Este comentário visa divagar sobre as peculiaridades e qualidades que conseguem catapultar esta película junto as já consagradas obras-primas de Scorsese. Com “os bons companheiros” é explorado novamente o gênero máfia de forma a expor a organização de forma clara e concisa, junto ao desenvolvimento do personagem de Ray Liotta dentro da máfia, as influências sobre suas visões, o “ poder” registrado a icônica imagem da organização. Há uma busca de um porquê durante a película, que tenta explanar as razões do envolvimento dos personagens ( e também põe abaixo a tão superficial amizade que dá nome ao filme). Mas por que voltei à década de 90 para explicar as virtudes de Os Infiltrados? Todos estes elementos citados acima fazem daquele um filme único sobre a máfia, mas se o diretor retornasse ao gênero que se consagrou, faltava denovo à carreira de Scorsese filmes de demonstrasse a sua ousadia, visto que o diretor já vinha embalado em uma safra de filmes corretos, mas sem a personalidade do diretor ( Gangues de Nova York, O aviador).
Em sua introdução, com um simples monólogo de Jack Nicholson, imagens resgatadas sobre uma certa época em boston e ao fundo um bom ode ao velho rock( entrelaçados à uma fantástica montagem da parceira de longa data de Scorsese neste ofício, Thelma Schoonmaker) foi possível definir toda a imagem de Frank Costello, tanto sua visão sobre o que é correto como sua visão sobre a violência ( assassinatos junto à um sorriso diabólico de Jack Nicholson), e também sobre a importância do personagem: Todo o filme girará em torno dele. Mesmo com algumas subtramas, todas se direcionam ao modo que Frank controla tudo e todos ao seu gosto. O maior exemplo deles é claro, Colin Sullivan, que se mostra justamente um simples objeto ou produto que Frank usa em seu bel interesse, nunca se importando em demonstrar afeto ou alguma imagem paterna, mas esta é justamente uma das motivações de Colin a se submeter à Costello. Seja pela falta de uma imagem masculina (mora com sua avó) a curiosidade, admiração, busca por recompensa, Colin se infiltra Na Polícia Estadual de Boston para ser um informante infiltrado de Frank.
Enquanto isto, Billy Costigan aparece como um simples aspirante à carreira na polícia, mas marcado pelo passado sujo de sua família. Enquanto Sullivan é exaltado por sua jornada sem falhas, Billy é criticado. Na cena com Mark wahlberg já é mostrada a força das aparências e também como o personagem de Dicaprio irá sofrer por tentar não ser um produto de seu meio, e como sua escolha de se manter infiltrado na máfia Irlandesa irá mantê-lo sempre em uma fina base de questionamentos sobre sua própria ética, até onde é justo ele participar de crimes e práticas dentro da máfia. Este conflito de Billy é interno, demonstrado de forma visceral por Leonardo Dicaprio de forma que somente com a expressão de Billy em seus momentos angustiantes já é possível compreender, não só seus conflitos éticos, mas também de sua personalidade (tendo o tempo todo tem que se mostrar explosivo, incisivo e sem medo).
Interessante também notar as escolhas do diretor. O filme realmente começa quando o destino dos personagens principais já estão traçados, por isto o nome “The departed” em referência a decisão dos dois personagens de deixarem suas próprias identidades para partir em algo que acreditem. A fantástica montagem e fluidez da história conseguem por exemplo dar veracidade a todos os acontecimentos, ao mesmo tempo que tornam o filme dinâmico, e tornam plausível, por exemplo, a cena do primeiro diálogo de Billy com a personagem de Vera farmiga, apenas com alguns cortes intercalados demonstrando por poucos segundos o que Billy realmente faz e seu sofrimento. Esta também representa a única figura que demonstra um pouco de equilíbrio e o que lembra uma vida normal ao universo predominantemente masculino e cheio de embates tanto físicos como psicológicos de Os infiltrados.
Deixando a história um pouco de lado, e começando a falar mais diretamente sobre os elementos que regem esta obra-prima do século XXI, tornando este filme uma grande sinfonia regida pelo maestro Scorsese a qual não se destoa em nenhum minuto. Sobre atuações por exemplo, há pelo menos 3 atuações diferenciadas que se elevam a um patamar bastante alto, como Leonardo de Caprio em um soberbo e explosivo Billy Costigan; Jack Nicholson em um violento e icônico Frank costello e que consegue ainda ser engraçado em momentos únicos de humor negro ( um bom exemplo é a cena em que brinca com uma mão decepada ) sempre com novas facetas geniais que põe facilmente este entre os grandes personagens interpretados pelo velho Jack ( junto à McMurphy, Mevil Udall dentre outros); e Mark wahlberg que de forma surpreendente entrega um personagem persuasivo, sarcástico e extremamente inconveniente ( máquina de soltar a palavra fuck ou fucking a cada minuto), com personalidade forte e sempre sem deixar se corromper. Já as outras atuações estão corretas mas nunca roubam a cena. Há de se falar também sobre os diálogos extremamente inteligentes, e a montagem rápida em vários momentos, mas que nunca deixa nenhuma informação à desejar (uma das maiores qualidades do filme, porque filmes com montagens rápidas tendem a ser confusos), sempre acrescentando ao ótimo roteiro.
The departed é isto, um argumento convincente, uma execução mais do que excelente (desde a perfeita introdução até a cena final com um zoom em direção a Massachusetts State House, a qual proporciona um momento extremamente irônico) , passando por momentos brilhantes e diálogos perfeitos, mostram finalmente toda a capacidade do diretor o qual atingi o ápice de sua carreira, e consegue arriscar depois de fazer vários filmes apenas corretos.
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