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X-Men - O Filme

(X-Men, 2000)
7,2
Média
873 votos
?
Sua nota

Críticas

Cineplayers

Ação mutante grupal em perspectiva histórica

7,0

Invocado o olhar da história mediante o tempo e em como determinada conjuntura artística e industrial propõe-se diante das especificidades de suas demandas. Assim surgira o filme X-Men (2000), de Bryan Singer, que seria o pontapé inicial para a onda de materiais de super-heróis baseados em quadrinhos que transformariam a indústria mainstream. Mesmo que a sementinha do mal tenha sido plantada em 1998 pelo espetacular Blade - O Caçador de Vampiros (Blade), é aqui no esquema dos mutantes que a estrutura começa a ganhar força. Com personagens mais conhecidos e mais apelo com público.

Ao olhar para este material em retrospectiva, percebe-se o quão faz falta estofo criativo em grande parte da leva que se seguiu do subgênero. Temos aqui uma fita altamente segura naquilo que quer. Desenvolve uma apresentação de personagens rapidamente. Os estabelece. Magneto e Wolverine. Antagonistas. O homem de passado traumático remetente ao nazismo – antissemitismo ariano de outrora como permanência de sofrimento na cabeça do cara, numa motivação coerente e bem defendida – e o cara sem passado perdido no tempo. Citações a personagens importantes como vampira (figura de poder que será chave adiante) e Xavier (narração inicial) completam os primeiros minutos. Temos os personagens chaves e em seguida a trama. O embate racial entre mutantes e humanos e seus respectivos lados no conflito. Bem definido e latente, e remetendo um tema caro ao material original da Marvel. E tudo isso estabelecido em menos de 20 minutos. Há uma preocupação em manter algumas características das figuras para a manutenção do interesse na futura formação de um grupo. Isso é crasso nas HQs.

Como cinema a termos de linguagem, temos um uso de cores em tons frios escolhidos mediante às ameaças que se apresentam, principalmente na figura do Magneto, com o metal a cercá-lo. E uma montagem correta nas escolhas e nos cortes concisos. Moldando decentemente a obra, que possui cenas de ação medianas para o que se propõe e que causariam furor adolescente somente a época de sua feitura. Por isso mesmo que é tão importante a apresentação das figuras e estas defendidas por um elenco de ponta. Aqui já há um início dum tesão pelas franquias. E ainda uma que em sua gênese tem a ação dividida em grupos, e o ideal era ter um bom elenco para compensar as divisões de tela. A intenção de alcançar uma objetividade pela competência.

Isso tudo encaixa perfeitamente na temática de caça macarthista proposta por um personagem escroto tal qual o senador Kelly (Bruce Davison), que visualiza os mutantes como ameaça onde podemos relacionar isto à caça do Senador norte-americano Joseph McCarthy, que fizera um pandemônio de perseguição àqueles que fossem simpatizantes do comunismo, ou meramente progressistas, nos anos 50 – grosso da Guerra Fria. Assim, o filme demonstra o mote central da série e como os personagens são moldados a reagir a eles. O que é uma preocupação invocada, visto que as questões vinculadas a isto são maiores e mais bem-acabadas que suas cenas de ação, onde estas últimas partes eram, sobremaneira, mais focadas por seus criadores noutras vindouras obras. Assim se seguiu a posteriori. Isto não é nenhum problema, desde que as cenas de ação sejam fodas pra cacete. Algo não lá muito usual. Então, este X-Men escamoteia a ação pelo discurso, narrativa e personagens que fazem o filme engrenar em seu desfecho.

Um desfecho de união de excluídos diante duma ameaça a outrem. Magneto quer aloprar nos humanos. O filme deixa clara esta dicotomia interna mutante entre radicalismo de uns e o apelo democrático doutros. Ambos lutando contra um racismo estrutural, cada um a sua maneira. Claro que o filme pende para o lado democrático e limpinho da coisa. Não visa a subversão de um Magneto como revolucionário, mas sim como ameaça a própria causa mutante por conta de seus excessos. Porém, o filme não se furta em assumir que este personagem assim o é por um histórico consequencial de desgraças causadas por humanos. Temos uma boa conjuntura política para um filme de ação, que se justifica de forma invulgar na trama.

Ao fim, uma tentativa de conciliação entre humanos e mutantes que não tardaria em falhar. Isto se repetiria contumazmente na cineserie. A intenção é pelo pacifismo. Defesa do mesmo dentro de um mosaico estrutural conflitivo. Quando surgira nos anos sessenta – e no passar das décadas a posteriori – estes personagens eram tratados através da receptividade social num período de abertura (política na cultura) a estes temas que eram introjetados como resposta de seus autores aos anseios políticos. O filme busca modernizar o debate mesclando o próprio num verniz de entretenimento das massas funcional e objetivo. Existe uma repetição estrutural de temáticas, tanto nos quadrinhos quanto na cineserie a ser montada, e ela acaba por se encaixar na necessidade repetitiva da luta contra o preconceito de raça estabelecido por séculos. Se são pautas repetidas por escolhas autorais que rendem visibilidade, que sejam usadas em prol do combate via o entretenimento citado. Mal não faz. Dentro desta perspectiva, a obra sobrevive tranquilamente ao crivo do tempo, mantendo-se firme nos debates acerca de suas escolhas. Personagens buscando expiação seja pelo tempo perdido, seja pelo tempo a ser achado ou simplesmente por uma desejada busca por uma tranquilidade que jamais vai chegar, porém, vale a pena ser procurada assim mesmo. Frente à utopia diante dos muros construídos pelos escrotos, nos sobra o orgulho em mantermo-nos vivos e combativos.

Comentários (1)

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