O estilo adolescente no filme funciona como isca. Você vai lá e assiste mais uma vez a mesma história, porém agora com personagens e níveis de conflito diferentes.
Oitava série apesar de correr em círculos funciona em alguns aspectos: a personagem principal de fato entrega uma atuação que convence o espectador de sua realidade e a tecnologia finalmente aparece como um atenuante importantíssimo na lógica desses tipos de filme.
Primeiro vamos falar de Elsie Kate Fisher, a adolescente que com a mesma idade da sua personagem arrancou elogios da critica especializada, recebeu uma indicação ao globo de ouro e dois convites para participar de filmes nesse ano de dois mil e dezenove. E sua interpretação como Kayla é mais do que digna de arrancar esses elogios, a menina mostrou que sabia o porque de estar ali e fez por merecer. Ela é como o reflexo de uma geração incubida de status e relações sociais sob variáveis que vão sempre privilegiar o mesmo padrão de consumo, enquanto seu corpo, seu rosto e sua prole vão diretamente na contramão desses modelos. Basicamente a personagem esta na pior idade, cheia de espinhas, não tem mãe e parece estar farta das conversas com o pai durante o jantar. Este seria o palco ideal para uma talvez remodelada no gênero? Sim, mas como já diz o ditado, “nem tudo o que reluz é ouro”.
Logo de inicio é possível notar uma qualidade acima da média na apresentação dos dilemas e válvulas de escape do filme. Essa construção mais detalhada implica uma expectativa pra quem assiste, e seja por bem ou por mal, se é criado um imaginário onde tudo aquilo funciona. E talvez esse seja o maior problema de Oitava Série, começar um filme de gênero apresentando um novo panorama sobre as mesmas discussões para posteriormente cair na armadilha de responder tudo do mesmo jeito de sempre.
Sem muitas delongas, o filme vai ligando a tecnologia e a vontade da menina de se expor ao mundo de forma tão natural que mesmo com a limitação dos artifícios usados a história permanece fluída. Em vários momentos somos entregues a passagens que contemplam essa onda de tecnologia e mudanças, como é o caso do fato da protagonista manter todas suas reflexões gravadas e arquivadas no Youtube, a ferramenta mais usual de compartilhamento de vídeo dos dias de hoje. Nesses momentos que o filme abre seu leque de possibilidades, o que mais pesa sobre as interpretações é algo bem próximo ao que "Black Mirror", "Westworld" e "Mr. Robot" tentam mostrar com seus shows. E é mais ou menos essa mecânica que percorre todo o trajeto que acompanha a mudança da menina do ensino fundamental para o médio, como se fosse um último contato com o que ela era para o que viria a se tornar.
Mas todas essas ideias, nova roupagem e ousadia na narrativa parecem fascinantes só quando descritas, na prática não sai nada como esperado. Muitas coisas ficam em aberto e toda a construção da personagem na escola, e principalmente nos seus vínculos com quem não fosse o seu pai são reciclados de outras estruturas.
Como antecipado, a história meio que se torna repetitiva, cansada e muito próxima de tudo que já vimos em quaisquer filmes adolescentes americanos. O que poderia ter se tornado um vindouro respiro para o gênero acaba se auto sabotando numa cadeia de eventos sem sal e sem açúcar. O que resta é uma boa ideia, bons argumentos e aquela vontade imensa de dar um soco na cara do diretor por não ter aproveitado todos os ingredientes da sua receita. Paciência.
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