Cidade de Deus é impecável.
Eu acho incrível como são conduzidas as abordagens de temas tão complexos e pesados. Existem diversas questões sociais, por causa das situações adversas daqueles que viviam na favela. E apesar do misto de violência crua e vingança, por exemplo, em nenhum momento ficamos com a sensação de ter sido algo apenas para chocar.
Cidade de Deus não se prende em contar suas histórias de maneira linear, como a maioria dos filmes. É repleto de planos curtos e incisivos, vários quadros elaborados da mesma cena a partir de ângulos diferentes, a câmera está sempre no lugar certo para transmitir todo o clímax. A direção é absolutamente competente e criativa.
No seu início, temos a cena (o giro no Buscapé é lindo) de perseguição a uma galinha, que conseguiu fugir de ser sacrificada. É então que somos apresentados ao Zé Pequeno e ao Buscapé. Este, que é o narrador do filme, vai relatando suas impressões sobre as diversas situações e nos proporcionando várias perspectivas. Ele é um (existem outros Buscapés dentro das favelas) guri que sonha com uma vida normal e uma carreira como fotógrafo. Não é fácil, por causa do ambiente duro e violento, onde os mais jovens são sugados para a criminalidade, revelando a vida na favela como uma luta diária pela sobrevivência.
É de uma fluidez espetacular, o ritmo envolvente, de uma credibilidade, espontaneidade, energia e simplicidade incríveis. É repleto de personagens e cenas memoráveis, que se encontram no imaginário popular até hoje.
O filme têm várias sequências incríveis. É interessante a cena que o Dadinho (ops, Zé Pequeno, caraio!) é morto, pois aconteceu de uma maneira que ele nunca esperava (morto por um moleque da favela), até porque ele foi o cara que reinou ali, portanto, é um tanto cômico ele ser batido dessa maneira, rs. Tentando analisar a cena, eu acredito que ele foi morto muito mais pela cultura do crime do que por uma pessoa em questão.
O cinema nacional nunca precisou provar que realmente é bom e de muita qualidade, mas sempre há aqueles que consideram (precipitadamente, diga-se de passagem) o nosso cinema fraco e entre outras coisas. Cidade de Deus está aí para provar que existe qualidade, sim. E é óbvio que não é somente ele, mas como muitos outros preciosos filmes brazucas. Eu acredito que a questão é olhar com mais carinho e menos preconceito o nosso cinema.
Enfim, Cidade de Deus é uma incrível narração de histórias. Esplendoroso, triste e totalmente convincente. É um dos melhores filmes dos últimos tempos.
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