Tive que assistir duas vezes Star Wars: Os Últimos Jedi antes de resolver escrever essa crítica. Trabalhar e produzir conteúdo sobre cinema é sempre gratificante, ainda mais quando falamos de franquias pelas quais somos apaixonados, com as quais crescemos assistindo. Dessa forma, é impossível que um fã de Star Wars escreva uma crítica isento de qualquer sentimento, mas, pensando bem, o crítico não é isento em nenhuma crítica que escreve, afinal, suas experiências e convicções fazem parte de sua análise de uma obra cinematográfica. Evidentemente aspectos técnicos são invariáveis, mas todo o restante é sim impactado. O que nos traz a esse emocionante e diferente Episódio VIII.
Após O Despertar da Força, meu maior medo era que a franquia se limitasse a sempre repetir o que já havia sido feito anteriormente, pois mesmo que o Episódio VII tenha sido competente e bem sucedido, o sentimento de que se tratava de uma "refilmagem" de Uma Nova Esperança era evidente, e incomodava muita gente. A repetição de ideias era muito pobre para uma história tão cheia de possibilidades como Star Wars é, e provavelmente sempre será. Foi com muita alegria, portanto, que recebi de Rian Johnson (Looper: Assassinos do Futuro) esse novo episódio, cheio de surpresas, quebras de paradigmas e novas ideias, sem deixar de reverenciar o clássico. É claro que, saindo da zona de conforto, o longa corre riscos, derrapa em alguns pontos, mas o resultado final é positivo.
A trama começa com a base atual da Resistência sendo destruída pela Primeira Ordem, iniciando um combate espacial em que Poe Dameron (Oscar Isaac), sozinho, enfrenta um Encouraçado dos inimigos. A investida funciona, mas muitos soldados perdem a vida no confronto, que está longe de terminar, uma vez que a nave do Supremo Líder Snoke (Andy Serkis) está no encalço da General Leia Organa (Carrie Fisher). Paralelamente a isso, somos levados ao encontro entre Rey (Daisy Ridley) e Luke Skywalker (Mark Hamill), que parece que não correrá tão bem quanto era esperado pela garota.
O grande trunfo de Os Últimos Jedi é o carinho com que lida com personagens icônicos como Leia e Luke, bem como a entrega de seus atores. Não quero dar spoilers nesse texto, mas Mark Hamill (Kingsman: Serviço Secreto) nunca esteve tão bem em um papel quanto aqui. O tempo fez bem a seu processo criativo e ao seu personagem. Luke é o responsável por trazer novos rumos à franquia, novos conceitos sobre a real necessidade da religião Jedi, sobre a origem da Força e quem de fato a possui. Há dois ou três grandes momentos que eternizarão o filme. Carrie Fisher (Escritor Fantasma), por sua vez, traz um peso para Leia que não havíamos tido a oportunidade de sentir no episódio passado. E é obvio que a perda da atriz é sentida em cada cena. Uma, em especial, me faltam adjetivos para descrever.
Se a reverência aos personagens consagrados foi um acerto, o mesmo não posso dizer da falta de cuidado com alguns novos personagens que haviam sido apresentados tão bem anteriormente. General Hux (Domhnall Gleeson) e Capitã Phasma (Gwendoline Christie) são exemplo crassos. O primeiro tornando-se mero alívio cômico da narrativa, já a segunda, reduzida uma ou duas cenas em todo filme. Já Finn (John Boyega), que era co-protagonista da aventura anterior, é reduzido a mera escada de uma nova personagem, Rose (Kelly Marie Tran), essa sim, bem trabalhada e que muito provavelmente cairá nas graças do público, com um arco interessante e cheio de subtexto.
Evidentemente, a jornada de Rey e Kylo Ren (Adam Driver) não seria deixada de lado, ganhando novos e interessantes contornos aqui. Esse talvez seja o arco mais difícil de se falar a respeito sem entregar algum ponto importante da trama, no entanto, basta dizer que seus interpretes mostram o porquê de serem as principais apostas para carregar a franquia. Daisy Ridley (Assassinato no Expresso do Oriente) e Adam Driver (Logan Lucky: Roubo em Família) seguem mostrando todo o seu potencial dramático em momentos marcantes para a obra. Além disso, sua dedicação a treinamentos e coreografias de luta é evidente em tela, fazendo a diferença.
O roteiro de Os Últimos Jedi é eficiente em trazer novos conceitos à saga, mas não podemos dizer o mesmo de ideias apresentadas recentemente e que são jogadas no lixo, sem qualquer cerimônia. É difícil dizer se houve mudanças de planejamento de arcos narrativos entre um episódio e outro, mas algumas quebras de expectativas soam deveras frustrantes e mal explicadas, especialmente a que envolve os pais da Rey e o grande vilão Snoke. Além disso, a introdução de novos personagens como DJ (Benicio Del Toro), soa conveniente e mal explorada, ainda que a Vice-Almirante Holdo (Laura Daern) tenha seu destaque e importância para a narrativa.
No que diz respeito aos aspectos técnicos, esses são incontestáveis. Desde o design de produção e figurinos até a trilha sonora fantástica de John Williams (A Lista de Shindler), que volta a soar marcante em muito momentos, recriando temas utilizados anteriormente e criando novos, destacando cenas e guiando nossas emoções, tal como a Força faz com seus personagens. Mas é a fotografia de Steve Yedlin (Não Olhe Para Trás) que merece grande destaque, se destacando entre os próprios filmes da franquia e criando frames que dão vontade de enquadrar e levar para a parede de casa.
No fim, Star Wars: Os Últimos Jedi não é tudo que poderia ser. Um filme que comete erros, mas que quando acerta, acerta em cheio, emocionando fãs, e empolgando até mesmo audiências pouco envolvidas com a saga. Vale lembrar que esse é o capítulo do meio de uma trilogia, ou seja, há muito a vir pela frente no próximo longa, e o vislumbre de novas ideias faz renascer a chama dos fãs da franquia como nunca. Ou pelo menos deveriam.
Crítica originalmente publicada em meu blog pessoal:
http://www.cinefiloemserie.com.br/2017/12/critica-star-wars-os-ultimos-jedi.html
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