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Críticas

Cineplayers

Consciência debochada.

6,0
Junto ao ato de conferir Velozes e Furiosos 8 este ano (e pelo menos seus quatro antecessores), nos deparamos com mais este revival promovido por Vin Diesel, nos dando conta do espírito que cada respectiva franquia encabeçada pelo grandalhão assumiu. Atestamos assim um estado de consciência extremo sobre a construção da persona artística (?!) que o ator formou para si e, com isso, também sobre o público que está formando como seus seguidores. Claro, tudo isso são iniciativas representadas por produções nada difíceis do ponto de vista da digestão, bem pelo contrário, e é por esse fator que a funcionalidade (contestável, obviamente) dessas retomadas comandadas por Diesel estão muito mais em suas personalidades espirituais.

Espirituais no sentido de sentimento mesmo, ou personalidade própria, se for um termo que o valha. Pois não há como olhar para xXx: Reativado e recusar a admissão de que tudo o que ocorre ali foi pensado e executado na base do deboche. Pois ora, seria fácil para qualquer um realizar um filme tão despreocupado com sua própria lógica interna e afirmar “é tudo uma brincadeira”, não é? Mas e quando a brincadeira, independente de funcionar ou não, exala pelos poros e afirma sua legitimidade? Grande parte deste pensamento me remete ao ápice do gênero “filme de ação feito na malandragem”, lá em 2003 quando McG lançou seu As Panteras: Detonando e chegou ao ponto de redefinir o conceito da chamada zoeira.

Mas sim, até aqui estamos apenas divagando (no caso, apenas eu mesmo, e lhe agradeço por ter chegado até aqui) e esquecendo do que realmente importa: a diversão. Afinal, não há nada de diferente para se esperar da renovação de uma franquia de ação adormecida há mais de dez anos.

E também como era previsto, o fiapo de história que envolve conspirações globais e armas nucleares que precisam ser impedidas de destruir o mundo ou algo que o valha está ali apenas como mera justificativa para a existência da ação pela ação, de um entretenimento tão assumido e honesto em sua vagabundagem que, é preciso admitir, filmes como este Reativado conseguem divertir em casos onde o que teríamos seria unicamente a vergonha alheia diante do absurdo desmedido. Mas curiosamente, Reativado é até menos desmedido em sua ação do que se espera.

Claro, elas estão ali para serem absurdas, inverossímeis, mentirosas e qualquer outro termo que seja cabível, mas é notável já de início um timing levemente afiado dos roteiristas Chad Johson e F. Scott Frazier em caprichar nas gags populares e no flerte com a cultura pop que atinge de forma hilária o futebolista brasileiro Neymar Jr., péssimo até em interpretar a si mesmo, mas cuja ponta imperdível já abre portas imediatas para que Reativado diga o que quer. Da mesma forma, o diretor D.J. Caruso, sabe como filmar as acrobacias dos personagens nos conflitos corporais e aproveita com eficiência os elementos físicos em cena que irão auxiliar no cumprimento da diversão (as motos esquiando na água são o ponto alto). 

Em seu objetivo escapista, o filme não decepciona. O que certamente não permite que o filme passe na aprovação dos espectadores de olho torto, e eles não são poucos, certamente é a presença de um roteiro que se empurra com a barriga, que se leva a sério demais em alguns momentos (pseudo-dramas para o personagem de Diesel), e o pior de tudo, resvala num machismo descarado quando tenta ressaltar a suposta irresistibilidade de seu protagonista em uma cena de muito mal gosto.

Porém, recorrendo novamente a redundância, xXx: Reativado sabe como manter seu espírito brincalhão e debochado em alta durante boa parte do tempo com bastante consciência. A ação é competente, alguns personagens são carismáticos (e outros bizarramente caricatos, como Toni Collette) e, para os que se sentem próximos da franquia, há algumas boas sacadas na manga. E exigir mais do que isso é inviável.

Comentários (1)

Davi de Almeida Rezende | sexta-feira, 12 de Maio de 2017 - 21:01

Dar 6 para isso é ter muita boa vontade, hein? Para não dizer outras coisas.

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