Showgirls é a síntese da passagem do cineasta holandês Paul Verhoeven pela América. Seus filmes em língua inglesa possuem uma carga crítica ácida disfarçada de filme pipoca. Embora o estilo seja totalmente diferente de sua fase neerlandesa, manteve o sexo como elemento comum na maioria dos seus trabalhos. E não é muito difícil perceber por que um cineasta que filma aquela cruzada de pernas da Sharon Stone ou um filme como esse em questão no texto é criticado duramente.
Mas qual a causa provável de Showgirls ser até hoje lembrado em algumas listas de piores filmes dos anos 90? Nos é mostrada a história e Nomi, uma jovem que busca caronas para tentar a sorte em Las Vegas. Desde os primeiros instantes sua personalidade se demonstra como cínica e até mesmo egoísta: os outros não lhe importam, se é possível pisar em cima deles para obter sucesso, por que não?
Passando por casas noturnas, a oportunidade maior para nossa (anti)heroína surge numa companhia de dança, onde os mais hostis selecionadores querem a garota perfeita. E depois de recrutada, todas dentro da equipe têm seus interesses, suas ambições, seus inimigos. No mundo do show business, é cada um por si.
Todos esses adjetivos pejorativos demonstram tudo que encontramos no filme. Como julgar a jovem Nomi quando todos à sua volta são iguais? Showgirls é um filme pejorativo. Em mais de duas horas, é possível não sentir um único pingo de sensualidade em meio a algumas cenas com apelo mais erótico. A vulgaridade aqui é em outro sentido, o mais cruel do ser humano. Ao fim da sessão, não há mocinhos, não há final feliz. Amanhã é outro dia em Las Vegas, muitos entram e muitos saem sem ninguém dar conta. Não dá pra imaginar uma história dessa agradando público e uma crítica que adora os heróis.
Verhoeven fazia filmes que davam risada da cara de Hollywood sem ninguém perceber que os próprios EUA estavam sendo motivo de chacota. O fracasso desse ou de Tropas Estelares (pra mim, sua obra-prima, ao lado de Robocop) é pura e simplesmente pelo fato de ninguém ter entendido nada. Não há nesses filmes o conto de fadas estadunidense, mas sim muita sujeira, seja pela robotização de uma dançarina ou por insetos nojentos gigantescos.
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