Os momentos de decadência que precedem a morte de um velho moribundo são lentos, arrastados, com um doloroso silêncio, interrompido algumas vezes por gemidos e lamentos. As dolorosas expressões faciais de Léaud e as dos seus serviçais, que parecem sentir a agonia de seu rei, são outro ponto forte do filme, assim como os belos enquadramentos, usando bem as sombras dos aposentos do rei como cenário do seu fim.
Limitações do homem. Limitações da carne. Limitações do tempo. Albert Serra filmou a morte, a história, o rito, o poder. Impressiona a construção pictórica dos planos. Jean-Pierre Léaud está absurdo.
Filme de closes e de espaços apertados, em que cada mínimo movimento do rosto de Léaud importa. E mesmo com tanto enclausuramento, Albert Serra consegue encaixar humor.
Utilizando-se de uma ótica diferente de cinebiografias usuais, LMLXIV é um lento, claustrofóbico e silencioso retrato que excede expectativas, afinal, o desfecho do longa está em seu título, sendo um filme belo sobre a preparação da morte, não o ato em si
Luís XIV encarando a câmera sem algum receio por quase três minutos, ao so da ópera e do angustiante tic-tac resumem esse cuidadoso trabalho cênico de Serra. Leaud dando aula em poucas palavras.
A palpabilidade da morte e a degradação do ícone e do próprio corpo, ressaltadas pelo silencioso aspecto fúnebre da narrativa e a claustrofobia das imagens vampirescas pintadas por Serra, partindo de Rembrandt. Jean-Pierre Léaud sagrado!