A despeito de qualquer ódio ou amor que o Nolan desperta, é difícil desviar de um fato bem simples: Dunkirk é um filme ruim, um filme muito ruim. Aqui fica latente todas as limitações do Nolan como cineasta e a execução errada de várias ideias que ele já tinha usado em outros filmes. Se em filmes como A Origem e TDKR, o clímax estendido, com várias tramas intercalando simultaneamente, funciona, aqui ele é problemático, a própria ideia de fazer o filme ser um clímax estendido com quase duas horas já é problemática, a execução apenas acentua tudo que tem de errado com a ideia.
Seus únicos pontos positivos são os técnicos, e, falando de um filme com um orçamento de uma centena de milhões de dólares, isso é o mínimo que se pede; mas, mesmo esses elementos técnicos, são mal utilizados. Os minutos iniciais usam bem os efeitos sonoros, o medo do inimigo que não se vê é real, mas logo uma trilha intrometida e irritante do Zimmer entra e está acabado qualquer envolvimento com o filme. Essa trilha, composta por violinos gritantes, entra em momentos desnecessários, tira qualquer lugar onde o silêncio e a contemplação daquela situação desesperadora se faria necessária, e nos tira do envolvimento com a situação. E é assim o filme inteiro, personagens teoricamente importantes para a trama morrem e não há nenhuma relevância para o público, todas as figuras que aparecem no filme não são interessantes, e nem o espetáculo visual é assim tão impressionante, o Nolan não sabe impor algum sentimento ao filme, nunca alcança o impacto que aquela situação deveria ter.
Não sendo pouco, ainda temos a já dita opção de fazer o filme contando várias tramas, que, se não fosse o bastante, ainda se passam em linhas de tempo diferentes, cada uma contando a história em espaços de tempo distintos: Uma semana na praia, um dia no barco, uma hora no avião (sim, Nolan, entendemos, as três forças militares). E essa opção é ridícula, é uma masturbação de estilo que, se funciona em Memento e Inception, aqui é terrível. É desnecessário fazer isso e não é bem feito, a semana nunca parece ser uma semana, o dia não parece ser um dia e a hora parece ter sido cinco minutos, e, se essa falta de controle sobre a impressão de tempo já seria ruim, a forma como as tramas se intercalam, da maneira mais preguiçosa possível, é de fazer vergonha.
E, se isso tudo já não faria Dunkirk, que veio com excelentes teasers e artes, uma grande decepção, lembrar que o filme é um grande clímax consegue tornar ele pior. Há uma necessidade de fazer do filme um grande crescendo, e colocar todas as tramas juntas nesse crescendo, ao estilo Cloud Atlas, fazendo a cada cinco minutos um novo momento de "tensão". E essa tensão acaba cansando, em certo momento o espectador fica anestesiado e, essa necessidade absurda de criar tensão acaba criando momentos ridículos, em que situações mínimas são elevadas a um patamar risível para entrar no clima das outras tramas, ou as incontáveis vezes que os soldados ingleses são salvos no último segundo, bem nível de série de sábado de manhã dos anos 90.
Por fim, ainda que não acredite que se possa de fato condenar um filme por tal motivo, temos aqui uma duvidosa questão moral. É compreensível a situação de emergência dos ingleses na época, um exército servindo a um ditador com intenções abjetas estava há alguns quilômetros da terra deles ("quase dá para ver o lar daqui"), mas é difícil não achar vergonhoso a propaganda militarista do filme- os ingleses são os heróis aqui, são patriotas, amam sua terra e vão vencer a guerra. O filme não pensa sobre a loucura e como é desnecessário mandar homens jovens pra um lugar que sabem que boa parte não vão voltar, mas apenas relata sobre os atos de patriotismo e heroísmo dos mesmos (o Hardy e seu avião indestrutível fica num nível perto do cômico). Se era pra fazer uma propaganda de guerra, que fizesse como o Spielberg em Soldado Ryan e fizesse bem feito.
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