A queda de “O Vôo” está inteiramente contida em sua primeira cena. Robert Zemeckis vindo de um cinema de experimentações justamente desprezadas pelo seu resultado artificial ao extremo (O Expresso Polar, A Lenda de Beowulf, Os Fantasmas de Scrooge) nos desnuda dois corpos vivos em carne e osso. Denzel Washington nu em um quarto de hotel e ao seu lado um moça de virtudes mínimas com os peitos de fora, realça suas nádegas carnudas ao vestir uma tanga para uma plateia de voyeurs (nós que assistimos). E para complementar o cenário decadente: drogas, Coca e álcool espalhados por todos os cantos. Mórbido.
Quando abandonam o ambiente em que passaram a noite, a sensação de decadência e mal estar permanece. Não se tratavam de dois amantes, apenas Comandante e aeromoça dando vazão a um velho refrão que não quer abandonar essa geração: Sexo, drogas e rock’nroll. Algo que quer excitar os sentidos e aniquilar a mente.
Posteriormente teremos quinze minutos de cinema brilhante. Um drogado vai encontrar forças não se sabe aonde para livrar sua tripulação e os passageiros de um acidente fatal certo, se valendo de um improvável looping, um planar improvável e uma aterrissagem miraculosa próxima a uma Igreja. Juro que nesses meus mais de 90 anos jamais tinha visto algo filmado com tamanho realismo e tensão. Zemeckis ainda possui seu talento de direção intacto. Não sei por que cargas d’água não faz uso dele.
Após a aterrissagem uma dúvida paira no ar. Trata-se de um herói ou um vilão.
Infelizmente o que poderia se transforma em uma grande história se encaminha de maneira maniqueísta numa apologia ao uso de drogas em detrimento do álcool. Ora, não são ambas drogas???
Sem querer soar puritano, lógico que a primeira cena não visava chocar gratuitamente quem assistia ao filme. Parece nos mostrar que após um desregramento, basta fazer uso de uma carreira de pó que tudo volta ao normal. São cerca de duas horas de enrolação para nos fazer crer que o álcool é terrível. Já a cocaína pode ser benéfica.
Creio que o andar da carruagem me leva a crer que nem Deus ou nem toda a produção colombiana de drogas salvará a carreira de Zemeckis se ele não retornar para o que fazia de melhor até o inicio desse século. E esse é maior desastre que presenciamos na tela. Supera até aqueles brilhantes momentos passados dentro do avião.
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