Eu, querendo aumentar o meu pequeno acervo cultural, procurando coisas novas e com boas recomendações, fui ver esse “O Demônio das Onze Horas”, filme do Godard. Expectativa alta, afinal, se trata de uma das mais conceituadas obras. Só que expectativa de mais sempre trás problemas para supri-la, e foi isso que aconteceu com o filme. O filme na é ruim, apenas fica aquém das expectativas. Godard passa tudo que ele queria dizer, o vazio da vida moderna e a procura por algo que o preenche, porém a sensação que se tem é que isso não dava para fazer um longa e ele encheu lingüiça o máximo que pôde.
O filme quebra com prazer vários conceitos, e isso até pode ser considerado um ponto positivo, é um filme “único”, e nos contempla com alguns belos momentos, porém o exagero de frases soltas no meio de frases boas faz tudo parecer um mero jogo de “parece que estou falando algo legal”. Algumas das citações soltas Ferdinand (Jean-Paul Belmondo) e demais personagens são incisivas, mas outras apenas são amontoadas de maneira a não dar tempo para pensar sobre elas. Apenas frases e mais frases, versos e mais versos sendo soltos e logo esquecidos.
Na verdade, o filme começa e termina de maneira perfeita. Os primeiros minutos fazem ele parecer que vai se torna algo realmente memorável (também pela qualidade acima da média, não como um mero filme “porra loca”). Desde Samuel Fuller explicando o que é o cinema (“o cinema é emoção”), os filtros abusivos e interessantes a sensação de vazio, tudo se vai logo quando o filme vira uma sucessão de versos que pelo menos devem ser interessantes aos falantes do francês.
O filme quer ser (e é) uma mistura de tudo e da filosofia de Godard. Mistura essa que envolve de musicais (inseridos de maneira tão anárquica- mas divertida, no caso deles- quanto o resto do filme), Três Patetas, road movies e policiais, além de outras coisas. Mas o problema do filme fica nessa vontade de ser diferente, de apenas enfiar tudo, sendo que as coisas apenas pipocam na tela sem tempo de serem digeridas. A montagem faz seu papel ao, igualmente, ir apenas... montando as cenas. Podemos dizer que não havia muito o quê fazer na sala de montagem além de por uma cena atrás da outra, a maioria é filmada num único longo plano (que dá uma estética bastante interessante ao filme, mesmo não sendo nada grandioso).
Mas, para salvar o filme e fazer levá-lo a nota 5,5; o já dito início, o final (bastante significativo e reflexivo, pondo um fim a essa caminhada em busca de um sentido), a hilária cena do teatro ianque (uma encenação da Guerra do Vietnã- impossível não rir com o “inglês” de Ferdinand) e as atuações que mostram estar, ao menos, se divertindo ao fazer o filme (ou é um caso de adoração do elenco ao diretor)- porém as personagens, ainda que com a intenção de desenvolvê-los, não são tão interessantes quanto deveriam ser, apenas ficam parecendo interessantes.
Godard quebra a quarta parede, esmiúça qual quer linha cronológica, faz um filme diferente de tudo, mas, ainda que possa ter passado pela cabeça dele que o filme fosse assim, o resultado é um filme insosso e apenas um amontoado de versos que tentam parecer significativos ou não recebem tempo o suficiente para serem realmente significativos.
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