São seletos os cineastas que tem o total domínio de gêneros dos mais variados. O mestre Stanley Kubrick, apesar de não tão extensa, fez com que sua obra passeasse com maestria por guerra, comédia, terror e outras mais. James Mangold, com bem menos fama e pompa, também é um diretor que sempre esta em mudanças indefinidas, alternando gêneros e de vez em quando fazendo pequenas pérolas. O veterano e multifacetado Clint Eastwood, é talvez o melhor exemplo, depois do gênio anteriormente citado. Não que seu inspirador cinema seja tão diverso assim, obviamente seria surreal esperar dele fitas de horror, comédia ou ficção cientifica complexa. Seu inspirador cinema é sobretudo inquieto, sempre em busca de novos elementos, sendo estes diferentes em sua totalidade. São obras que, se colocadas lado a lado, vão divergir entre si, e que se não fosse pela elegância rotineira, muitos diriam que não foi dirigida pelo mesmo realizador. Noir, Biografias, esportes, dramas trágicos, dramas espirituais e pelo menos mais de uma dezena.
Em Jersey Boys: Em Busca da Música, seu filme inspirado em peça da Broadway é divido entre o musical e o drama de gangster. E ambos são bem sucedidos. Mesmo sendo um filme menor, é aqui que Eastwood realiza seu melhor trabalho desde Gran Torino, e talvez ofuscado por Sniper Americano não ganhou destaque nas premiações e cinemas. O elenco, extremamente talentoso também pode ter contribuído já que é bastante desconhecido, com exceção obvia de Christopher Walker. Seu papel aliás, está a altura de seu talento, perdido a algum tempo devido a seus inúmeros trabalhos escolhidos sem critério. Um mafioso amedrontador, mas nunca violento, contrariamente protetor e sentimental, e Walker deixa verossímil este personagem multidimensional.
John Lloyd Young, também protagonista da adaptação teatral, demonstra vigor em seu primeiro trabalho para a telona, devendo receber mais convites. Sua atuação esta convincente e oportuna, dando uma bela voz e representação do músico Frankie Valli, vocalista do grupo pop The Four Seasons que faz sucesso no inicio dos anos 60. O restante do elenco também esta muito bem, principalmente Vincent Piazza da série Boardwalk Empire , e tem muito destaque na trama. Seu personagem, de longe o mais fascinante, funciona como a engrenagem responsável por abastecer a história, como um tipo arrogante e imperativo, tipico de filmes de gangster.
Seu primeiro ato responsável por apresentar seus personagens, é também uma homenagem de Eastwood aos filmes de máfia, em especial o icônico Os Bons Companheiros. A narração em off conversando com o espetador, a violência ( contida é verdade) e cenas como na prisão e o assassinato no carro, o credenciam.
Os jovens em busca do sonho e do sucesso na música, se envolvem com a máfia italiana de New Jersey. Estes tipos errantes, logo chegarão ao topo, não antes passando por todas as etapas desta penosa jornada envolvendo mentiras, dificuldades e prazeres. Tudo é captado com precisão, não devendo em nada ( talvez a falta da violência bruta do gênero) a categoria.
Enquanto musical, o longa se sobressai ainda mais. Todas as canções são bem representadas, e praticamente cantadas integralmente. Sobretudo os fãs irão delirar ao som de "Sherry", "Big Girls Don't Cry", e muito mais. "Can't Take My Eyes Off You" é a cereja do bolo. Impressiona a habilidade do diretor, tornando os shows e cenas no estúdio os picos e estampando um sorriso em nosso rosto. Em seu final, já no decorrer dos créditos, o filme se autodenomina um musical, com uma deliciosa cena, saudando sua origem.
Seu último ato contudo, perde um pouco o fôlego, especialmente numa sequencia dispensável de reencontro. Nada que tire o foco da trama, que segue linear e coesa a projeção toda. Vale a pena, não apenas para os apreciadores de musicais ou filmes de máfias. Mas para os apreciadores do bom cinema e da boa música.
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