Michal Haneke é uma das figuras mais provocativas do cinema contemporâneo. Tendo um gosto especial por deixar o público desconfortável, o diretor austríaco sempre suscitou intensos debates a cada novo trabalho. O Sétimo Continente, mesmo sendo o seu primeiro filme, não pouca o espectador de cenas quase excruciantes e uma trama que choca até na sinopse. Nela, está guardada uma idéia de genialidade ímpar na história do cinema.
Se é do desconforto que os filmes de Haneke impressionam o nos levam a pensar, neste sua primeira obra, é o mesma sensação que nos deixa aborrecido e decepcionado durante a projeção. A insistência do diretor em contar sua história unicamente através de elipses e simbolismos prejudica gravemente a experiência. Mesmo sendo esses elementos nobres da linguagem cinematográfica, a forma repetitiva e pouco criativa como eles são usados revelam um diretor ainda em começo de carreira, com seu estilo e talento ainda em estágio de maturação.
Se a excecução é defeituosa, a idéia original é preciosa. Não é difícil imaginar essa mesma história adaptada para o teatro ou até recriada em um novo roteiro. Surgida a partir de uma notícia lida pelo diretor, ela traça um perfil de uma rotina, uma séria de ações e rituais cotidianos que escravizam uma família de classe média alta austríaca. O restante da trama, mesmo sendo véridica, possui clara intenção alegórica, mostrando o súplício do cotidiano levado a um extremo.
Se a estranheza provocada em parte do públcio pelo fato de ser um filme alegórico não é o bastante, marcam presença alguns elementos os quais não sabemos se estão ali por desleixo ou intenção. A começar pelas atuações: A forma como os personagens reagem e se expressam é muitas vezes confusa, por vezes contida,por vezes exagerada. Possívelmente vestígios de atuações amadoras ou de uma direção de atores amadora. A quase ausência de diálogos acaba distanciando o espectador dos personagens, esfriando o filme ao máximo, impedindo que qualquer emoção seja sentida.
Difícil em todos os sentidos, O Sétimo Continente pode ser visto como uma obra de arte assinada por um grande criador. A diferença é que sendo um filme de cinema, uma idéia genial não supera a necessidade de uma boa execução. E é isso que falta para perpetuação da obra. O brilhantismo contido na idéia está aí, para ser refilmado e adaptado, mas o filme hoje é esquecido e eclipsado pelo restante da filmografia de Haneke.
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