Logo no início de “A greve” é perceptível que se trata de uma obra que quebrou paradigmas no cinema. A forma como o diretor soviético Serguei Eisenstein trata a linguagem é extremamente atípica e inovadora para o cinema da época.
Como o título sugere, o filme demonstra, sob a ótica do proletariado, os bastidores de uma greve que ocorreu em 1903. E busca ser o mais abrangente possível, desde mostrar as condições de trabalho dos cidadãos até as questões políticas que envolvem o ato.
É interessante notar como o cinema soviético do início do século passado, sendo coletivista e operário, se permite ser ácido e impetuoso. A cena em que burocratas espremem uma fruta para tirar “suco” enquanto trabalhadores são reprimidos por se manifestar, contém uma força difícil de ser replicada até para o cinema atual. Talvez esse seja o primeiro filme-denúncia da história.
Colocando no contexto histórico, é difícil questionar a genuinidade das imputações que Eisenstein faz, mas como os antagonistas recebem pouco desenvolvimento, em alguns momentos a polarização pode parecer artificial. A atenção que não é dada aos opositores é totalmente compreensível partindo do princípio que a obra busca demonstrar que a força reside na união dos trabalhadores. A força pertença a eles, por isso recebem todos os olhares.
Mas quando se fala da greve, pouca coisa escapa das lentes do diretor. A forma como a polícia age a favor dos poderosos, a influência dos mais ricos extrapolando para o estado, está tudo lá. Em 1924 Serguei Einsenstein colocou o dedo na ferida, e ao mesmo tempo fez cinema, ou melhor dizendo, fez história. Exemplar!
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário