"Dedico esse escrito ao Dr. António Egaz Moniz, Nobel de Medicina e aos seguidores desse insigne lusitano, entre os quais Quentin Tarantino que permanecem colocando em prática a leucotomia desenvolvida por ele."
Demetrio Islauskas Demostenes Ivanoff
Ao verificar a existência de críticas excessivamente positivas e o número cada vez mais crescente de um enxame de fãs eu venho a me perguntar em que consiste o Cinema de Tarantino...
Como apreciar essa sua obra se parece que salvo alguns momentos extremamente bem resolvidos ela nos traz ainda o gosto amargo de suas obras anteriores tais quais Bastardos Inglórios, A Prova de Morte, Cães de Aluguel, etc. Ela não possui nenhuma intenção de se equilibrar, já que parece estar plenamente satisfeito com a evidente facilidade mercantil que sua carreira abraçou as catadupas. E parece que ele aborta qualquer tentativa de imprimir uma qualidade equilibrada em seu cinema, já que as falhas são tidas como seu estilo, sua essência. Tarantino não se encaixa em nenhum estilo, portanto os que os criticam são néscios, quando na realidade a falta de estilo é como um escudo de defesa em que se encapsulou tal criatura. Aqui temos o cerne do problema, Tarantino não é um cineasta (perdoem-me os cineastas por falta de vocábulo melhor faço uso desse) de estética. Ele quer fazer os que as novas gerações chamam de pop art, mas essa arte se torna tão nua com a ação e a coreografia que ele deseja. No entanto Tarantino encontra sua força nos seus personagens, nos diálogos, na amplitude de sua ação e suas cenas. Essas qualidades tão raras em Kill Bill, aqui ao menos estão mais presentes.
Mister se faz recordar que Bastardos Inglórios já se ancorava em um falatório e esses falatórios são essenciais ao cinema (perdoem-me de novo) Tarantinesco. Cada uma de suas cenas ali está precisamente trabalhada, estruturada, disposta na narração com a preocupação permanente de um suspense, e jamais, jamais mesmo temos a certeza que eles se desvendarão com algo não previsto. Ai que surge o maior defeito dele. Seria bom às vezes frustrar essa expectativa que solucioná-la com um banho de sangue que a razão refuta. E justamente nesse filme tivemos alguns momentos de um caminhar sem tensão dramática ou réplicas famosas não curiais. Mas ai de repente ele cismou de relembrar o personagem do saudoso Brandão Filho na Escolinha do Professor Raimundo: “Eu estava indo tão bem...” E para inserir um tiroteio todo fora de propósito leva seu projeto quase que a bancarrota (falo da morte de Calvin Candie).
Outra marca Tarantinesca é o culto da vingança, a violência gratuita, que alguns aceitam sobre o pretexto que o diretor torna a violência feia quando realizada pelos ditos vilões e bela quando realizada pelos protagonistas (Que absurdo??!!! Como se a violência pudesse carregar algum tipo de beleza). Mesmo King é visto fora de sua real dimensão, já que é tratado com humor. Ele mata quando podia prender os ladrões e assassinos pelo dinheiro. Mas vemos que o faz por dinheiro. Ora vários crápulas também assassinaram seus desafetos ou não diante de suas próprias crias. E diziam fazer o seu ofício (Le Penn). Nós o perdoamos, pois afinal ele é anti-escravagista e o faz apenas por dinheiro, sem paixão. O horror de seu ganha pão é então desculpado e a vida segue. É esse Tarantino que resolveu narrar suas loucuras e seu modo de pensar no passado (remoto ou não) que me preocupa. Depois que ele resolveu seduzir a juventude, se inscrever na história recente, a brincar com os anacronismos, sua violência se torna menos aceitável ainda, mais desencaminhada... Um tipo talentoso que esconde uma raiva e deseja embebedar os jovens com o intuito de torná-los autômatos fanáticos.
No entanto não se deve julgar uma obra de forma apaixonada, sem um distanciamento, para não inserirmos um pré-julgamento injusto. Não gosto de sua proposta, de seu cinema (perdão de novo). O resultado visto nas telas e a mensagem veiculada são aceitas, já que nos referimos a um tempo de barbárie. Ele cria personagens críveis (ainda que inusitados – um alemão dentista caçador de recompensas?), e encontra intérpretes dedicados. Waltz novamente brilha, Caprio está centrado e Samuel L. Jackson vive a maior interpretação de sua carreira: Stephen. Infelizmente para o filme e para nós Jammie Foxx e Kerry Washington não encontram o tom certo em vários momentos. Confesso que o filme me convenceu até o momento do desaparecimento do Dr. King e de Calvin Candie. O problema é que esse descartar estúpido de tais seres, esse descontrole irracional de Tarantino fez com que o filme não mais se levantasse (ainda que Stephen fique lá). Quando Tarantino aprender a não ser tão impulsivo (o certo seria dizer néscio) encontrará o equilíbrio necessário para legar a nós uma obra de certo quilate. Caso não o faça marcará sua vida como um roteirista talentoso que desperdiçava suas boas ideias dirigindo-as e tentando moldá-la a sua rasa visão da existência.
a dedicatória no começo é das coisas mais geniais desse site hahahaha
Infelizmente você não entende o cinema do Tarantino, bom, pior pra você.
O vovô tem mais de 90 anos??? Caramba. Bem ele sabe argumentar. A dedicatória é genial (e maldosa). Gostei de ler, apesar de não concordar com quase nada. Ele radicaliza gente.
asuashsuahsauasuas, e o povo besta ainda cai nessa desse fake.
A questão principal aqui é que esse vovô é a mais nova descoberta do humor.