-metragem não resiste à sua duração e o roteiro logo se mostra falho. O romance entre Wolverine e Mariko é abrupto e ainda mais implausível se considerados os conflitos pessoais do protagonista. Entre as muitas concessões excessivas, a repentina vulnerabilidade do mutante é um elemento mal aproveitado (ele poderia ter sido exposto a perigos maiores) e que só é notada quando conveniente. Além disso, se o vilão foi capaz de deixá-lo tão vulnerável, por que não matá-lo de um vez?

Apesar de tais deslizes, James Mangold se mantém fiel à sua proposta intimista até o terceiro ato, quando comete a grande falha de permitir um desfecho cartunesco, com direito ao esgotado clichê do antagonista que explica todos os seus planos e motivações (tão previsíveis quanto a identidade do vilão). O roteiro de Mark Bomback e Scott Frank também derrapa feio ao deformar completamente a origem e a concepção do Samurai de Prata (um homem vestido numa armadura especial, não um robô gigante), atirando o icônico personagem dos quadrinhos no fim do filme, a despeito dos longos 126 minutos que os roteiristas tiveram para dispensar-lhe a devida atenção.

O resultado final é bastante positivo, pois a obra é divertida, eventualmente engraçada, e consegue adaptar o arco oriental dos quadrinhos do Wolverine de maneira orgânica e coerente com os eventos de X-Men: O Confronto Final (X-Men: The Last Stand, 2006). Porém, por não impedir que o controle do projeto lhe escorresse pelas mãos, James Mangold perdeu a ótima oportunidade de conceber um grande filme para o super-herói (e que seria ainda maior diante do parâmetro ridículo imposto por Origens: Wolverine). E se, por isso, o ato final se mostra demasiadamente genérico e desinteressante, o espectador não tem motivos para abandonar a sessão decepcionado, já que a cena pós-créditos é uma ótima degustação para X-Men: Dias de um Futuro Esquecido (X-Men: Days of a Future Past, 2014), tornando o finzinho de Wolverine - Imortal empolgante.

Comentários (8)

Guilherme Santos | domingo, 28 de Julho de 2013 - 12:20

nao gostei do filme anterior, mas quero ver esse parece divertido

Paulo Matheus | domingo, 28 de Julho de 2013 - 23:01

Entendi seus argumentos, Rodrigo. 🙂
Pra mim, o desenvolvimento da relação entre os dois não chegou tão rápida de acordo com aquilo que o filme é ou pretende ser: um divertimento, uma boa produção do personagem, ou algo para apagar a imagem ruim que X-Men Origens: Wolverine deixou no cinema, seja o que for.

Quero revê-lo e, se possível, deixar meu comentário sobre o filme aqui no Cp de forma mais ampla.

Rodrigo Torres | segunda-feira, 29 de Julho de 2013 - 12:18

Ah, sim, Paulo, por ser um blockbuster de super-herói, realmente ele dispensa um tempo razoável também nesse aspecto.

Escreva sim e mande o link. 😉

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