Entra em cena um novo Scorcese. Um homem que antes de diretor é um cinéfilo inveterado, que além de fazer suas próprias obras-primas, resgata e divulga obras de outros realizadores menos afortunados que ele. Talvez faça isso porque saiba que além de talento ele tem a sorte de ser aclamado por cada um de seus trabalhos, tanto os bons quanto os ruins, contando com fartos orçamentos para trabalhos que produtor nenhum de Hollywood botaria fé.
Além de entregar ao mundo Os Bons Companheiros e Depois de Horas, adaptar o livro de Brian Selznick foi talvez uma de suas atitudes mais nobres como cineasta. A obra-prima literária "A Invenção de Hugo Cabret" é uma jóia que irradia primor narrativo e cinema de tal forma que deixa qualquer leitor ávido por ver a mesma história ganhar as telas. Se trata de uma narrativa invetiva que cruza a aventura de um menino órfão em busca do legado do seu pai com a biografia de George Mélies, um dos pioneiros da sétima arte, responsável pelo surgimento dos efeitos visuais e do cinema fantástico.
O mérito de Selznick é grande, mas são notáveis as marcas de qualidade deixadas por Martin. Do mis-en-scéne das cenas de perseguição até ao trabalho de direção de atores. Aspecto favorecido pelo elenco que conta com figuras como o comediante Sacha Baron Cohen, que domina as cenas em que aparece e funciona como um eficiente alívio cômico para o longa, e Ben Kingsley, que mesmo com sua extensa carreira entrega um de seus melhores trabalhos como George Mélies.
Recordista de indicações no Oscar 2012, tudo indica que ganhará as categorias técnicas. Principalmente Direção de Arte, executada pelo mestre Dante Ferreti, veterano que já possui dois Oscar no currículo. A trilha de Howard Shore, elemento essencial do filme, também poderá levar o prêmio de sua categoria.
Aos cinéfilos, o filme entrega um dos mais fascinantes retratos de gênese de sua mais querida arte, mostrando com delicadeza e inspiração os primeiros passos do homem naquilo que parecia ser apenas mais um número de ilusionismo. Aos demais espectadores, além do conhecimento precioso transmitido, lhes é presenteado o deleite de uma irretocável e inesquecível obra do gênero aventura.
Das lágrimas derrubadas durante o filme, vem a reflexão: Será que a mente fantástica de Mélies imaginaria que mais de cem anos depois de realizados, seus trabalhos seriam exibidos em cinemas do mundo inteiro em três dimensões?
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