Os anos chegam e querendo ou não cada vez mais me encontro afastado do teatro das atividades públicas. Não posso também me dedicar a nenhum estudo continuado, tampouco lobrigar no horizonte a possibilidade de criar, materializar sonhos, devido é verdade ao estado de minha saúde, mas, sobretudo por estar atrelado a péssimas condições financeiras, destino de todo honesto cidadão desse país que comete o crime de envelhecer. Assim na solidão fico restrito a refletir sobre mim, ou melhor, a rememorar os tempos idos. Parece ser esse o único emprego que eu posso fazer de meu ócio, já que o corpo em si já não corresponde também às perspectivas da alma. No dia de domingo, logo após o repasto vesperal, quedei-me a poltrona e assisti uma preciosidade deixada em casa sabe-se lá por qual alma bondosa. Confesso que me levou as lágrimas e não tenho o intuito aqui de postar uma crítica sobre tal obra. Pretendo mais tecer um breve agradecimento. Em um mundo onde cada vez mais impera obras que visam ao nada edificante eis que esse pequeno notável Selton Mello ousa materializar a vida dos que ainda ousam sonhar. Não só resgatou através de seus personagens um mundo não massificado, como também demonstrou carinho e respeito por aqueles que vivem de certa forma a margem desse mundo consumista. E ver Paulo José na tela dando corpo e voz aos que insistem em não trilhar o caminho fácil foi algo até surpreendente demais para alguém como eu que já viu de tudo. E eis na tela Jorge Loredo(um ícone que jaz esquecido), Moacir Franco(que é a meu ver um artista completo: bom cantor, excelente comediante, bom roteirista), Ferrugem (que o Brasil amou enquanto criança, e que se tornou quase uma aberração por ter simplesmente crescido), etc. Queira Deus que tu vigore por longo tempo no cenário brasileiro e possa realizar com coragem outras obras corajosas como essa. Simples, profunda. Um suave vento que se não serve para levar para longe as nuvens da ignorância, ao menos amenizaram minhas perspectivas quanto ao futuro. Conseguiu o efeito de me tornar um basbaque diante do picadeiro imaginário que criastes. E estivemos sem o perceber diante de um picadeiro. E várias vezes nos revelou esse truque tão claro e que ainda produz a mágica diante dos olhos infantis. Éramos nós e a trupe (postados como num picadeiro) diante do Delegado Justo. Quando Nei falava não havia ali uma mesa. Todos também estávamos postados num picadeiro. É esse Brasil que jaz esquecido que talvez chegue diante dos olhos dessa geração pela primeira vez.
Não é um grande filme. Tem suas limitações. Mas foi realizado com tanto desvelo e suas intenções são tão nobres que avaliá-lo com uma nota menor que esta seria um crime.
Muito obrigado
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