South Park é possivelmente a melhor comédia televisiva da atualidade. É uma série que dá o dedo do meio para o politicamente correto e não faz distinção na hora de fazer piada: religião, racismo, politica, hipocrisia (tanto norte-americana quanto do ser humano)...definitivamente não é para os que se ofendem facilmente. Infelizmente, o programa sempre teve que lidar com as limitações da televisão americana (censura de palavrões e nudez...violência nunca foi um problema, sei lá por que motivo). Então, com este filme, os criadores Trey Parker e Matt Stone (este último trabalhando apenas no roteiro deste) resolveram abusar da liberdade que o cinema proporcionava. O resultado foi uma obra-prima da comédia que é tão boa ou melhor que o seriado.
O diferencial entre este filme e o seriado, além da duração e a ausência de censura, é que South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes é um musical. E esta se mostrou uma decisão acertadíssima: os números musicais são divertidíssimos (a canção Blame Canada foi inclusive indicada ao Oscar), ocasionalmente belos (La Resistance, além de ter uma letra hilária, é de certa forma encorajadora e muito bonita), e servem como um excelente instrumento narrativo. Nenhuma música parece deslocada, todas contribuem para o ritmo do filme. Então, além de uma ótima comédia, este é um excelente musical.
Os personagens, vindos da televisão, continuam carismáticos como sempre. Surpreendentemente, do quarteto de protagonistas, todos têm um desenvolvimento emocional satisfatório, além dos vilões e personagens que aqui fazem sua primeira aparição. E até os secundários têm seu destaque, muito bem implementado na trama, cujo andamento nunca é comprometido. Ver a subtrama do Sr. Garrinson é uma experiência divertidíssima, e ela ocupa o tempo ideal no filme. Os dubladores da série estão de volta (seria uma decepção se não voltassem, ainda mais se considermos que Parker e Stone estão envolvidos) em interpretações deliciosamente estúpidas. O elenco ainda conta com o luxo de pontas muito bem colocadas de Eric Idle e George Clooney.
Poucos comédias têm a coragem desta. O seriado sempre foi conhecido por tocar em temas polêmicos, e o filme não é exceção. Desta vez, os alvos de crítica são a hipocrisia americana e sua constante criação de guerras infundadas, além da censura. Como se não bastasse, South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes ainda têm criticas aqui e ali à religião (reparem a população do céu e inferno), racismo (uma cena da reunião do exército é especialmente hilária, com uma das frases que mais me fizeram rir na vida), e à
supervalorização de celebridades. E, até hoje, o fato de terem realmente utilizado uma imagem real de Saddam Hussein na composição de seu personagem me impressiona. Na trama, Hussein, após ter sido pisoteado por uma manada de rinocerontes (???), morre e vai para o inferno, onde estabelece uma relação gay com o Diabo em pessoa. E o simples fato de Satã aparecer como um personagem carismático já é surpreendente. Só em South Park mesmo...
Este não é um filme para ser levado a sério, o que é evidenciado pela qualidade tosca da animação, extremamente simplista e propositalmente truncada e mal-feita. E isto não é defeito de jeito nenhum, apenas faz o filme- assim como o seriado- ficar ainda mais divertido, e (por que não?) charmoso - Um charme imbecil, mas ainda assim um charme. E se a animação é de baixa qualidade, o mesmo não se pode dizer da já mencionada excelente trilha sonora, e não estou brincando ao afirmar que este filme entra facilmente em um top 20 musicais, talvez até em um top 10.
South Park: Maior, Melhor e Sem Cortes é um filme extremamente corajoso. Disfarçada por trás de tanta estupidez, há uma genialidade inestimável, que faz deste uma das melhores comédias já feitas. Já ofendeu e continuará ofendendo muitos - e estes certamente precisam ser ofendidos de vez em quando- ,através de sua linguagem obcena, violência, críticas a assuntos polêmicos e total desrespeito ao politicamente correto. Mas os que tiverem uma mente mais aberta- afinal, é apenas uma comédia! - provavelmente irão chorar de rir.
Cara belo texto... O mais hilário pra mim é que Satanás é gay cara!!! Como que o Diabo é gay bicho? KKKKKK!