I Wanna Hold Your Hand:
Poucas vezes fui tão surpreendido, poucas vezes saí tão empolgado de um filme. Eu sempre digo que a sétima arte deve ter um papel educativo e formador, mas não há nada melhor do que sair de um filme e se sentir feliz.
“I Wanna Hold Your Hand” me deixou leve, animado, literalmente saltando em frente a TV, assim como a audiência do Ed Sullivan Show.
Em sua estreia, Zemeckis realizou na minha opinião, sua maior obra. Um filme que atua como registro verosímil de uma época icônica e também como uma comédia simplesmente perfeita.
Os Beatles estão em Nova Iorque, a beatlemania é uma febre que leva as adolescentes a loucura total.
Em Nova Jérsei, seis amigos decidem buscar a sorte de encontrar os ídolos.
Pam é uma santa, ela é praticamente forçada a ir junto, já que seu casamento estava marcado para o dia seguinte.
Tony é um sujeito insuportável, ele diz odiar tudo que envolve os Beatles. Aos poucos notamos que se trata de ciúmes. Tony não entende a grandiosidade da banda, então se sente ofuscado. Na verdade, o que queria era um pouco de atenção.
Janis, interesse romântico do rapaz é uma personagem interessante. Ela se diz contra a fama da banda inglesa, alegando uma farsa.
“Onde estão os discos de Bob Dylan e Joan Baez?” “Ouçam as letras.” A jovem parece realmente antenada na arte musical, mas criou um bloqueio, que aos poucos vai se rompendo na medida em que compreende a magnitude do acontecimento.
Grace é a malandra, a música a interessa, mas seja lá como for, seu principal objetivo é conseguir fotos dos integrantes.
Dubois é o único com o veículo apropriado, então Grace o seduz e o rapaz logo se encanta.
Por último temos Rosie, essa sim uma fã incondicional, totalmente louca pela banda, mas especialmente apaixonada por Paul Mccartney.
Eles chegam ao hotel, onde os Beatles estavam hospedados e a partir daí uma série de confusões se inicia. Zemeckis apresenta um dom incrível para comédias, as gags são hilárias e chegam a lembrar o cinema mudo.
Tudo isso acompanhado pelas principais canções da banda no início de carreira.
Na porta do hotel, milhares de meninas choram e gritam. O diretor consegue ao mesmo tempo satirizar o amor das fãs e fazer uma homenagem super autêntica sobre a beatlemania. Tudo é exagerado aqui, o engraçado é notar que também foi no início da década de 60.
O roteiro é brilhante ao nos conectar com todos os personagens. Claro que existem alguns melhores que outros, mas me importei com todos ali e para um estreante isso é algo raro.
Os seis vivem situações totalmente inusitadas.
Pam, a mais tímida, acaba entrando por acaso no quarto da banda e começa a tocar, beijar e sentir tudo que vê.
Tony se envolve com grupos anti Beatles, mas no fundo tudo que quer é estar perto de Janis, que aos poucos se vê apaixonada pelo quarteto e decide lutar por um ingresso no Ed Sullivan Show.
Grace arruma um jeito de entrar pelos fundos, mas precisa de 50 dólares. Ela literalmente tenta de tudo, primeiro vendendo pedaços falsas de lençóis usados pela banda e depois como uma prostituta/detetive particular.
Dubois segue sua amada como um cão, sua única função ali é atende-la. Destaque para a cena em que ele fica bêbado no bar, depois espanca o cara que atacou Grace.
Rosie acaba encontrando um rapaz tão louco quanto ela, chamado Richard. Juntos, eles correm de andar em andar fugindo da polícia, sempre tentando a sorte nas promoções por ingresso das rádios.
Bom, no fim das contas tudo se ajeita.
Grace consegue o dinheiro, mas o utiliza para livrar Dubois da cadeia. Talvez seja um clichê, mas o roteiro nos faz simpatizar de forma impressionante com esses dois personagens.
Dubois é o pobre coitado apaixonado, Grace é o sonho de todo menino, eles terminarem juntos é simplesmente delicioso de se assistir, casa perfeitamente com a proposta escapista do filme.
O resto todo consegue entrar no show, aí entra um dos momentos mais sensacionais da história do cinema. Os Beatles no Ed Sullivan Show cantando “She Love’s You”, enquanto toda a audiência vai ao delírio, é tudo tão real e tão mágico que fica impossível não se levantar do sofá e dançar também. São momentos como esse que fazem o cinema do entretenimento ter valor, isso também é arte.
“She Love’s You” é a minha música favorita da minha banda favorita, isso acaba pesando também.
Os Beatles são os maiores de todos os tempos, a beatlemania foi um movimento histérico que dominou totalmente os Estados Unidos. Anos após seu fim, Zemeckis captou todo o sentimento, a histeria, a loucura e a euforia com maestria. Um filme que perceptivelmente foi realizado com muito coração.
Além do fator histórico, o roteiro traz uma série de personagens adoráveis, que variam entre o romântico, o cômico e o libertador.
Ver Pam fugir de seu marido para entrar no show é um alívio.
Assim como a cena em que Rosie e Richard finalmente escapam daquele elevador e correm até o teatro.
E também, quando Janis e Tony ajudam o garoto cabeludo a roubar os ingressos de seu rígido pai.
Mas nada se compara a cena em que o reprimido e solitário Dubois recebe a devida atenção de Grace, aquele é sem dúvida o momento mais reconfortante do filme.
Essa troca entre audiência e personagens só existe quando o roteiro é excelente. Repare como nos importamos com todos eles, as situações são simples e é exatamente essa simplicidade charmosa que faz esse filme ser o que é.
“I Wanna Hold Your Hand” talvez não seja uma obra prima, mas é perfeito para mim, assim que terminei, sabia que não podia pedir nada mais.
Obs: Aqueles últimos segundos são sensacionais.
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