A evolução do homem e a evolução do cinema.
2001 - Uma Odisseia no Espaço (1968) é uma das obras mais aclamadas da sétima arte. Ao mesmo tempo, é julgado (injustamente) como um filme "chato", "maçante" e "desconexo". Ora, mas quem disse que um filme precisa ser dinâmico e com uma história mastigadinha para ser bom?
Uma das maiores virtudes do cinema é justamente proporcionar prazer a seus espectadores através de imagens; é fazer você sentar durante X minutos em frente a uma tela e apreciar cada detalhe daquela película. É preciso desligar-se do mundo e dar atenção apenas ao que está sendo filmado - é um erro terrível assistir a filmes enquanto olha o celular, e 2001 precisa de toda atenção para ser visto em sua plenitude. O filme é extremamente contemplativo. A escassez de diálogos e uso recorrente de cenas monótonas criam um ambiente favorável ao filme, afinal, são apenas dois homens e uma máquina dividindo um mesmo espaço por muito tempo enquanto o restante da tripulação está hibernando. Não encaixaria se a montagem fosse mais ativa.
Durante os primeiros 25 minutos de filme não há uma fala sequer. Vemos a aurora do homem em lindos planos gerais de um belo cenário; vemos a vida dos primatas que lá habitam. É mostrado a nós, depois de certo tempo, a chegada de um objeto estranho: um monólito. O que é aquilo? Os macacos, agitados, querem tocar e entender o que está acontecendo, enquanto ouvimos uma trilha sonora misteriosa. Em seguida, há um contra-zenital que coloca o sol, a lua e o monólito alinhados no mesmo plano. É possível inferir que aquele estranho objeto, de alguma forma, deu inteligência àqueles que entraram em contato com o mesmo. Ao som de Danúbio Azul, vemos um primata usando um osso, de forma agressiva, quebrar outros ossos. Pronto: agora, eles são superiores aos demais. Eles têm armas. Podem escravizar outros grupos.
A transição dos anos é um daqueles momentos que te faz lembrar o porquê do cinema ser tão especial. Após usarem um osso para espancar outro macaco, esse objeto é jogado para cima e se transforma em um satélite.
Tudo, absolutamente tudo, em 2001 é meticulosamente arquitetado. Os efeitos visuais do filme são tão perfeitos que em momento algum soam datados. O cenário clean das salas dão uma elegância a mais ao filme. O branco, impecavelmente branco, junto a um tom chamativo de rosa das cadeiras, criam um ambiente futurista. Mais uma vez: os detalhes futurísticos foram muito bem aproveitados; desde o figurino até as realizações mais complexas, como as gravações no espaço.
Mas afinal, qual é a premissa de 2001? Em suma, uma equipe de astronautas é enviada a Júpiter a bordo da nave Discovery para uma missão. Ao todo, são 5 homens (dos quais 3 estão hibernando) e 1 máquina. David e Frank são os dois humanos acordados e têm como companhia (além de um ao outro) o perfeito computador HAL 9000, que mesmo sendo uma máquina, notamos sentimentos vindo dele - sobretudo orgulho. HAL fala com prazer sobre suas qualidades; que nenhum computador dessa série jamais cometeu um erro - e que jamais viria a cometer um, porque foram projetados para prestarem o melhor dos serviços. Além de orgulho e prepotência, HAL também sente medo. Quando está prestes a ser desligado por conta de suas falhas, HAL admite a Dave (agora, o único humano vivo da tripulação) seu medo. "Stop, Dave, I'm afraid".
Nós sabemos que HAL falhou. Sabemos que suas falhas custaram vidas, mas não tem como não sentir certa empatia por HAL naquele momento de dor. Todo mundo pode errar, inclusive máquinas. E para uma máquina "perfeita", errar é o maior dos pecados. Fracassar em sua missão é inadmissível. Assumir seu erro, então, é impossível.
Não tenho a pretensão de compreender cada fragmento de 2001. Não é necessário. Durante 140 minutos fui imerso a uma viagem através da história e do tempo – e da minha maneira, com as minhas interpretações, cheguei a uma conclusão que definitivamente não é certa. Tampouco errada. Não existe certo e errado ao término desse filme. Viajar anos-luz, encontrar consigo mesmo, ver o monólito em seu quarto e renascer como o filho das estrelas. O que isso quer dizer? Quer dizer que é cinema. É arte. É compreender o incompreensível.
Abstenha-se do seu lado puramente lógico e entre de cabeça nessa jornada. Ao término da obra, resta-nos apenas aplaudir 2001 de pé e agradecer a todos os envolvidos pela maior obra que a sétima arte já teve o prazer de assistir.
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