Eu não sou um dos maiores admiradores de Roman Polanski. Foram poucos filmes que vi dele, conheço ele mais pela sua fama fora dos sets (ele pode ser considero a Amy Winehouse ou o Keith Richards dos cineastas) do que pelos seus filmes, logo não esperem que eu compare esse filme aos filmes do início da carreira dele (e é algo que preciso fazer- uma sessão com vários filmes do polonês).
O filme, adaptado de uma peça teatral com o mesmo nome do título brasileiro (o original é apenas “Carnage”, sabe Deus o motivo da mudança; ou opção do Polanski, mesmo, ou porque algum executivo metido a besta achou “God Of Carnage” ofensivo). Ele, assim como os outros filmes adaptados de peças teatrais, é curto (apenas 80 minutos), calcado em diálogos e se passa em poucos cenários (esse apenas uma cena rápido num parque e dentro da casa do casal Longstreet. Ele tem todos esses cacoetes de filmes adaptados de peças teatrais (até o clímax que não parece um clímax cinematográfico), mas não é teatro filmado, longe disso, Polanski usa uma composição de planos precisos, sempre aproveitando o uso de espelhos (que não só ajudam esteticamente, como contribuem para o ar de hipocrisia das situações) e usa uma montagem rápida que sempre mantém a atenção do público (mesmo o filme todo se passando entre um banheiro, uma sala e uma cozinha), tornando mais rico já o delicioso e hilário texto adaptado pelo próprio Polanski e a Yasmina Reza (que escreveu a peça original).
Tudo começa com um incidente. O filho do casal Cowan (Kate Winslet e Christopher Waltz) bate no filho do casal Longstreet (Jodie Foster e Jonh C.Reily) com um pedaço de madeira. Para resolver o problema causado pelos danos que o filho causou, os Cowan vão à casa dos Longstreet tentar resolver o problema. A partir desse molde simples se inicia um filme que vai destruindo pouco a pouco o falso moralismo de suas personagens; os discursos polidos e politicamente corretos do início do filme dão lugar a palavrões e conceitos sobre a própria vida, ainda que condenáveis num ponto de vista moral, sinceros. Mas, não só isso, sempre engraçado e nunca querendo ser grandioso, não é um texto que visa mudar vidas ou ser o mais excelente drama dos últimos tempos (é uma comédia, na verdade), mas apenas mostrar de maneira irônica e mordaz a hipocrisia de suas personagens, que são apenas estereótipos de tipos urbanos.
As atuações são a cereja do bolo. Nunca teatrais (mais uma vez: é cinema, não teatro filmado), todos os atores mostram que estão se divertindo, e, não só se divertem, nos divertem também. Algumas cenas nasceram impagáveis (na verdade são pagáveis e até baratas pela qualidade. Oito reais a meia-entrada aqui em Salvador durante a sexta, não é um preço ruim considerando a quantidade de risos que ouvi na sala), contando diálogos afiados e timing perfeito, “Deus da Carnificina” é uma ótima opção numa semana que não tinha maiores obras no cinema.
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