Pode até parecer clichê de filme americano, mas é na morte que passamos a entender melhor a vida
Tropa 2 chega arrasando nas salas de cinema nacionais, expectativa muito grande criada em torno do filme, que possui uma qualidade ainda maior que todo o fuzuê criado com seu lançamento. Agora mais maduro, a trama dá uma aula de sociologia e política para seu público, além de jogar toda a realidade na cara do povo.
A obra possui uma narração filosófica bastante atraente, Cap. Nascimento já entrou para o Hall dos maiores personagens da História do Cinema. Wagner Moura demonstra todo o seu talento na interpretação do personagem, foi o ator mais do que certo para o papel. Frieza, fúria, apreensão, coragem, o artista incorporou seu personagem de forma perfeita, o elenco escalado todo está de parabéns, é 10 com estrelinha para eles. E mais ainda para José Padilha, o mais inteligente dos diretores nacionais e talvez até latino-americanos, construir um roteiro desses utilizando essa realidade foi fácil para ele e o fez com maestria fenomenal.
Ouso dizer que Nascimento é o herói mais humano já criado pela Sétima Arte, é muito difícil aturar seus inimigos atingindo tudo que lhe é importante, inclusive sua família. Nascimento diz que "bandido bom é bandido morto", e a população o apoia. Fica do lado dele na chacina em Bangu I enquanto os políticos o odeiam. O filme mostra também como o Direitos Humanos atrapalha todo o trabalho da polícia, Nascimento tem de enfrentar isso, inclusive entre seus familiares. Só com Nascimento aplaudimos a cena em que ele faz o que todos nós temos vontade de fazer: encher de soco e pontapés um deputado corrupto. Sentimos suas aflições e a maior vontade que dá durante as duas horas de projeção é pular para dentro da tela e dar um fim em quem, como ele mesmo diz, está na "esquerda".
TE2 aponta suas armas agora para o jeito sujo de fazer política, para as milícias, enquanto o primeiro visa apenas os bandidinhos(e já foi excelente) o segundo se aprofunda na segurança pública, no caos causado pela corrupção, quem é do bem logo é exterminado, e esta obra de arte vale cada centavo por cada segundo que estamos sentados naquela poltrona, se destaca muito pelo fato de reconhecermos situações reais bem trabalhadas durante as filmagens, é um verdadeiro choque.
Eu transformei o BOPE numa máquina de guerra
Nascimento "cai para cima" e logo no início da projeção, após a maravilhosa introdução que só foi possível pelo belo trabalho de montagem, sabemos por quê. Ele fez com que o antes esquecido Batalhão parecesse mais com o exército americano e acabou com o tráfico de drogas. Foi criticado por isso, se afastou da família por causa disso, virou alvo da bandidagem por peitar, como mero subsecretário de Inteligência, o governador, o Secretário de Segurança e a Assembleia Legislativa. Conquistou todo o povo carioca, mas ao fazer isso, ele fortaleceu os milicianos, que ganham dinheiro protegendo os moradores de comunidade deles mesmo, e quem está por trás disso? A PM, deputados e o governador. Porém, foi apenas um pouco do que há no Rio de Janeiro nos tempos contemporâneos, todos sabemos que as milícias são comandadas pelos salafrários da política e da polícia brasileira, e isso fica escancarado nos nossos olhos.
Ou seja, poderia ficar aqui horas e horas dissertando sobre a verdade por trás de tudo, sem dúvida merece ser alvo de estudos e debates por professores, sociólogos, políticos, além de ser duas horas de bastante diversão apimentada, promove uma discussão que deveria ser sempre lembrada.
Quer me fu...me beija
José Padilha foi mestre na elaboração deste filme, todos os atores estão da média para cima, os cenários e as cenas bastante realistas, a trilha sonora está empolgante e se mostra uma essência nas cenas de ação e diálogos fortes. Com certeza há muita gente se doendo graças a sua ousadia e genialidade, parabéns Padilha, e acima de tudo, obrigado por protestar através da arte, um trabalho excepcional que já foi iniciado pelo primeiro longa. Vale destacar também a imitação do apresentador e deputado Wagner Montes além de outras frases que fazem rir, misturando choque com a realidade, drama, ação e humor na dose correta.
Enfim, não perca a maior obra nacional de todos os tempos, vá ao cinema para dar uma força no "caidinho" Cinema Nacional, que apesar de lançar vários lixos tóxicos nas telonas durante os anos, ganhou muitas sobrevidas com TE1, Cidade de Deus e TE2. Isso prova que o Brasil sabe fazer filmes, tem diretores, atores e roteiristas para isso, acertando no tema e na forma como mostrá-lo então podemos disputar palmo-a-palmo com a Indústria Hollywoodiana, devemos acompanhar o ritmo cult dos europeus, e é isso que esta magnífica obra faz com uma temática ainda mais forte e pesada, podemos dizer que tem a filosofia dos melhores filmes do Velho Mundo e a ação dos anos 80 de Hollywood, mas sem clichês.
Após o agonizante e espetacular desenrolar da projeção, pode-se chegar á conclusão de quem são os verdadeiros culpados pela situação que nos encontramos hoje, Padilha fecha com chave de ouro ao mostrar o Congresso Brasileiro e falar que há como mudar isso, mas levará anos, quem dera se houvesse um Nascimento para fazer o que ele fez na CPI final e levar a trama a um estonteante fim relativamente feliz. É o nosso sonho, Tropa 2 foi um imenso marco na História de todas as Artes e na História brasileira. Caveira neles!
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