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Críticas

À Procura da Felicidade

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Baseado em uma história verídica, "À procura da felicidade” ("The Pursuit of Happyness"), apresenta Chris Gardner, um simpático vendedor com sérios problemas financeiros, interpretado pelo elogiável Willl Smith.

O diretor Gabriele Muccino quis transmitir a angústia do momento vivido pelo personagem central, transpassando tudo de forma bem clara, intensa e realista. Por isso o decorrer da estória se torna mais incômodo do que emocionante, enquanto a inquietação causada no espectador por intermédio da situação desfavorável pela qual Chris passa, chega a indignar.

A impressão que fica é que o mesmo foi amaldiçoado por todo o azar do mundo, o que faz a torcida por Chris, por mais previsível que seja seu positivo desfecho, ser inevitável.

Alguns dos pontos altos do personagem principal se dão junto às cenas diretas com o filho Christopher, vivido pelo pequeno e estreante Jaden Smith.

Para quem não sabe, Jaden é filho de Will Smith na vida real. Obviamente por isso a química entre pai e filho na ficção ficou perfeita.

Inclusive, o menino em termos de atuação não decepciona e consegue até mostrar segurança junto ao personagem. Ele que também participa mais tarde do fiasco "O dia em que a terra parou", provando aí que seu potencial não está engessado à aba do pai.

Já Will se mostrou um promissor ator de comédia a partir do extinto seriado cômico em que estrelava "The Fresh Prince". Desde então, ele tem sido bem sucedido em gêneros variados do cinema como: ação, comédia romântica, aventura, suspense e agora, drama.

Portanto, sem sombra de dúvida, estamos diante de um dos mais versáteis atores de Hollywood.

Voltando-se ao filme em questão, contamos ainda com uma ponta de Thandie Newton interpretando a esposa de Chris, provando ela ter fôlego para encarar personagens bastante densos, habilidade descoberta em “Crash – no limite”, filme no qual ela brilha involuntariamente.

Nos poucos minutos em que aparece, Thandie consegue irritar consideravelmente, devido a sua personagem abandonar o mocinho da estória logo que a situação financeira começa a desmoronar.

Está certo que depois disso não nos lembramos mais dela, no entanto, ainda assim seu trabalho foi bem feito, pois se o objetivo era causar antipatia, ela conseguiu.

Bom, quanto ao roteiro, este é bastante simples e não oferece muito a ser explorado, além das tentativas frustradas de Chris em conquistar seu objetivo profissional em busca de estabilidade para criar o filho.

Na verdade, as situações com as quais ele se depara são dignas de um dramalhão mexicano, transitando-se por todo tipo inimaginável de problema.

E como resultado ele e o filho terminam desabrigados, possuindo apenas a roupa do corpo. Sendo assim, as inevitáveis cenas carregadas de drama e lágrimas vêm aos montes. Entre essas eu destaco especificamente uma em que ele, por meio de um choro sufocado dentro de um banheiro público com o filho nos braços, tenta exprimir seu desespero pelo fracasso... Impossível não sentir nada diante de tal situação. Ainda mais por tantas dificuldades não serem notadas pelos colegas e pessoas com as quais ele convive. Seres esses tão condicionados, que se tornaram pessoas automatizadas.

Mas é certo que “À procura da felicidade” ao retratar uma história real comprova que nem assim os exageros e os típicos clichês para conseguir comoção são medidos ou economizados.

Contudo, ao ver a performance de Will Smith tão preparada, madura e compenetrada, conduzindo uma história tão motivadora, contando ainda com a presença de seu filho numa atuação tão sincera, a experiência não poderia ser mais gratificante.

E o mais importante é que a mensagem do filme, sem dúvida, é passada com total beleza e precisão: lutar incondicionalmente por seus objetivos.

Nesse caso, a intenção, por sua vez, supera os furos, ratificando aqui que é possível um filme ser encantador, independente da originalidade.

Em sequencia, o desfecho mostra Chris alcançando seu ideal através de um estágio a principio não remunerado, após sua luta diária em torno da única vaga disponível.

O nó na garganta formado pela emoção e o alívio foi inevitável em mim nesse momento, mesmo já esperando por tal final.

Sem mais, na carreira de Smith, “À procura da felicidade” deve ter sido um marco,

afinal, o sucesso de público foi notório (o longa arrecadou no primeiro final de semana de exibição US $27milhões) e sua atuação foi indicada ao Oscar.

Por tantos méritos, só me resta recomendar este longa que não é nada mais nada menos que uma lição de vida, acompanhada de uma comovente representação.

Críticas

Fantasma da Ópera, O

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Joel Schumacher já provou diversas vezes ser um diretor medíocre. Quem não se lembra de suas "pérolas" "Batman Eternamente" e "Batman & Robin"? Após realizar diversos filmes fracos, parecia que, em 2004, Schumacher iria encontrar a redenção na adaptação do musical mais famoso de todos os tempos para o cinema, "O Fantasma da Ópera". Mas o resultado ficou bastante abaixo do esperado.

O filme se passa no fim do século XIX, em Paris. Diva da cidade, La Carlotta (Minnie Driver) desiste de atuar na ópera "Hannibal" no dia da estréia, e os novos diretores do teatro, o senhor Andre (Simon Callow) e o senhor Firmin (Ciarán Hinds) dão uma oportunidade a Christine Daae (Emmy Rossum), que foi criada pela diretora do local, Madame Giry (Miranda Richardson). Porém, Christine possui um protetor misterioso, que lhe ensinou a cantar e exige constantes pagamentos para não causar desastres ao teatro. Ele é conhecido como o Fantasma da Ópera (Gerard Butler).

A história poderia render um belo filme, com as mágicas canções da ópera. Porém, o roteiro é realmente muito ruim. Quase todos os personagens, com a possível exceção de Christine, são mal constrídos, sem profundidade alguma. O pior caso é o da Madame Giry, a qual não sabemos de que lado está e não acresecenta absolutamente nada ao filme, além de contar a origem do fantasma. Os diálogos são sofríveis na maior parte do tempo, especialmente aqueles entre Christine e o Visconde Raoul (Patrick Wilson), o "casalzinho" do filme.

Pior mesmo que o roteiro são as atuações, que devem entrar entre as piores da década. Gerard Butler não convence como o Fantasma, criando um personagem extremamente caricato, que em momento algum lembra um ser ameaçador. Além do mais, apesar de não cantar mal, sua voz "sensual' quase estraga algumas das canções mais famosas de todos os tempos. Patrick Wilson está absolutamente patético com Raoul, o grande amor de Christine e o bom moço , e suas cenas são as piores de todo o filme. Emmy Rossum é completamente inexpressiva e, apesar de ter uma voz doce, parece mais um "boneco de cera" na maior parte da película. Miranda Richardson, que já esteve ótima em filmes como "A Lenda do Cavaleiro Sem Cabeça" e "As Horas", é prejudicada pelo vazio de sua personagem e nos brinda com a pior atuação de sua carreira.

Os coadjuvantes se saem um pouco melhor. Simon Callow e Ciarán Hinds, nos papéis dos donos do teatro, se esforçam para conferir algum humor a trama. Na maior parte do tempo, são acompanhados em cena por Minnie Driver, a única que foi dublada nas cenas musicais. Ao contrário do que muitos dizem, Driver é a melhor do elenco, pois constrói uma atuação caricata na medida certa para interpretar La Carlotta.

As canções insesquecíveis estão lá, mas são muito prejudicadas pelo desempenho dos atores. A cena de Christine e Raoul no telhado soa absolutamente ridícula. A seqüência do cemitério também, com Raoul cavalgando em um cavalo branco (que clichê!) para salvar Christine das mãos do malvado e sedutor Fantasma!. O que salva "O Fantasma da ópera" do desastre total, acretem se quiser, é Joel Schumacher! Auxiliado por uma ótima direção de arte (embora irregular em determinadas seqüências) e pela bela fotografia, Schumacher consegue criar bons momentos, como o Baile de Máscaras, a melhor cena do filme, ou a cena inicial, relamente muito bonita quando saímos do preto e branco para o luxo do teatro.

Enfim, "O Fantasma da Ópera" é mais um filme ruim para a carreira de Joel Schumacher. Uma pena, porque um diretor mais competente (claro, tendo um roteiro melhor em mãos) poderia ter criado um clássico, uma obra-prima. Só há uma palavra para defenir este filme: decepção.

Críticas

Lobisomem Americano em Londres, Um

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“I see the bad moon arising”

Depois de dirigir a comédia musical "Os Irmãos Cara-de-Pau” (1980), sucesso de crítica e público, John Landis (bom diretor de comédias dos anos 70 e 80) recebeu carta branca dos estúdios e partiu para um projeto mais ousado e pessoal: reviver o mito do lobisomem nos cinemas, algo que já fora feito antes, mas agora de uma maneira mais autoral e cômica. Então com dinheiro e um bom roteiro (escrito por ele mesmo) nas mãos, boas idéias na cabeça, um elenco desconhecido e o melhor profissional de maquiagem cinematográfica (seu amigo Rick Baker) a sua disposição, Landis criou um pioneiro e genuíno representante do “terrir", gênero que mistura terror com boas doses de comédia. Assim nasceu "Um Lobisomem Americano em Londres".

"Lobisomem Americano..." conta a história de dois jovens americanos a mochilar pelo Velho Continente e que de uma hora para outra se veem envolvidos em uma maldição milenar que se manifesta nas noites de lua cheia. Como já foi comentado em vários lugares, os primeiros vinte minutos são uma verdadeira aula de como criar tensão e terror sem apelar para sustos fáceis ou o irritante volume sendo aumentado até níveis ensurdecedores, mas através do uso de elementos simples e eficientes, vindos daquelas velhas histórias de terror que costuma-se ouvir a beira da fogueira ou em reuniões de amigos, mas que nunca perdem força pela sua capacidade verdadeira de causar medo.

O filme começa com os dois jovens citados anteriormente, David e Jack (David Naughton e Griffin Dunne), pegando carona na boleia de um caminhão de ovelhas. Eles descem do caminhão e andam por uma estradinha conversando sobre a vida, namoradas e outras coisas (o interessante é que boa parte dessas falas foram improvisadas pelos próprios atores, por isso soam tão espontâneas). Continuam caminhando até o anoitecer quando chegam a um vilarejo incrustrado no interior da Inglaterra. Lá entram numa taberna de nome curioso-O Cordeiro Estraçalhado- e são recebidos com frieza pelos seus frequentadores, que parecem não gostar da presença dos forasteiros. Os dois por sua vez acham o lugar muito estranho e perguntam o porquê da presença de um pentagrama na parede (nessa hora é feita até uma referência ao filme O Lobisomem de 1941 com Bela Lugosi). É aí que o clima fecha de vez: depois de uma discussão os habitantes os expulsam do bar e lhes dão algumas sábias recomendações-sempre andar pela estrada e tomar cuidado com a lua-, mas como bons jovens americanos que são eles resolvem fazer tudo ao contrário e são atacados por uma criatura monstruosa. Jack morre e David fica ferido só não tendo o mesmo fim que seu amigo, pois alguns habitantes locais (os mesmos do bar) matam a fera antes disso e o salvam. Esta cena do ataque em especial é muito bem conduzida. Nada de câmera tremida, falsos sustos ou a trilha sonora assustadora típica desses momentos do filme. Não, tudo é muito cru e repentino, uma hora os dois estão caminhando tranquilamente e na outra estão sendo atacados, o que para mim tornou tudo mais crível e, portanto, mais assustador. Quando vemos Jack sendo estraçalhado pelo monstro, gritando socorro ao amigo, com este sem saber o que fazer é muito real, ponto para o filme.

Voltando a história, já em Londres onde David é levado para se recuperar, ele tem sonhos surreais e estranhos sobre o ataque que sofrera e é visitado pelo seu amigo morto Jack, todo ensanguentado e retalhado, ao contrário dos mortos de outros filmes que fazem suas aparições limpinhos, como se nada tivese acontecido a eles, o que convenhamos não é muito coerente. Pois bem, após o susto inicial, Jack comunica a David que ao sobreviver ao ataque da fera, que na verdade era um lobisomem, ele foi condenado a uma maldição e que ele próprio (David) se transformaria em um lobisomem toda noite de lua cheia. E mais, todas as pessoas mortas por David enquanto ele estiver no estado transformado serão vitimados ao estado de mortos-vivos, assim como Jack. Este então pede que David se mate antes que seja tarde, ou seja, antes que ele se transforme em lobisomem. Atormentado e ainda um pouco incrédulo com essas revelações, David sai do hospital e vai passar uma temporada na casa de Alex, a enfermeira que conheceu no hospital e com quem inicia um romance. O casal passeia por Londres e seus pontos turísticos e por um momento David esquece os acontecimentos terríveis por que passou. Mas em uma noite de lua cheia, enquanto Alex está de plantão, Jack volta a aparecer a David, só que mais putrefato e repugnante, e mais uma vez tenta o convencer a coisa certa: dar cabo a própria vida. Só que é tarde demais e ele começa a sentir coisas estranhas. Têm-se então o clímax do filme: a transformação de David em lobisomem.

Chega-se aí no ponto principal e ao verdadeiro feito do filme, aquele que o marcou para posteridade, para além do roteiro e da direção (ótimos também), que é a maquiagem cinematográfica, essa talentosa maquiagem que permitiu a impressionante e dolorosa transformação do protagonista em lobisomem, a melhor que o cinema criou até hoje. E dolorosa é a palavra certa para caracterizar essa transformação, pois o que vemos em tela é a pura representação de dor: ossos se alargando, crânio se expandindo, dentes crescendo, pêlos brotando, unhas surgindo, o próprio corpo quase não surportando tamanha mudança e gritos de horror. Tal dor e incômodo não ficou restrita ao personagem, o próprio ator que interpreta o protagonista passou por horas de maquiagem e implantes de próteses e lentes que o irritavam bastante, sem falar na fabricação dos moldes de gesso que despendiam dele outras várias horas completamente imóvel para não estragar a moldura. Todo esse exaustivo e engenhoso trabalho de maquiagem somado aos efeitos especiais e aos truques de direção e edição de Landis tiveram como resultado esta incrível cena de metamorfose que surpreende até hoje pelo realismo, muito melhor que a de lobisomens de filmes atuais como Van Helsing e Anjos da Noite, feitos de CGI e computação gráfica e que não inspiram um pingo de naturalidade. E o grande mérito dessa competente realização é de Rick Baker, um dos maiores maquiadores cinematográficos de todos os tempos, que fez o que pode se chamar sem exageros de um trabalho genial, que foi recompensado com um Oscar em uma categoria que acabara de ser inaugurada, a de Melhor Maquiagem em 1982.

O magnífico trabalho de Rick Baker acabou ofuscando a ótima direção de John Landis, que hoje em dia anda completamente esquecido. O roteiro escrito pelo próprio Landis quando ele tinha apenas 19 anos, é muito bem aproveitado no filme, principalmente no que diz respeito a presença de partes cômicas em perfeito equilíbrio com as partes assustadoras, ambas muito eficientes e não havendo sobreposição de nenhuma delas durante a história, o que tornaria o filme irregular e confuso. Aliás, a inserção de humor em um filme de terror foi pioneira e influenciaria muitos outros filmes como a trilogia Evil Dead, “Fome Animal”, e várias sequências das franquias “Sexta-Feira 13” e “A Hora do Pesadelo, que até tiveram um início “sério”, mas depois se renderam ao cômico. Outro ponto inteligente explorado foi o suspense, ao deixar para perto do final a aparição do monstro, a maneira de Spielberg em “Tubarão”.

A trilha sonora do filme é muito legal. Ela difere dos temas típicos de filmes de terror e é composta por várias músicas que falam sobre a lua (como “Blue Moon”, de Sam Cooke; “Bad Moon Rising” do Creedence; e “Moondance” do cantor Van Morrisson). Nada mais condizente a um filme de lobisomem e as músicas são muito boas. Quanto às atuações, elas não estão nada inspiradas, mas cumprem bem seu papel nas duas frentes do filme, horror e humor. A química entre os atores é muito boa também, principalmente dos dois protagonistas, que parecem ser amigos de verdade. Dos atores do filme nenhum vingou no cinema, tirando Griffin Dunne que fez o ótimo “Depois de Horas” do Scorsese.

Enfim, “Um Lobisomem Americano...” é um filme que criou conceitos e aprimorou as técnicas de efeitos especiais e maquiagem a outro patamar e um filme-referência dentro do sub-gênero de filmes de lobisomem, assim como “A Noite dos Mortos-Vivos” o é no gênero de zumbis. E para além dessas denominações é um ótimo filme de se ver, cinema de primeira qualidade, recomendado a todos que apreciam um bom filme de terror.

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Todos os Homens do Presidente

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Em 1972 os EUA viam passar um dos maiores incidentes de corrupção na sua história política, o escândalo Watergate, no qual o gabinete do presidente Richard Nixon se envolveu em um complicado esquema de espionagem e difamação de candidatos democratas. Era o ano de 1976 quando o diretor Alan J. Pakula dirigia um dos mais instigantes thrillers de mistério e investigação política sobre o já citado incidente.

De forma ousada, o filme esmiúça os bastidores do escândalo através da história de dois repórteres do Washington Post, Carl Bernstein (Dustin Hoffman) e Bob Woodward (Robert Redford), sedentos por uma boa matéria sobre o caso e determinados a irem até o fim para trazer à tona aquilo que o FBI, a CIA e o governo americano negam com veemência. Os dois jornalistas lutam incansavelmente para conseguir a aprovação de sua matéria pela direção do jornal, que vê com desconfiança o trabalho da dupla e teme que esta empreitada coloque o Post em uma posição delicada à opinião pública e aos chefões da Casa Branca.

Woodward e Bernstein são ambiciosos e sua determinação mais parece uma obsessão; em determinado momento eles pedem todas as comandas de retiradas de livro de um ano em uma biblioteca para saber se um dos envolvidos no Comitê para a Reeleição do Presidente procurou arquivos sobre os Kennedy; mostrando o lado humano destes “paladinos da justiça”. Em uma montagem impressionante eles se vêem cada vez mais enredados em uma linha de corrupção que chega até os mais importantes homens do partido Republicano. E quanto mais longe chegam nessa investigação, mais percebem que estão em um caminho sem volta.

É conhecido desse incidente o informante de Woodward, o Garganta Profunda, enigmático e profundo conhecedor do escândalo, avisa ao repórter que a vida deste pode estar em risco após cavar tão fundo. O que leva a uma angustiante cena em que o jornalista foge de um possível perseguidor em meio a desertas ruas nos subúrbios, de maneira que as feições de pânico de Robert Redford tornam a cena algo como o clímax do filme.

Este aliás é o ponto alto, as interpretações de Redford e Hoffman dão verossimilhança e carisma inaudito aos dois repórteres, o controlado e certinho Redford e o hiperativo Hoffman são o perfeito contraste, os dois lados da mesma moeda. Dois homens cumprindo o seu dever como parte da imprensa, mas com duas personalidades perfeitamente contraditórias, e ainda assim perfeitamente entrosados por conta de seu objetivo comum.

Todos os Homens do presidente é assim ao lado de Cidadão Kane, um dos mais geniais filmes sobre jornalismo já escrito. Mostrando a face policial da imprensa de dissecar os fatos com objetividade e ir até o fundo destes para mostrar ao público aquilo que não seria divulgado em qualquer outro meio. E neste caso, chegando a ponto de obrigar um presidente à renúncia.

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Babel

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Não importa o lugar, não importa a língua, não importam as circunstâncias, não importam as pessoas. O problema da falta de comunicação existe e é sobre esse ponto de vista que o diretor mexicano Iñárritu convida o espectador a refletir sobre as diversidades culturais, a falta de informação, e o modo como a ausência da linguagem redunda em consequências impensadas.

Finalizando a trilogia que o diretor Alejandro González Iñárritu iniciou em 2000 com Amores Brutos e deu continuidade em 2003 com 21 Gramas, Babel manteve a qualidade dos outros dois filmes que lhe antecederam, mas foi o que mais obteve resultados em premiações, incluindo o Globo de Ouro de Melhor Filme Dramático, o prêmio de Melhor Diretor no Festival de Cannes e o Oscar de Melhor Trilha Sonora, além da indicação na categoria principal. A característica rasa dos filmes da trilogia de Iñárritu pode ser exatamente o roteiro, inspirado belissimamente em problemas culturais, sociais, econômicos, políticos e raciais gerados pela globalização, ou até mesmo, pela falta dela. E é sobre esse panorama do mundo atual, que o roteiro de Guillermo Arriaga constrói quatro histórias paralelas, cujo único nó se resume uma atitude irresponsável, causada principalmente pela falta de informação, que vai acabar levando cada núcleo até onde não queria chegar.

E é apresentando cada personagem ao público que o filme começa, englobando primeiramente um núcleo de Marrocos, outro nos Estados Unidos, no México e no Japão. Inicando a história de forma inversa, as primeras cenas mostram dois meninos marroquinos no alto de uma colina, manejando um rifle que o pai lhes deu para atirar em cabras. Brincando e disputando pra ver quem consegue atirar mais longe, um tiro acaba atingindo um ônibus de turistas, onde uma americana e seu marido viajavam juntos. Ela é atingida e a partir dai, esse ato impensado das duas crianças vai virar polêmica e causar conquências em todo o mundo, chegando ao México e também ao Japão, e exatamente nesse momento, o filme começa a ganhar vida por si só, explicando como aconteceu cada fato inicial.

Cada núcleo do filme está ligado a outro justamente pelo acontecimento do início do filme e todos eles vão aparentar também o mesmo tipo de problema, a ausência de comunicação entre os personagens do mesmo núcleo. Para explicar melhor cada um deles, vou optar por tópicos.

1. Richard e Susan

Interpretados por Brad Pitt e Cate Blanchett respectivamente, o casal americano estava enfrentando problemas sérios no casamento, causados principalmente pelo fato de não haver mais conversas entre eles, apenas discussões. Eles então, viajam juntos ao Marrocos para tentar reestruturar o casamento. Seus problemas começam quando estão em um ônibus de turistas a caminho de povoados marroquinos. Seu tour pelo país é interrompido quando o mesmo ônibus é atingido por um tiro, que acaba por ferir Susan. Em uma corrida para salvar a vida da mulher, Richard procura ajuda em um povoado mais próximo.

2. Amelia, Debbie e Mike

Esses três personagens possuem relações que embora, não íntimas, são muito amigáveis. Amelia (interpretada com maestria por Adriana Barraza) é uma babá mexicana carinhosa e de confiança de Richard e Susan, que estão viajando no Marrocos e deixaram seus filhos, Debbie e Mike nas mãos dela. A babá, entretanto, estava de partida de volta para o México onde o seu filho se casaria, mas quando recebe a notícia que a patroa foi baleada durante a viagem, ela fica proibida de deixar as duas crianças sozinhas. Não tendo com quem deixar os filhos dos patrôes, ela decide levá-los junto até o México. O problema que ela terá que enfrentar é na volta, que não possui a carta de autorização da família das crianças e por isso, é acusada de sequestro.

3. Ahmed e Youssef

Os dois meninos marroquinos, que enquanto caçavam cabras no alto de uma colina, acertaram o ônibus onde Susan estava. Eles, que vivem com medo de contar ao pai o que fizera, tem de disfarçar e se livrar dos problemas que viriam ao encontro deles, fruto de consequências de todo o mundo.

4. Chieko e Yasujiro

O núcleo japonês envolve basicamente a adolescente surda-muda Chieko (Rinko Kikushi, indicada ao Oscar) e pelo seu pai, Yasujiro (Kôji Yakusho). A falta de comunicação aqui é clara, o simples fato de Chieko não poder ouvir, portanto~também não pode falar, mas não é somente isso. Ela e seu pai também não se entendem desde que a mãe dela morreu. Chieko tem alguns problemas de comportamento, especialmente pelo fato de ser a única menina virgem da turma dela e também por ser sempre vítima de preconceitos. Esse núcleo mostra toda a tecnologia japonesa, o mundo das drogas e como alguém que não escuta encara a realidade das pessoas sem problemas auditivos.

Todos esses núcleos vão se enterligar por outros motivos, cada um revelando alguma coisa de nova para a história. Esse é o grande trunfo do roteiro de Arriaga, que é fazer pensar e refletir sobre os atos de cada pessoa e no que resultaria caso alguma coisa desse errado, o que no caso, deu.

As interpretações estão todas acima da média, em destaque está Adriana Barraza, de longe a melhor do elenco e a única que brilha neste campo. Kikushi, embora indicada ao Oscar está muito bem, correta e revoltada. Brad Pitt, que fora indicado ao Globo de Ouro, consegue passar segurança no seu papel, assim como a sempre competente Cate Blanchett. O filme conta com a participação de Gael Garcia Bernal que participou da primeira parte trilogia de Iñárritu, a qual foi também o seu priemiro filme.

Alejandro González Iñárritu é sempre coeso e muito inteligente durante todo o seu trabalho como diretor em Babel. Entre sacadas de imagens brilhantes, e golpes de câmeras, assim como o modo como ele lida com o roteiro, é tudo muito interessante e bem pensado. Caso 2006 não fosse o aguardado e merecido ano de Martin Scorsese, que ganhou finalmente o Oscar de Diretor por Os Infiltrados, ele certamente levaria o prêmio.

Falando em Oscar, o filme só levou o prêmio de Trilha Sonora, o segundo prêmio consecutivo de Gustavo Santaonella, que ganhou no ano anterior pela trilha de O Segredo de Brokeback Mountain, e usou o mesmo artífio daquela vez, que inclui uma sequência de músicas ampliada por uma simples e singela composição de cordas, que engrandecem o longa.

Para finalizar, 'Babel' é um grande filme, com um tema inteligente, um roteiro magnífico e boas atuaçõs comandadas pelo excelente e cada vez mais promissor direotr Iñárritu. Filme bastante pretencioso, chega a ser demasiadamente cansativo e enrolado, mas que garante muito bem bons 142 minutos de drama pesado misturado com adrenalina. Uma ótima chance pra se conferir um filme tão diferente e diversificado como este.

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Fome Animal

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Peter Jackson ficou reconhecido mundialmente ao adaptar para os cinemas, no início do século XXI, a trilogia "O Senhor dos Anéis" com extrema ousadia e competência. Porém, esta ousadia já estava presente em trabalhos anteriores do diretor, como "Fome Animal", um filme trash, misto de comédia e terror, lançado em 1992.

Como todo flme trash, a história á absolutamente absurda de propósito. Em "Fome Animal", nos encontramos em uma cidade pequena na Nova Zelândia da década de 1950. Lionel (Timothy Balme), um tímido garoto local, acaba se apaixonando por Paquita (Diana Peñalver), uma latina que trabalha no mercado da cidade. Cero dia, eles decidem visitar o zoológico, porém tudo muda quando a mãe controladora de Lionel (Elisabeth Moody) é mordida por um estranho macaco e começa a se transformar em um zumbi canibal. Conforme Lionel tanta esconder da população a situação de sua mãe, outros acabam sendo "contagiados", espalhando a doença.

Em um filme com uma história tão "estrambólica", uma brncadeira com o cinema trash e os filmes de zumbi, situações completamente inusitadas acontecem, como zumbis transando e até tendo filhos! Porém, mesmo levando-se em conta que os absurdos são propositais, Peter Jackson peca pelo exagero. Há cenas constrangedoras de tão ruins, como o padre "karateca" que resolve atacar os mortos-vivos, ou a destes comendo sentados em volta de uma mesa. Outras, ao contrário, são muito divertidas, como a infestação de aumbis dentro da casa de Lionel, e a luta deste e de Paquita pela sobrevivência. O romnce dos dois, aliás, incomoda um pouco, e o filme só avança da metade para o final.

Ténicamente, não pode-se esperar perfeição de um filme B. Pelo contrário, tudo é feito de uma forma tão tosca que diverte. O elenco, inteiramente desconhecido do grande público, entra na brincadeira e cumpre bem seu papel. Os destques vão para Elisabeth Moody, no papel da mãe que se torna quase uma "zumbi-mor", e Ian Waltkin que interpreta o interesseiro Tio Les, uma interpretação caricatual que caiu como ma luva no filme. Também vale destacar a presença do bebê zimbi, responsável por algumas das cenas mais engraçadas.

"Fome Animal" está longe de ser uma obra-prima, mas foi um trabalho ousado de Peter Jackson, já indicando o talento deste gênio que nos trouxe "O Senhor dos Anéis". Mesmo exagerando em excesso em alguns momentos, "Fome Animal" diverte em sua "tosqueira". Mas é bom o espectador ter resistência a cenas nojentas, com tripas e sangue por todo lado, senão é melhor passar longe deste filme!

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Quanto Mais Quente Melhor

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Não quero andar como uma mulher, mas como um homem fingindo ser uma mulher." Essa foi a frase que o ator Jack Lemmon disse enquanto gravava as cenas de Quanto Mais Quente Melhor, filme dirigido por Billy Wilder e considerado a melhor comédia de todos os tempos.

O American Film Institute já disse. A revista Empire já disse. A revista francesa Cahiers du Cinéma já disse. Os mais respeitados e conceituados críticos do mundo já cansaram de repetir que não existe comédia melhor que 'Quanto Mais Quente Melhor', filme produzido, dirigido e escrito pelo diretor americano Billy Wilder, responsável pelos ótimos e inesquecíveis Crepúsculo dos Deuses e Se Meu Apartamento Falasse. Contando com um elenco ilustre, o filme do final da década de 50 provocou polêmica e acima de tudo, muitas, mas muitas risadas, afinal de contas estamos falando de um filme cujo tema é justamente preparado para fazer um espectador acabar de ver o filme e sair com dor na barriga de tanto rir.

A história, baseada nas idealizações de M. Logan e Robert Thoeren e adaptada para o cinema pelas mãos de Wilder e I.A.L Diamond conta a divertida e inteligentíssima corrida do saxofonista Joe e do contrabaixista Jerry para longe de Chicago, onde foram jurados de morte depois de presenciarem acidentalmente o real Massacre do Dia de São Valentim, onde a máfia ítalo-americana executou sete pessoas em uma garagem. Para fugir dos gansgters, a dupla é obrigada a se travestir e embarcar para Miami em um trem, junto a um grupo musical feminino. Lá eles conhecem Sugar Kane(Marilyn Monroe), uma mulher de beleza estonteante, que logo vira amiga dos farsantes. Entre sacadas de esperteza pura, o roteiro comete somente o erro de ser previsível demais em certas passagens, especialmente nas cenas iniciais, mas nada que atrapalhe o andamento e a diversão total do público, que não economiza risadas ao ver as expressões faciais que os atores John Lemmon e Tony Curtis fazem durante o filme.

Falando neles, não tem como escapar do clichê e dizer que os dois estão absolutamente soberbos nos papeis duplos e no caso de Curtis, triplo. Ele interpreta Joe, Josephine e ao mesmo tempo um milionário, que finge ser dono de uma empresa de petróleo para impressar a tal Sugar, ao qual apaixonou-se. Lemmon, no entanto, interpreta Jerry e Daphne, e é com certeza, o melhor do elenco, com suas caretas e risadas contagiantes. O papel de Sugar ficou a cargo de Marilyn Monroe, mas ela não era a opção ideal para Wilder, e sim Mitzi Gaynor, que recusou o papel, assim como Frank Sinatra, que era o primeiro da lista do diretor para interpretar o papel de Jerry/Daphne, não compareceu à reunião do elenco e perdeu o personagem para Jack Lemmon. O elenco por um todo atua de maneira fantástica, especialmente a dupla, a qual não resistimos e damos ótimas risadas. Pouca gente sabe, mas Tony Curtis fora dublado em praticamente todas as cenas nas quais ele teria que afinar sua voz, enquanto dava luz ao papel de Josephine. Quem emprestou sua voz para o ator foi Paul Free.

Não há muito para se falar de 'Quanto Mais Quente Melhor', uma vez que estragaria toda a diversão de quem lê comentário, caso contasse algum detalhe sequer. Não se engane, o roteiro prepara boas surpresas para o espectador, mas em alguns momentos, eles acabam sendo previsíveis o suficiente para termos a impressão de que já vimos isso em algum lugar, mas como não poderia deixar de ser, esse filme era uma novidade sem tamanho para a época, e causou polêmica por onde passou, especialmente sendo motivo para discussões religiosas, que diziam que mostrar no cinema cenas com homens travestidos era incentivar o mal uso do comportamento de cada pessoa e que os vestidos usados pelos atores no filme eram no mínimo, obcenos.

A questão é que não foram somente acerca da exibição de "Some Like It Hot" nos cinemas que causou discussões e polêmicas, mas também em relação aos bastidores, que renderam algumas dores de cabeça para o diretor Billy Wilder, dores que resumiam ao fato de ter Marilyn Monroe dentro do projeto. São lendas, mas embora tudo indique que seja a mais pura e nua verdade. O fato é que segundo o próprio diretor, não haveriam tantos problemas na produção se Monroe não estivesse vinculada a ela. A atriz frequentimente possia lapdos de memória e simplesmente não conseguia falar simples palavras como It's me, Sugar", pelas quais ela trocava a ordem e como resultado, era comum vir "It's Sugar, me". Para rodar essa simples parte de um diálogo, Wilder teve que escrever a frase que a triz deveria falar em um quadro negro. Foram necessárias 47 tomadas até que Monroe conseguisse acertar o diálogo. Mas ela conseguiu demorar mais ainda em uma outra frase: Where's the bourbon?", na qual ela trocava incessantemente a ordem das palavras ou até mesmo alterava por outras. Conforme Wilder disse, ele quase sofreu um colapso nervoso, pois fora obrigado a escrever a frase em uma das gavetas na qual ela deveria pegar o bendito uísque. Mas como mesmo assim, ela ainda se confundia, ele resolveu escrever o diálogo em bilhetinhos e colocá-los em todas as gavetas, para que conseguisse rodar o filme, finalmente. Talvez foi a partir daí que a pobre Marilyn Monroe passou a ser chamada do mesmo apelido que acompanhou-a até a sua morte, três anos depois.

Entre as cômicas e irrestíveis cenas do filme, a do tango é uma das que mais fazem divertir o espectador, enquanto Daphne dança com uma rosa na boca com o personagem de Joe E. Brown, ou na cena em que ele (ou ela) avisa que vai se casar com o milionário, mesmo sabendo que é um homem. Em um teste de exibição do filme, no qual teve a participação da platéia, essa cena foi alvo d etantas risadas que mal dava-se para acompanhar os diálogos seguintes, portanto Wilder resolveu remilar a cena e acrescentar mais uma parte que Daphne balança os chocalhos, para dar tempo da platéia rir a vontade.

Quanto Mais Quente Melhor é um filme imperdível, ainda mais para quem é cinéfilo. Um filme engrçado, uma comédia inteligente como poucas, muito bem escrita, interpretada e dirigida por um dos mestres do cinema Billy Wilder. Perder é pecado.

"Nobody's perfect"

Críticas

Jogos Mortais

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Quando filmes de baixo orçamento são lançados, normalmente são deixados de lado pelo público, acostumado a ir assistir no cinema aos grandes filmes “arrasta-quarteirão”. Mas quando esses mesmos filmes apresentam uma imaginação e uma premissa surpreendentes, o público e a crítica começam a olhar com melhores olhos. E vão ao cinema assistir. E gostam! Foi isso o que aconteceu com Jogos Mortais (Saw, 2004).

Quem vê o trailler de Jogos Mortais já tem uma idéia do que está por vir: um assassino surpreendente, que aparente ser incapturável, faz sua matança incontrolável e derrama litros de sangue no filme inteiro. E é pego no final. Isso acontece em Jogos Mortais? Em parte. Inclusive, é a imprevisibilidade a principal marca deste filme dos amigos e estudantes de cinema James Wan e Leigh Whannel. Imprevisibilidade que é ajudada, e muito, pela fotografia perfeita, pela excelente trilha sonora (quem não se arrepia com a música do final?) e pelas atuações convincentes do próprio Leigh e de Danny Glover.

Adam (Leigh) e Lawrence Gordon (Cary Elwes, apático) acordam acorrentados em um banheiro sujo e abandonado, sem saber onde estão. Só o que eles têm de informação é uma fita deixada para cada um em seus bolsos, que descreve seus jogos.

Enquanto se passam os acontecimentos no banheiro, assustadores e doentios jogos parelelos são realizados, mas apenas uma mulher consegue sobreviver. E a polícia, representada principalmente pelo competente detetive Tapp (Danny Glover), dispõe todos os seus esforços para deter o assassino Jigsaw (Quebra-cabeça).

A premissa de Jigsaw para cometer seus atos: quem não aprecia a vida não merece viver. Suas vítimas são sempre pessoas cujas vidas foram marcadas por situações ruins, como Amanda (Shawnee Smith), a única sobrevivente, uma drogada presa uma vez por posse de drogas. Seus fins são, sim, interessantes, mas nem sempre os fins justificam os meios.

Com várias reviravoltas e surpresas, Jogos Mortais deixa o espectador com os olhos presos na tela até chegar a seu inacreditável final, sem dúvida um dos melhores dos últimos tempos. Se você procura um filme de terror para se deliciar na mente de um assassino genial, para ver sangue, ou só para se divertir da sua forma, não deixe de assistir a Jogos Mortais!

Críticas

Stay Alive - Jogo Mortal

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A adaptação de games aos cinemas tem sido, nos últimos tempos, uma febre entre os cineastas. “Tomb Raider” fez grande sucesso, “Resident Evil”, nem tanto. Mas desta vez eles resolveram fazer o contrário: inventaram um jogo exclusivamente para o filme, e os espectadores assistem, simplesmente, aos personagens jogando o tal jogo. Estranho, não? Muito! Deu certo? Não.

“Stay Alive - Jogo Mortal” conta a história de jovens amigos altamente viciados em jogos de video game e online. Um deles, Loomis, recebe um novo jogo, chamado “Stay Alive”, para testar, tando a garantia de que é um dos jogos mais aterrorizantes de todos os tempos. O jogo é baseado na história de Elizabeth Bathory, uma condessa que matava jovens e se banhava em seu sangue. Não posso negar que o jogo me atraiu, mas o que acontece com as pessoas que jogam é o que tira totalmente a crença de que estamos assistindo a um filme sério: sem motivo aparente, quem morre no jogo, morre na vida real. Quem mata? A própria condessa. Como ela faz isso? Pergunte à imaginação ilógica e ilimitada dos produtores do filme!

Como já foi dito anteriormente, Loomis recebe o jogo para testar e morre após ser morto no jogo. Seu amigo de infância (e de video games), Hutch, sente-se culpado pela morte do amigo, pois ele deveria estar jogando com ele na noite de sua morte. Para “compensar”, ele reúne os amigos para jogar Stay Alive em memória de Loomis. No dia seguinte, a matança da condessa continua, fazendo de vítima o chefe de Hutch, Miller. Premissa perfeitamente previsível para os amigos começarem a tentar desvendar os mistérios dos assassinatos e o modo como podem fazer isso parar.

A obviedade do filme pára nisso, porque a história gira em torno do próprio jogo e das mortes em massa provocadas pelo mesmo. Não há mais nada, apenas isso! Ah, e é claro, tem ainda as subtramas decorrentes do jogo, como a suspeita de que Hutch seria o autor dos crimes, o que dura, no máximo, 20 minutos. Um desafio à paciência dos espectadores, que, se tiverem o mínimo de bom gosto e, eu me arriscaria a dizer, senso de ridículo, não se conforma em pagar o ingresso e/ou perder uma hora e meia de sua vida assistindo a um filme que mostra um bando de jovens que não fazem absolutamente nada além de ficar o dia inteiro jogando ou buscando uma explicação para o inexplicável!

Outro fato que me intriga é que, mesmo com as mortes não cessando, com mais e mais amigos morrendo, os sobreviventes continuam jogando! Por que não, simplesmente, acabar com o jogo, tirar o CD do drive, sumir com o CD?? Além disso, por que, quando as pessoas jogam uma rosa, a condessa se afugenta??? E o pior: isso acontece tanto no jogo quanto na vida real! Absurdo!

O elenco também não ajuda. Jovens sem muito talento foram escalados para fazerem de Stay Alive um espetáculo de horrores, um filme que só agrada àqueles fanáticos por video game, que nunca tinha visto um filme cujo tema central é um game. Mas, ao se depararem com um filme em que praticamente nada se encaixa, exceto pelos figurinos interessantes e pela trilha sonora boa, mas inoportuna, esses mesmos fãs desanimam.

Stay Alive é um filme para ser visto uma vez comendo pipoca no cinema com a pessoa amada do lado. Por quê? Quem vai ao cinema com a pessoa amada, não vai ver filme nenhum, né? E, convenhamos, pagar para ver esse desastre só vale a pena desse modo mesmo!

Críticas

Perfume - A História de um Assassino

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Uma adaptação de um livro de sucesso quase sempre se torna um filme, ao menos, confiável para se ver. Mas o que se esperar quando esse mesmo filme foi pretendido por diretores renomados como Tim Burton e Martin Scorsese? Se você pensou: um filme excelente, que é capaz de agradar a americanos e afegãos, acertou! “Perfume: a história de um assassino” (Perfume: story of a murderer, 2006) é um drama misturado com pitadas de suspense que convence em todos os aspectos, deixando poucas brechas para dúvidas e contestações.

O filme se passa na sombria e suja França do século XVIII. Jean-Baptiste Grenouille nasceu em meio a essa sujeira e caos, de uma forma inusitada: sua mãe, que não fazia questão de seu nascimento, deu à luz embaixo da barraca onde trabalhava na feira. Jean-Baptiste, em seu primeiro choro, garantiu sua vingança à mãe, fazendo com que ela fosse condenada à morte por tentativa de assassinato ao filho. Logo que Jean-Baptiste chega ao orfanato, ele sofre uma segunda tentativa de homicídio: as crianças não aceitam dividir mais o racionado espaço. Mas, assim como na primeira vez, sobreviveu bravamente.

O garoto cresceu e, com o tempo, foi se destacando das outras crianças da classe proletária da França por causa de sua inusitada e espetacular capacidade olfativa. Ele é, inclusive, visto com estranheza e temor pelas outras crianças de sua idade. Grenouille consegue sentir odores a grandes distâncias, e ainda tem a capacidade de sentir o cheiro de coisas que, para as pessoas normais, não têm cheiro, como pedras. Desde a adolescência, Grenouille (agora interpretado pelo bom ator Ben Wishaw) tem o desejo de guardar para si todos os tipo de fragrâncias e conhecer odores novos. É nessa balada que, ao conhecer uma garota na rua e se apaixonar pelo seu cheiro, Jean-Baptiste a assusta e, sem intenção, a mata por sufocamento. Esse fato o perturba e, inconformado por não conseguir guardar o aroma da mulher, Grenouille fica obcecado por aprender técnicas para guardar os odores.

E isso se torna possível quando conhece Giuseppe Baldini (Dustin Hoffman, excelente), um perfumista quase falido que vê seus negócios decolarem após a chegada do jovem e seu imensurável talento. Atento aos ensinamentos (oportunistas, é claro) de Baldini, ele aprende que todos os odores podem ser capturados e preservados, embora seus métodos não sejam os melhores. A descoberta faz com que Grenouille se mude para a cidade de Grasse, onde aprende a técnica mais eficiente e realiza sua matança. Mas, no entanto, Baldini diz que o perfume de uma pessoa é como se fosse sua alma, o que nos dá a entender que, ao preservar o perfume, ele estaria roubando a alma da pessoa. Jean-Baptiste, durante o filme, parece saber exatamente como roubar a alma de uma pessoa, o que é provado pelo fato de as pessoas ligadas a ele morrerem quase sempre.

Um dos poucos pontos negativos do filme é o exagero feito em uma cena na cidade de Grasse, em que toda a população cai aos pés de Grenouille, como se o perfume fosse capaz de dominar o mundo. A cena deixa o espectador confuso, como deixou a mim mesmo, pois sua surrealidade transpassa os limites do aceitável, do imaginável e do lógico, o que cairia bem em um conto de fadas, mas não em um drama sério como este. Apesar disso, o filme não é comprometido, pois a cena ocorre nos momentos precedentes ao fantástico apagar das luzes, que deixa todos boquiabertos.

“Perfume: a história de um assassino” conta com uma equipe técnica excelente. Os figurinos remontam com extrema beleza a França do século XVIII, tanto no aspecto da realeza quanto da pobreza. Os cenários arrebatadores representam com fidedignidade as ruas e casas da época, fazendo o espectador acreditar que o filme foi filmado mesmo na referida França. Ainda visualmente falando, o filme usa bem a nudez das vítimas de Grenouille, fazendo com que não seja sensual ou depravado, mas cadavérico e assustador. A trilha sonora, apenas correta, rege bem as cenas do filme, sem deixar cair o ritmo. O elenco, composto por nomes como Alan Rickman e sua sempre convincente cara de poucos amigos, e Dustin Hoffman como o engraçado Baldini, ajudam a história a ter o rumo certo. Grenouille é interpretado pelo jovem ator Ben Winshaw, que conduz bem as ações de seu personagem, dando grande dinamismo à sua atuação.

“Perfume: a história de um assassino” é um filme que conta a história de toda a vida de Grenouille, mas sem ser redundante nem apelativo. Sua duração de 150min (2h 30min) à primeira vista é excessiva, mas passa despercebida, tamanho é o dinamismo imprimido ao filme, fazendo com que não seja uma experiência cansativa. Muito pelo contrário, assistir a esse grande filme é uma experiência agradabilíssima e altamente recomendável. A quem gosta de coisas boas, é claro!

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