Falar sobre a figura de Clint Eastwood no cinema é mais do que chover no molhado. Não há o que dizer sobre a carranca do velho e quão inúmeras vezes ela foi caracterizada por aí, desde Jim Carrey a Stallone, hoje o mesmo já se encontra a beira de seus 90 anos, o jeito de mal encarado já pode não convencer mais devido a fragilidade da idade, porém, aí que ele se faz valer disso e traz em seu novo filme "A Mula", exatamente isso, um senhor que aproveitou de monte à vida e se dizia avesso as modernidades de uma nova era, imerso nesse jogo de atualizações e fazendo um serviço um tanto estranho visto essa mesma fragilidade.
Seu novo filme traz a história de Earl Stone, ainda sendo aquele tipão boa pinta característico de East, mas sem o semblante pesado dessa vez e retomando o filme estrelado por si mesmo que não fazia desde Gran Torino. Earl era um floriculturista e dedicou sua vida à esse trabalho, deixando de lado até mesmo sua própria família para dar total atenção ao empreendimento. Já numa idade maior, sem contato com seus entes próximos e dessa vez quebrado devido à sua não atualização a novas tecnologias que facilitam o marketing de um comércio, (nesse caso a internet), após buscar abrigo tem as portas fechadas, e é aí que a vida de Earl vira de cabeça para baixo numa nova empreitada, ele se vê como correio de um cartel de drogas, daí vindo o nome do filme, já que "mula" é o nome ao qual se referem à essas pessoas.
Baseado numa história real, o novo filme de Clint não se resume somente a contar essa simples história, o que de fato ela é, porém, as coisas vão muito mais além. Como já dito, East é uma figura atemporal dentro do cinema e sua devida importância é inegável, mas poderia ele se adequar à essas novas formas de pensar de um cinema atual, ou até mesmo de um mundo atual? E é durante as duas horas do longa que ele nos mostra como vai se adaptado e ainda consegue manter seu charme e presença nas telas, já não sendo mais o pistoleiro ou o tipão da carranca, mas o que ele realmente é, um velhinho que se enturma com jovens muitas vezes perdido e sem fazer a mínima ideia de onde esta se metendo ou o que é para fazer, além das dificuldades de se adequar à esse novo mundo globalizado em tecnologias, como já falado a recusa em se fazer da internet uma ferramenta e as dificuldade em lidar com smartphones onde não consegue enviar uma simples mensagem, e são nesses momentos que uma veia cômica da as caras e faz um filme leve.
Em um outro momento vemos um acontecido curioso, Clint se envereda numa orgia com duas garotas bem mais novas com ele e faz uma piada disso, dizendo que precisa de um médico pois pressente um ataque cardíaco, se expondo, literalmente em não ser mais o homem de outrora e não parece se preocupar com isso, ele quer se divertir e fazer o que sabe de melhor.
Lógico que há momentos mais densos no filme, como quando Earl decide mudar rotas de entrega e a todo momento que isso acontece, nos preocupamos qual será a consequência ao velhote e se alguém realmente poderia fazer algum mal à esse ser tão simpático que mais uma vez que quer passar sua experiência de vida e ensinar os jovens a aproveitarem mais a vida e saírem da frente de seus celulares, fato esse que o personagem de Cooper também ressalta em dado momento.
Nem tudo é perfeito por aqui, há de se falar. O filme em certo tempo, parece travar de certo modo e não adiantar muito as coisas, o fazendo parecer mais longo do que realmente é, mesmo tendo carisma dentro desse tempo, parece um tempo desnecessário e que poderia ser amenizado. O reencontro com a família também acaba por cair num novelão dramático mesmo que se faça necessário para o seguimento e dar a abertura para o final, que é de fato bem amarrado e acaba por salvar esses momentos mais mornos do trabalho
O elenco num todo se faz bastante de acordo. O destaque maior fica pelo próprio East, o filme gira a seu redor e como já dito, a carisma do mesmo conquista e nos faz amar essa figura em tela, em suas mais diversas trocas de experiências e se deparando com todo tipo de pessoas nas suas viagens. Os demais acabam por ser uma escada de apoio para o personagem central, sendo até em algum momento desperdício, como Bradley Cooper que acaba não sendo um alguém de diferencial aqui e da as caras em alguns breves momentos, o mesmo vale para Diane Wiest, a atriz de longa data que também mostra os traços da idade desempenha um ótimo papel, embora também relegada à breves momentos tendo uma importância maior próximo ao fim. Os demais não passam mesmo de escada para o andamento da história.
Em resumo, mais uma vez Clint consegue manejar seu filme ao seu tempo, e o faz muito bem dessa vez se colocando como o ponto principal de referência nesse mundo louco atual e de um cinema dominado pelas tenologias e se há a questão de que seu cinema ainda continua relevante, afinal ele pode conviver dentro deste universo? O filme nos responde e de forma bem simples...é claro que sim!
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