"Os Outros", com certeza, foi um dos melhores filmes da carreira de Nicole Kidman.
As produções das quais ela participa nem sempre são sucesso de público, ou blockbusters, mas sua atuação é sempre um show à parte - e com essa personagem não foi diferente.
Aqui ela é Grace, é uma dona de casa áustera, firme, solitária e mãe de dois filhos, que vive em um ambiente sombrio, enclausurada em uma mansão escura em meio aos anos 40, sob os efeitos da segunda guerra mundial - para onde foi seu marido convocado, até então sem dar notícias.
Apesar da inevitável comparação que sofreu com o clássico "O Sexto Sentido" de Shyamalan, e a indiferença da crítica na época, o filme consegue ser tenso, assustador e inovador. Por isso, particularmente, este é o meu filme preferido de Nicole.
Apesar de seu final ter realmente uma semelhança com o inesperado desfecho do sucesso protagonizado por Bruce Willis e Halley J. Osment, a mesma sensação de imprevisibilidade é sentida aqui.
O universo de "Os Outros" é tão lúgrube, escuro e pavoroso que, o espectador fica hipnotizado ao ver como Grace se mantém lúcida e racional ao deparar-se com "fenômenos paranormais" que ameaçam a ela e a seus filhos.
O filme não utiliza uma vez sequer artifícios comuns do gênero, como sangue, mortes ou mutilações. Limitado exatamente a narrativa de suspense, o filme é um tanto lento, mas nada cansativo. A atenção se volta à trama que, conseguiu carimbar uma das cenas mais assustadoras da história do cinema, como a da menina vestida de noiva, supostamente possuída por algo.
As crianças não são um primor de interpretação, mas quero frisar que a atriz mirim Alakina Mann (Anne), conseguiu compor bem o seu papel. Os pequenos atores não foram meras crianças bonitinhas que estavam ali para protagonizar cenas melodramáticas descartáveis.
A escuridão foi utilizada na tonalidade certa. O ambiente gótico proporciona o desconforto com a situação. A dúvida e o medo presentes no olhar de Nicole, durante os acontecimentos, são imprescindíveis para o envolvimento do público.
A forma com que a história se desenrola, o clima asfixiante da casa que não pode ser aberta, nem ter exposição de luz devido a uma doença das crianças, e como tudo isso é resolvido no fim, é o que torna "Os Outros" um suspense de primeira. Nem sempre é necessário abusar de efeitos especiais e mortes explícitas para conseguir criar pavor no espectador.
Talvez se lançado numa época mais distante de "O Sexto Sentido", o filme teria conseguido mais reconhecimento, o que seria mais justo.
Se todos os filmes que se inspiram em algum sucesso fossem desse nível, só teríamos que agradecer.
Utilizar um recurso que deu resultado e explorá-lo sob outra ótica para conseguir originalidade tanto quanto, é um feito que somente "Os Outros" conseguiu com tanta classe.
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