De amigão da vizinhança a um veterano de guerra
Adaptado do primeiro romance autobiográfico de Nico Walker - um ex-prisioneiro e veterano de guerra -, “Cherry-Inocência Perdida” se torna mais uma obra cinematográfica, sendo lançada originalmente pelo serviço de streaming da Apple Tv +, dos irmãos Joe e Anthony Russo – sua primeira pós-Vingadores Ultimato. No longa acompanhamos Cherry (Tom Holland), um rapaz que entra, no auge da Guerra do Iraque, para o exército dos Estados Unidos após sua namorada, Emily (Ciara Bravo), ter lhe “dado um pé na bunda”. Lá o protagonista passará pelos horrores do conflito que o traumatizarão causando profundas feridas acompanhadas do TEPT (transtorno do estresse pós-traumático). Após ser condecorado por sua bravura e esforço, retorna aos Estados Unidos, mas carregando diversos problemas psicológicos que o levam à busca por drogas pesadas e consequentemente à vida de crime.
Antes de tudo, deve-se destacar como o filme começa ao não iniciar linearmente como a grande maioria. Assim como Pulp Fiction (Quentin Tarantino) e Clube da Luta (David Fincher), por exemplo, o longa começa pelo fim, o que pode gerar um ar de mistério e curiosidade para prender a atenção do espectador ao longo da obra. Recurso esse executado com maestria pelos diretores, tendo em vista o quanto o filme pode mantê-lo interessado pela trama no decorrer de sua duração. E assim como num livro, temos o prólogo, os capítulos propriamente ditos e o epílogo. Essa abordagem de narrativa é um recurso excelente, pois dá ao filme uma identidade própria e que nos passa a sensação de como se alguém estivesse contando uma história.
Por outro lado, existe a quebra da quarta parede no longa, mais um ótimo recurso no cinema aliás, mas não... não nesse filme, uma vez que tira totalmente a imersão nos momentos em que ocorre. Há aqui uma quebra do andamento do filme, pois simplesmente não funciona. Em alguns casos, o cenário todo congela para o protagonista começar a falar conosco. Era preferível ter apenas uma narração de fundo – e tem-, pois dessa forma iria trazer uma carga dramática ainda maior, e fato é que o filme já possui um peso enorme no drama. E, portanto, para aqueles espectadores ligados aos detalhes mais técnicos como o que vos fala, pode sentir uma certa estranheza ao se deparar com tal fenômeno.
Como já supracitado, o filme é dividido em capítulos e, logo, existem diferentes momentos na vida do protagonista pelos quais passamos. Num primeiro momento, podemos ver um Tom Holland apaixonado; num outro, um amedrontado e desesperado e por fim, um viciado em drogas. Isso deixa os diretores à mercê da criatividade e ainda explora todo o potencial dos atores envolvidos e, particularmente, essas transições foram muito bem executadas, uma vez que acompanhamos diferentes gêneros de filme: um romance, um filme de guerra e por fim, um drama muito bem construído. E se você já viu algum filme do Homem-Aranha de Holland, é muito difícil enxergar ali um Peter Parker, com exceção dos primeiros atos do filme, mas temos o ator mais amadurecido e com certeza se entregando de corpo e alma ao papel que lhe foi dado. Já Ciaro Bravo consegue surpreender igualmente na trama, tendo grande relevância para seu desenrolar. Apesar de ter sido pouco explorada sua relação com seus pais quando é apresentada, a atriz consegue transmitir todos os sentimentos e sensações que se propõe.
O filme é profundo, é emocionante e com certeza nos passa uma visão realística de como pode ser a vida de um veterano de guerra e de um viciado consequentemente. E do segundo para o terceiro ato isso se expressa de uma forma tão cativante que pode induzir o espectador a refletir sobre diferentes casos que podem acontecer facilmente se não houver um apoio psicológico para esses indivíduos afetados pelos traumas de uma guerra. Ademais, os atores estão ótimos em seus papéis e puderam prender-me a atenção do início ao fim e, apesar dos defeitos já citados, o longa não deixa de ser um filme interessante nem péssimo, mas um ótimo retorno dos irmãos Russo com o garoto de ouro da Marvel, Tom Holland.
Comentários (0)
Faça login para comentar.
Responder Comentário