Falar sobre a magnitude visual e sonora de determinados números musicais e o quão bem arquitetados estes foram é desnecessário e até mesmo redundante para uma obra com diversos recursos a seu dispor. Não era de se esperar o diverso disso.
O formato CinemaScope colabora bastante para imprimir o tom fabuloso que um musical como esse clama, seja na belíssima e impressionante cena inicial, seja em alguns momentos pontuais no decorrer da narrativa: estamos diante de uma obra irreparável tecnicamente.
Aliado a isso, temos um excelente diretor realizando um outro bom trabalho, apesar de um pouco inferior a sua obra anterior ("Whiplash"), mas ainda assim com um bom desempenho. Não que Chazelle tenha dirigido mal "La La Land". Pelo contrário. Sua direção é firme, tem um bom senso para a musicalidade (isso também não é novidade), mas falta-lhe algo aqui - algo essencial não só para um musical, mas essencialmente para um romance, e talvez seja esse o fato que me faz refletir que embora se trate de um bom trabalho e um bom filme, nem tudo foi tão irreparável assim.
A começar pelo próprio uso do gênero musical. Os números musicais não são tão abundantes assim - é um musical muito falado, embora eu não veja mal algum nisso. A questão é que ao tentar explorar a humanidade de seus protagonistas por meio da apresentação de suas rotinas, ações e entonar de falas, Chazelle transforma os números musicais em trechos episódicos e pouco espontâneos, e ao tentar equilibrar essas pontas, torna sua real intenção para com o filme engessada por uma narrativa que necessita literalmente berrar a seu público o que deve ser sentido, e obtém efetivo êxito no máximo duas vezes.
Some-se a isso o fato de que os números musicais da abertura e da belíssima e estrondosa cena final, são os únicos que realmente possuem um senso de energicidade e emocionalidade genuína, e justamente por isso sejam os mais marcantes. Nos demais números musicais, embora a música e a melodia sejam enérgicas, a situação não o é. O mesmo vale para o romance protagonizado por Emma Stone e Ryan Gosling: quando eles cantam o romance dos dois assume tons de felicidade e união genuína, mas quando não estão cantando a demonstração desse amor não convence. E aqui ficou claro para mim que Chazelle foi muito técnico e pouco instintivo (como fora em "Whiplash", à maneira deste, claro): usou a música e a inerente emoção que esta traz consigo como uma forma de disfarçar a dificuldade em convencer que o casal protagonista realmente se amava.
Há um ponto positivo, no entanto, quanto a esse descompasso, e creio que de certa forma, Chazelle queria evidenciá-lo: a música, a Arte, é capaz de nos transformar, de nos revestir de emoções plenas e puras em meio a situações amargas e devastadoras, propiciando-nos momentos sublimes e únicos, funcionando como um verdadeiro escapismo. E aí reside o ponto central que me faz pensar que "La La Land" poderia ter alçado maiores voos, embora seja um bom filme: abraçar mais sua musicalidade, de forma sincera e sem medo de pender para o brega (se preciso fosse), de ser menos técnico e se entregar à emocionalidade que tanto tenta entregar ao público, mas o máximo que consegue é, por meio de uma melodia feliz num momento, triste em outra, utilizar-se da música como um elemento fácil de gerador de emoções, que pelo menos em mim, não fez tanto efeito.
Assim, longe de ser um filme ruim, mas também longe de ser um ótimo filme, "La La Land" ao menos homenageia o cinema musical clássico, bem como Hollywood e a cidade de Los Angeles de uma forma bastante peculiar, aliado a alguns números musicais satisfatórios. Em resumo, não tão bom quanto dizem que é, nem tão mal quanto a maior parte deste comentário o faz parecer.
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