Crítica de Crash - No Limite(2004)
Quando olhamos para uma cidade, quando falamos em diferentes raças, culturas e costumes vivendo lado a lado, fica dificil entender como nosso dia a dia, essa realidade fica tão distante. Talvez porque vivemos em uma bolha, que fecha em um círculo de pessoas do cotidiano: família, amigos e colegas de trabalho. Essa condição afeta nossa socialização, acabamos nos acostumando a ver as mesmas pessoas, mesmas culturas, os mesmos costumes.
Diversos personagens fazem parte desse filme, a diversidade étnica que ambienta as grandes cidades é colocada pelo diretor por vários arcos de drama superficiais e com certa caritura dos personagens. Vemos o que importa para cada personagem, seja cuidar da filha pequena, seja cuidar do irmão mais novo, cada arco se desenvolve a partir das prioridades dos personagens.
Não é de maneira natural, Haggis não consegue "vender" essas diferentes realidades para termos algum apego pelas suas histórias. Oposto de Babel, filme realizado dois anos depois, por Iñárritu, que nos coloca no drama vivido por aqueles personagens, com ideias e convicções originais e não em um sentimentalismo genérico que Crash gera durante o filme, ajudado por uma péssima trilha sonora composta por Mark Isham.
Interpretações são desregulares por aqui. De fato, é difícil manter um nível alto de atuação com tantos personagens no filme. O diretor tenta dar certo espaço para cada um, mas nada que seja bem distribuído ou que seja de maneira evolutiva, afinal, os diálogos são fracos. Fracos porque poderiam ser a principal ferramenta do filme para nos mostrar toda a questão social/racial levantada, além de poder conter com uma certa acidez, algo crítico para tratar sobre esses fatores, fazer seu argumento ganhar uma visão de autor e dessa maneira se 'desgrudar' do genérico, ponto já abordado acima.
O plot do filme, em que um acidente de carro coloca frente a frente alguns desses personagens, é bem realizado, tem uma ótima interpretação de Matt Dillon a seu favor, que convence como um policial corrupto, e como uma pessoa impactada e transformada por um incidente. Apesar da bem realizada e interpretada cena, o acidente de trânsito, o acaso, não consegue ser a porta que escancara toda a tensão racial que o filme tenta nos mostrar. O motivo? Esse quadro social de diversos personagens não convence, seu roteiro não chega aonde sua premissa esperava.
O mais difícil é entender a quantidade de prêmios que essa obra problemática levou, ser o grande vencedor do Oscar de melhor filme é mais um dos absurdos que a Academia nos proporcionou. Olho para Crash e vejo uma ideia interessante, com belo elenco, que se prejudica em desenvolvimento de personagem, trilha sonora, fraca direção e uma fotografia que 'brilha' em certos momentos, no sentido de assustar o espectador com tamanha cafonice de seu diretor (James M. Muro) em tentar impactar através de clarões durante cenas emocionantes.
Filmes que abordam conflitos a partir das diferenças, da desigualdade que enxergamos em uma sociedade multiétnica, são sempre bem-vindos. Aqui, apesar dos erros, vale a experiência. Talvez seja um daqueles filmes prejudicados por serem considerados pelos festivais maiores do que realmente são.
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