Nos anos 50, Stanley Kubrick ainda estava em início de carreira e já tinho feito a sua primeira película O Grande Golpe (1956), e neste aqui dirigira o ator Kirk Douglas em um drama de guerra com misto de tribunal, Glória Feita de Sangue mostra os absurdos da Primeira Guerra Mundial, e a partir daqui Kubrick demonstraria para o que viera fazer durante seus próximos 42 anos que marcariam mais a sua carreira como um grande cineasta.
O filme conta a história de um grupo de soldados que são acusados de covardia, após fracassarem a tomada do Formigueiro, uma área de grande vantagem estratégica nas mãos de soldados alemães, tudo isto na Primeira Guerra Mundial, e Coronel Dax (Kirk Douglas) é ordenado a escolher um soldado de cada um dos três regimentos para serem levados á corte marcial para serem levados a pena de morte por tal "covardia". Porém Coronel Dax está disposto a lutar pelos seus soldados serem inocentados de tal "crime".
Neste filme, Kubrick faz questão de mostrar o total absurdo da guerra, começando pelo fato de soldados serem julgados e levados a pena de morte por covardia, através de um roteiro que enfatiza tudo isto através de ações e escolhas intolerantes de oficiais de alta patente e o desespero dos soldados que irão a julgamento, ou de sua direção única, mostrando que era um dos poucos cineastas corajosos em Hollywood naquela época, impondo personalidade e estilo próprio.
As atuações são ótimas, principalmente Kirk Douglas que além de uma ótima presença atua muito bem neste filme dando vida a um homem idealista e correto, diferente de seus comandantes, como o próprio General Mireau (George Macready) ou General George Broulard (Adolphe Menjou), que exalam patriotismo, intolerância e incompreensão atrás das paredes de suas salas confortáveis, em contraste com a realidade dos soldados que precisam demonstrar coragem em meio a explosões e tiroteios, e são tratados como simples peças do tabuleiro de xadrez, em que o que importa é matar o rei, independente de quanto for sua perda.
Stanley Kubrick já dá sinais de seu perfeccionismo obsessivo tão conhecido de quem trabalhou com ele, e se dá destaque a cena em que ocorre a fracassada investida contra o Formigueiro, na qual tudo é filmado de um tal realismo, impressionante para tal época em que havia poucos recursos técnicos, cuja proeza voltaria a realizar em 1969 com 2001: Uma Odisséia no Espaço, além de criar polêmica, já que era um filme de discurso anti-guerra com críticas ao estado e ao militarismo no auge da paranóia da Guerra Fria.
A fotografia é excelente, dando destaque no contraste de sombras e na iluminação em cenas interiores, enquanto a direção de arte trabalha em cima do conceito do cineasta, dando beleza aos salões luxuosos frequentados pelos grandes generais e às precárias condições das trincheiras em que os soldados se estabeleciam.
Glória Feita de Sangue, junto com Apocalypse Now de Coppola e O Grande Ditador de Chaplin, é um dos maiores filmes anti-guerra da história do cinema, e Kubrick, com seu discurso ácido a umas das coisas mais estupidas e imbecis que o ser humano inventou até hoje: GUERRA!
"O patriotismo é o último refúgio do canalha."
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