Analisando cruamente como peça de entretenimento cinematográfico, Diários de Motocicleta é um road movie competentemente dirigido pelo brasileiro Walter Salles, além de contar com um ótimo elenco.
Independentemente da opinião de cada um sobre o personagem real retratado aqui, este é sem dúvida um road movie eficiente, tanto narrativa quanto visualmente. É um filme que explora de forma autêntica e competente uma parte pouco contada da história de vida desta figura tão controversa. Obviamente, aqui é retratada a vida do Che pré-revolucionário, nos mostra as experiências pelas quais ele passou que podem ter tido significativa influência no seu ativismo político. E em se tratando de uma figura política, já era de se esperar que despertasse a paixão dos entusiastas de suas ideias, e o ódio de seus adversários ideológicos. Mas o filme não se apequena a ponto de ser tão somente uma ''história de origem'' de uma figura notória, nunca retratando de maneira heroica e endeusada o começo da trajetória de Ernesto Guevara. Walter Salles está mais interessado no homem, não no mito que fizeram dele, ou seja, o que temos aqui é um estudo intimista sobre uma pessoa de convicções fortes, que dedicou sua vida à elas, e influenciou a geopolítica do Séc. 20, o cineasta tem, sim, um olhar humano e professoral sob o biografado, mas nunca chega ao ponto de canoniza-lo, ou justificar seus erros, tendo momentos no filme em que vemos ramificações de suas atitudes. Todos podemos absolver algo relevante tanto do tema central do filme, quanto de seus aspectos laterais. Não importa sua orientação política, qualquer um pode sentir a dor nos olhos do povo pobre da América Latina, retratado com tanta humanidade aqui, não precisa ser nenhum expert para saber que nossa região é marcada por mazelas sociais históricas, e essas mazelas geram conflitos, e Che Guevara foi fruto dessas duas coisas. Não confundam este filme com uma aula de humanas, porém. Pois ele não te joga determinadas ideias de determinado viés, e dedica todo o seu tempo a te convencer delas, ele apenas as apresenta e te dá a liberdade para interpretar as ideias do personagem principal da forma como você achar melhor. Mas tirando toda a pesada carga política envolta, e examinando o filme como entretenimento puro, sem dúvidas se trata de uma ótima obra. Tem um elenco brilhante, é visualmente lindo, e tem um roteiro desenvolvido de forma fluída, que deixa o filme bem palatável. É um filme feito para agradar qualquer cinéfilo à moda antiga! Tem um rigor clássico que traz calma e elegância ao ritmo do longa, mas também tem uma vivacidade contemporânea revigorante. Um filme que pode ser apreciado por qualquer um que consiga deixar as paixões políticas de lado e admirar uma obra bem feita!
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