Quatro cineastas juntaram esforços para produzir esta obra, vendida como um filme de horror com perspectivas políticas e sociais; ambientada em cinco momentos diferentes da história do Brasil pelos séculos XIX, XX e XXI. A temática usa do racismo e da escravidão como forma de passear pelos demais temas abordados na obra.
O longa é subdividido em cinco arcos, todos tratando-se da história de uma fazenda em uma ordem decrescente temporalmente - primeiro em 2018 e finalizando em 1818 - em que fenômenos sobrenaturais e estranhos ocorrem no local.
O primeiro arco é justamente o ponto mais fraco do filme; o que é bastante prejudicial à obra, visto que ele é longo e inicia a obra; dando a impressão no espectador de que o filme se manterá naquela linha. Nele, um homem perturbado trabalha em 2018 defendendo uma fazenda de invasores que praticam vandalismo e usam o local como point de drogas e sexo.
O arco até é bastante promissor, com direito a uma bela cena de tensão à escuridão, mas o que parece é que o roteiro deste primeiro ato foi escrito especificamente para que o diretor pudesse colocar suas visões políticas e sociais (há referências à maconha, homossexualidade, o impeachment de 2016 - utilizando-se da falácia do espantalho, na verdade). Tudo é meio confuso; soa inverossímil e há uma cena de chacina em que as vítimas (aquele esteriótipo de jovens ligados à esquerda) são mais burras que uma minhoca.
Felizmente, para o espectador, esse primeiro ato fraco é deixado de lado para os excelentes arcos dois e três. No segundo, um casal de trabalhadores negros vai até à fazenda em busca de emprego; mas logo se veem diante de circunstâncias perturbadoras. No terceiro; duas irmãs vivem os resquícios da escravidão na mesma fazenda.
Esses arcos foram de um capricho elogiável; desde a história criativa à sua execução. A maquiagem, os cenários e os figurinos da época são bastante competentes, dado o orçamento e o roteiro consegue criar a tensão necessária para manter o espectador atento. Deslizes são cometidos (mais uma vez, talvez, por insistência do cineasta em colocar temas tabus à tona) - neste caso, uma cena de feto abortado sem qualquer propósito - não há nenhuma reflexão sobre o tema, o que dá a entender que ele foi simplesmente soltado ali de forma inócua.
O quarto ato começa bem; mas é falho e confuso (o entendimento de algumas cenas fica quase a critério do espectador). No quinto; o tema começa a se esgotar (e a duração do primeiro arco começa a fazer efeito); sendo difícil não torcer para que a obra enfim, termine; o que ocorre de maneira quase protocolar.
Sobre as atuações; competentes. O ator de maior destaque em cena (até pelo seu personagem) é Fernando Teixeira, interpretando o proprietário da fazenda, Sr. Vieira; aparentemente uma entidade sobrenatural. Teixeira rouba a cena sempre que aparece.
Existem falhas técnicas; mas que por se tratar de um filme de baixo orçamento seria até injusto pegar no pé (há uma cena em que se percebe visivelmente que o intestino é na verdade uma corda pintada de vermelho, risos). É preferível elogiar o trabalho dos envolvidos; porque nas demais cenas, o trabalho é extremamente competente - no arco dois, a maquiagem das feridas de um dos personagens é coisa de primeira.
O arco 2, inclusive, é o ponto alto do filme. Tenso, com pitadas de horror e personagens levemente assustadores.
Aliás, o filme vende-se como um terror, mas assustar mesmo; não assusta. De qualquer forma, trata-se de uma obra diferente das realizadas no Brasil e tem seu valor; embora esbarre nas limitações criativas de seus cineastas; bem como em seus vícios em jogar algumas convicções pessoais no filme; de maneira porca.
A tendência é melhorar.
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