Penso que a decisão de deixar a revelação para o fim diminui o que poderia ser uma discussão mais abrangente sobre o tema durante a projeção. É aquela tática pueril de querer chocar ao invés de discutir. Soubéssemos anteriormente o porquê do apego do pai talvez pudéssemos refletir durante todo o filme e não em seus últimos 5 minutos.
Os conflitos poderiam ser maiores, mas os irmãos Dardenne sabem conduzir um drama palpável e humano de forma exemplar, usando e abusando aqui da câmera de mão para dar o tom agoniante, reflexo da situação paradoxal que poderia acontecer com qualquer um.
Até pouco menos de uma hora é primoroso, a câmera dos Dardenne, como de costume, transmite com vivacidade os ímpetos e o nervosismo do personagem de Gourmet; depois disso, nada de novo surge e o filme estende-se demasiadamente.
O indizível sempre encontra espaço no cinema dos Dardenne, por sua capacidade única de traduzir sentimentos que as palavras não explicam. Aqui, o afeto surge de modo inesperado, pavimentando o caminho acidentado do coração de dois indivíduos inábeis.