Um filme barulhento e tempestuoso sobre a megalomania e o instinto de competição.
Voltemos à década de 70. Os Estados Unidos enfrentam a crise do petróleo, surgem os primeiros movimentos em prol do meio ambiente, as últimas colônias portuguesas na África alcançam sua independência e os jovens se revoltam contra os padrões comportamentais, nessa que é considerada a era do individualismo. É nesse contexto histórico que o filme nos apresenta Bill Gates e Steve Jobs, sob a visão de seus fiéis escudeiros: Wosniak e Ballmer.
A história começa próxima ao seu final cronológico, artifício muito utilizado nos filmes da década de 90, mostrando os protagonistas no auge de suas reputações, já consagrados por seus grandes feitos. Logo após, somos transportados no tempo para a época de suas juventudes, onde vemos o grande abismo existente entre os jovens universitários e os empresários que viriam a se tornar.
O filme adota em vários momentos estrutura semelhante à de um documentário, falso documentário na verdade, mas a respeito de uma história verdadeira. Existe toda uma pegada de filme independente, trazendo benefícios como a liberdade narrativa que foge aos clichês, mesmo que infelizmente eles ainda existam, em especial no desfecho.
Seguimos a trajetória de Jobs e Gates simultaneamente, acompanhando passo a passo seus projetos. É como se houvesse uma rivalidade entre os dois mesmo antes de conhecerem e estivessem apostando uma corrida. Ao compasso que Jobs desenvolvia e encontrava uma nova visão para o revolucionário computador pessoal desenvolvido por Wosniak, Gates desenvolvia um interpretador de linguagem Basic para o Altair 8800, capaz de torná-lo uma fagulha para a revolução dos computadores pessoais.
O grande trunfo do filme está na personalidade de seus protagonistas, que atraem muito mais do que seus feitos. De cara conhecemos o lado ambicioso de Jobs, conhecido por seus discursos cheios de entusiasmo e segurança, assimilando-se a um governante populista. Arrogante e pretensioso, vai perdendo pouco a pouco o afeto das pessoas a sua volta, a medida que deixa seu lado humano de lado para tornar-se um ícone. Desprender-se da sua humanidade era de fato seu objetivo de vida. Ter a mente livre, fugir as regras, ser um marco na história, possuir a essência de um artista genuíno era tanto quanto queria. É provável que esse tenha sido o motivo que o levou a jamais aceitar sua filha, o sentimento de ser responsável por alguém, de ter uma obrigação.
Gates, que aparece menos do que deveria no filme, quase um coadjuvante se comparado a Jobs, era completamente diferente de seu rival. Nunca deixou que questões pessoais interferissem no seu trabalho, sua frieza nesse ponto era incalculável. Mas, quando o assunto era a Microsoft ele se tornava um leão. Possuía uma determinação que não conhecia fronteiras. Não a toa ele foi capaz de passar a perna em Jobs, roubando a liderança da corrida em cima da linha de chegada.
A grande carência do filme está por traz das câmeras. O desconhecido Martyn Burke dirige fazendo uso de uma mão muito pesada, principalmente na trilha sonora. Apesar de bem selecionada, o seu excesso é extremamente irritante, sendo usada sem a menor necessidade em várias cenas. O desejo de causar impacto em quase todas as cenas torna o filme cansativo e chato em diversos momentos.
Fracasso no lançamento e febre em sua distribuição logo depois, assim como “Clube da Luta” (Fight Club, 1999), lançado no mesmo ano, Piratas do Vale do Silício é considerada uma obra prima pelos fanáticos em tecnologia. Muito longe disso, mas possuindo grandes méritos pela sua ousadia, é um filme que vale a pena ser assistido pelo seu conteúdo apresentado.
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