Astronauta, me conte quem você é mais uma vez
Ficção científica é um gênero que acabamos aceitando mais o uso de diálogos expositivos por poder nos contar como funciona, como é esse mundo que estamos conhecendo.
Aqui, a exposição da vida pessoal de Roy (Pitt) é narrada durante todo o longa, e no início já vemos duas maneiras que James Gray e Ethan Gross encontram para colocar esse recurso (narração). Primeiro com um Voice Over em que Roy nos conta sobre como foi a escolha de ser um astronauta e morar fora da Terra há tanto tempo e como foi uma decisão que por toda a sua vida sempre combinou com a maneira que ele via o mundo. (Dessa vez e sendo a única durante todo o filme, esse recurso funciona.) Depois, já numa sala de reunião e na Terra, os militares perguntam pra ele como é ser filho de Clifford McBride (Jones) e dessa maneira não é bem realizada. O roteiro de seus sentimentos não parece natural, verdadeiro. E Pitt não consegue nos convencer do que fala. Sentimentos reprimidos sobre seu pai trazem uma atuação contida e muito pelo olhar que mais lembrou seus piores trabalhos nos dramalhões datados dos anos 90 (Encontro Marcado por exemplo) e pior, soa como uma caricatura de seu personagem. A partir daí até o final, o longa vira um reduto de exposições rasas e bregas de seu personagem principal, no meio de uma caça até achar o seu pai.
Falando em caça, o filme têm elementos de ação em alguns momentos e são totalmente fora de coesão, nexo. Primeiro com uma cena de perseguição de carro contra os piratas do espaço, que é mal dirigida e nos deixa perdido sobre o que está acontecendo e depois com uma cena digna de 'Depois da Terra' (O que foi aquele macaco??) com efeitos especiais ruins. Ambas as cenas são longe de serem emocionantes e demonstram um roteiro perdido no que está tentando transmitir.
Ao decorrer dessa jornada, Roy encontra alguns personagens coadjuvantes (Colonel Pluitt - Donald Sutherland/Helen Santos - Ruth Negga) que passam e vão embora sem ter nenhum peso para a história, sem cativar ou parecer ser importante. Eles falam exatamente quem eles são e o que sentem, parecem que até estão lendo um script.
Já Clifford McBride (Tommy Lee Jones) surge por meio de depoimentos gravados, onde nos conta como foi sua experiência por viver ao longo de tantos anos em outros planetas e as atitudes que teve de cometer para seguir com o plano de descobrir vida inteligente extra-terrestre. São bem fracos esses depoimentos, ditados. Além da sensação de parecer ter sido feito em um estúdio com o pano verde atrás. Mais uma vez os efeitos especiais não funcionaram aqui.
O longa continua sua jornada, e eu já estava bem fora do filme, distante, só esperando o encontro de pai e filho.
Que bom, porque chegamos ao melhor momento do filme, o tom de desabafo implementado por Jones encaixa muito bem com o filme, e o roteiro consegue se destacar com a segurança que Clifford tinha em dizer que abandonar mulher e filho nunca foi algo que pesou em sua cabeça, nunca se preocupou com essas questões pequenas que os afligiam. Seu propósito o moldou a ser forte o suficiente para esquecer qualquer outro assunto e tomar a atitude que for para seguir buscando seu objetivo.
Após a passagem de Clifford pelo filme, temos o fim do longa com um Roy McBride mudado em relação ao início do filme, ele não irá mais rebaixar seus sentimentos ou como ele dizia: ''envolver outras pessoas numa vida como essa'', a partir de agora ele vai viver e amar, e sim, continuou brega e nada verdadeiro ou original essas palavras de Pitt em seu desfecho.
Parece que James Gray perdeu a mão nos últimos anos, tanto em Z quanto em Ad Astra e não sei qual será a próxima abordagem desse diretor. Só espero que relembre suas melhores obras, a sensibilidade e elegância de Amantes e Little Odessa por exemplo.
Ad Astra não é um bom filme. É muito expositivo, previsível e perdido durante a maior parte do tempo. Conta com atuações ruins, um Brad Pitt engessado, efeitos especiais ruins e com um sentimentalismo brega. Salva pelo belo início com Voice Over e por Tommy Lee Jones.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário