Lupas (9)

Belo título, muito significativo, belo filme, muito representativo, a cena em que José, sonha estar encarnando e encenando Virgulino, o sonho do poeta, me lembrou o recentemente assistido "Febre de Rato" e o "O Quinze", sonhos dos retirantes e artistas... A tradução de Pelego e X9 num só homem, Severino…

Impressiona a atualidade da história mesmo passadas quatro décadas, e isso não é exatamente uma qualidade. Dumont encarna com propriedade a figura do nordestino que é alvo de toda sorte de preconceito fora de sua terra, e os absurdos ditos e feitos pelos outros personagens contra o dele ainda estão acontecendo por aí a toda hora. Também há espaço para a crítica feroz à sanha capitalista, revelando sua face devoradora.

Deraldo é a personificação da anarquia, seus limites de aceitação são frágeis e explosivos. O tom de comédia me agrada ainda que a crítica social concebida por JOaquim Batista tenha um pecado: o fato de seu personagem principal ter aversão ao trabalho, ou seja, na minha concepção ele é "esprimido" por vontade própria afinal não lhe faltam oportunidades.

Consegue ser cruel em sua crítica (a melhor do cinema BR) ao mesmo tempo que é divertidíssimo; o personagem de JD (ótima atuação) é uma grande joia, equilirando perfeitamente essa mistura de aventura, drama e comédia. Mordaz, ágil, envolvente e relevante.

Uma fábula de aventura, mescla de denúncia social, comédia e literatura de cordel. Mostra o processo de desumanização do emigrante nordestino no conjunto social da grande metrópole (São Paulo). A performance de José Dumont é um verdadeiro achado.

Talvez o melhor filme sobre São Paulo depois de São Paulo S/A, aqui sob a ótica dos nordestinos recém migrados explorados. Um ponto de vista interessante do poeta nordestino. A trilha sonora tem forrós de letras inteligentes. Genial a tira do Virgulino.

30/08/09

Apesar da dramaturgia, parece mais um grande registro documental sobre a situação do nordestino buscando a vida em SP, a classe baixa engolida pelo sistema, um grito contra o capitalismo e o conformismo da miséria e violência, com ecos de Cinema Marginal.

Inteligentíssima visão da urbanização das grandes metrópoles brasileiras e sua consequência nas relações sociais na visão do humilde Deraldo.