Ao chegar à locadora para alugar o recente filme ganhador do Oscar de melhor Longa Estrangeiro- A Grande Beleza- uma sensação de obra prima, grande película não saia da minha mente. Há meses, resguardava o momento exato para apreciar a temática existencialista, a reflexão latente e crua sobre ser e estar vivo e não ser conformado com o tempo presente. Enfim, as expectativas, tanto influenciadas pelas críticas como pelas premiações, ergueram essa visão precoce e prejudicial e, por uma amarga ironia do destino, dantesca,o seu resultado findou numa catástrofe quebrada, inesperada e sofrível.
Esse tipo filme, em si ,detém na sua temática uma matéria prima vasta e bastante sensível, visto que abordar a insatisfação do tempo presente e confrontá-la com o passado inacabado reverbera, muitas vezes, em momentos sinceros, nostálgicos e descompromissados. Remete-se, diretamente, por exemplo, ao agradável e belo "Meia Noite em Paris" e ao inesquecível "Morangos Silvestres", sendo ambas as obras, coroadas com uma redenção assumida, uma humildade, e uma simplicidade extremamente bela e humana. Enfatizo tais aspectos pelo fato de serem essas as parcelas que tornam esse tipo de filme verossímil, real e, principalmente, próximo do espectador, pois a temática exige isso logo de cara.
A Grande Beleza, desde o início, prioriza o luxo, a ostentação, não somente na temática mas na construção do filme inteiro, e uma incoerente necessidade do protagonista em se convencer de que aquilo que vive não é, de fato, o que ele quer. Quando na verdade o personagem exala cronicamente uma pedância repugnante, num aristocracismo exagerado que incomoda muito durante todo o filme, deixando a léguas de distância a sua proximidade da real busca por uma redenção nostálgica. O episódio no qual ele leciona práticas comportamentais perante um velório é sofrível e é, exatamente, naquele momento que ele sela a sua antipatia e a sua derrota, não conseguindo de nenhuma maneira conquistar o espectador. Ao término da cena ficou-me a impressão de que o diretor não foi informado que a necessidade de sentimento puro e uma dose de reconhecimento humano juntamente de uns passos para trás seriam fundamentais na construção do personagem.Não foi e passou muito longe disso.
As festas que ocorrem no seu apartamento em frente ao coliseu romano, não conseguem exprimir o vácuo humano perante o ''Aparato'' escrito pelo próprio protagonista. Salvo uma agradável exceção na qual há uma diálogo entre ele e uma de suas amigas, onde a vida dela é posta na mesa e despida de qualquer encoberta. No mais, os encontros dos amigos que serviriam para enaltecer esse hiato social não funcionam, nem mesmo a personagem anã que grita no caricatural e não carrega carga dramática alguma.
O filme começa muito bem mas cai assombrosamente depois dos primeiros 40 minutos.Um dos motivos, ao meu ver, que contribuíram para essa queda de ritmo, talvez, se encontre na repetição chata, desnecessária e cafona da movimentação da câmera, lembrando de cara as propagandas filmadas para campanhas publicitárias de grandes corporações empresariais. Aquela câmera aproximando-se e distanciando-se ,artificialmente, é de doer a alma e anula a verossimilhança e o humanismo do filme. Anula pois o espectador ao ver a cena, em vez de admirá-la passa a imaginar ela mesmo sendo feita e gravada e a necessidade do diretor em mostrá-la poética e artística.Tentativa frustrada. O resultado ficou brega forçado e frio.
O que é relevante no filme são as grandes belezas de Roma, que ficaram, certamente, em segundo plano. Num filme de mais de duas horas de duração, sequer 30 minutos não exploraram como deveria a beleza da capital italiana. Porém, os momentos em que é retratada já vale a tentativa, pois a bela cidade tinha muito mais beleza para ser engrandecida no filme e não foi...
No mais, o filme não mereceu o Oscar. O prêmio teria sido muito mais bem aproveitado se tivesse sido conferido à '' A Caça'' - esse sim um grande estudo social. A Grande Beleza é audacioso, ambicioso, artificial e muito petulante. Faltou uma boa dose de naturalidade, de intimismo, simplicidade. Uma obra que nada friamente no parnasianismo cinematográfico esqueceu de repassar e enaltecer a sua premissa inicial de retratar a inspiração para a vida. Talvez, se o poeta Alberto de Oliveira procurasse uma cineasta para o seu soneto ''Vaso Grego'' pudesse encontrar, no âmago desse filme, um projeto cinematográfico que bebe no hermetismo estético e no vazio de sentimento.
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