Seu nome é Tarantino, Quentin Tarantino; e sua arte, obra de arte!
Primeiro e importante aviso: o trailer, é a coisa mais enganadora que eu já vi. Aparentemente, induz que o filme se trata de uma comédia, o qual não é e nunca chegou perto disso. Não sabemos ao certo se foi jogada de publicidade do filme, uma vez que transparecendo uma comédia, protagonizada por Brad Pitt, chamaria mais espectadores não conhecedores do cinema para abarrotar os bolsos da Universal e dos patrocinadores; ou se Tarantino quis que assim fosse para nos surpreender sobre a magnitude da obra, indubitavelmente brilhante. A verdade é que subestimei o trabalho precocemente diante de tal marketing, o que resultou numa sessão de cinema sublime, ou melhor, numa das coisas mais lindas que eu já presenciei na sétima arte.
Ah se Sergio Leone estivesse vivo! Ele deixou um legado e um “filho”, que, infelizmente para sua obra como um dos maiores gênios do cinema, é melhor do que o próprio “pai”. O primeiro capítulo é indiretamente sua cria, saltando aos olhos dos cinéfilos. Simplesmente brilhante. Tarantino já declarou em outras oportunidades que The Good, The Bad and The Ugly (1966) é o melhor filme já feito em sua opinião.
O domínio que Tarantino tem sobre o filme é assombroso. Um roteiro surreal e rico em detalhes, reconstruindo a história da Segunda Guerra Mundial de maneira pop (ou pulp, para seus maiores fãs), porém não fora dos limites do aceitável. Uma direção milimetricamente desenhada, embasada num conhecimento de outros filmes considerados clássios e outros alternativos, bastante costumeiros da cinematografia do diretor. Resumindo: a sua obra-prima!
Quanto ao elenco, não tem a mesma força das outras obras de Tarantino, mas é eficiente na sua totalidade. Christoph Waltz, como o “Caçador de Judeus”, nos presenteia com uma das melhores performances que eu vi nos últimos anos. Mescla carisma e humor no papel do Detetive e Coronel alemão Hans Landa. O Oscar já é dele! Brad Pitt, que faz mais o papel de chamariz de marketing, por sua vez interpreta uma figura esquisita, um caipira americano de certo modo engraçado, que dá o toque cretino e Yankee aos Bastardos. O filme é todo criado em cima de estereótipos, a fim de economizar tempo para as cenas com diálogos longos.
Com relação à trilha sonora, esta é um caso a parte. Inicialmente o projeto previa que ela seria inteiramente desenvolvida por Ennio Morricone, que não pode se comprometer devido a outras responsabilidades. Mesmo assim, pode-se considerar que seja a melhor trilha que o Tarantino já montou. A arte de encotrar músicas perfeitas que se encaixam sublimemente às cenas é tarefa árdua, indiscutivelmente. Pode-se se assemelhar ao trabalho de montar efeitos visuais ideais para uma música, neste caso me refiro aos clipes. Tarantino sempre foi um mestre em vasculhar sons perfeitos, tanto entre músicas conhecidas quanto desconhecidas, de culturas diferentes e de trilhas de filmes passados. É o que ocorre em Bastardos Inglórios, em que há referências a clássicos do cinema, mais precisamente dos chamados spaghettis westerns. A música inicial é trazida do clássico faroeste protagonizado por John Wayne, O Álamo, seguida de inúmeras sonoridades feitas por Ennio Morricone (mais ou menos seis), canções alemãs, trilhas de Charles Bernstein (já utilizadas em outros filmes do diretor americano) e de clássicos do pop, como Billy Preston e a viciante Cat People de David Bowie, esta última de pura arte no que se refere à adequação da cena do último capítulo protagonizada pela personagem Shossana. Resumindo, mais um ponto primoroso neste trabalho artisticamente perfeito. Escolhido a dedo, é um disco a ser ouvido até nossos ouvidos não aguentarem, o que duvido que isso aconteça.
Não quero me estender, até porque escreveria umas 10 paginas (possivelmente, num momento posterior, eu possa vir a enriquecer tal crítica). O que quero deixar bem claro é que Tarantino é o maior gênio do cinema atual, que com suas características de nerd e de perfeccionista alcança patamares de gênero e imortalidade. Ainda que Pulp Fiction seja talvez o filme mais cultuado do cinema contemporâneo, e o meu preferido do cineasta, Bastardos Inglórios é o seu melhor trabalho e a sua obra-prima, até então.
Desculpem-me os que não são adeptos à violência e à inconsequência criativa e genial de Tarantino, mas não sabem o que estão perdendo. Eu sou mais feliz por apreciar a sua arte.
Sublime, simplesmente sublime!
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