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Master of None - S01E03 - Hot Ticket


- por Guilherme Bakunin 

Hot Ticket reproduz um tema constante nos stand ups de Aziz Ansari: as pessoas, hoje em dia, são rudes. “As pessoas” às quais Ansari se referem são, naturalmente, a geração mais conectada em novas mídias e redes sociais, jovens que nasceram até 30 anos atrás. O plot do episódio gira em torno de Dev buscando alguém para ir a um show com ele.

Como o show em questão é super exclusivo, as entradas são muito valiosas. Dentre as mulheres que Dev julga estarem disponíveis para acompanhá-lo ao show, ele pretende, portanto, levar a melhor delas.

Hot Ticket expõe como reflexão justamente o juízo de valor que cada uma das garotas recebe durante o curso do episódio, algo que as coloca numa situação de hierarquização em relação ao grau de desejo que Dev possui por cada uma delas. Esse juízo de valor é retratado como sendo grosseiro, objetificante e extremamente indelicado.

É uma esquete interessante enquanto tema, pois reflete o comportamento geral das pessoas nos dias de hoje. Em seu stand up especial lançado pela Netflix no ano pássado, Aziz critica que as pessoas agora estão sempre procurando a melhor coisa possível pra se fazer (em termos de sair de casa). Assim, não levam em consideração as outras pessoas, os compromissos anteriormente firmados e etc.

E de fato Dev desmarca com a única garota que aceitou acompanhá-lo ao show horas antes do mesmo, só porque uma “garota melhor” apareceu. Alicia é a garçonete de um restaurante frequentado por Dev e seus amigos. Ela é muito, muito bonita. Mas quando Alicia e Dev chegam ao show e ele começa a conhecê-la melhor, percebe que ela é horrível: espalhafatosa, grosseira, inconsequente.

As voltas que o episódio dá deixam Dev cara a cara com a garota que ele transou no primeiro episódio, Rachel. Uma rápida checada no imdb mostraria que a atriz, Noël Wells, participara de 7 dos 10 episódios da primeira temporada da série, sugerindo que seu personagem fosse ser mais recorrente do que inicialmente eu supunha. Como não tenho o hábito de checar o imdb, fui pego (agradavelmente) de surpresa pelo retorno da personagem, que é humilde, divertida e muito carismática.

Embora parecem pares perfeitos, especialmente depois de passarem a noite inteira juntos, Dev e Rachel não puderam se beijar dessa vez, pois o ex-namorado da garota estava de volta à Nova York e eles estavam tentando reatar o antigo relacionamento. É uma ironia contemporânea, inclusive, que Dev não possa beijar Rachel após passarem uma noite inteira dançando, bebendo e conversando, enquanto, por outro lado, ambos já haviam transado após se conhecerem por um aplicativo de celular.

A ironia, nesse caso, diz respeito justamente ao valor que determinadas ações possuem no ambito das relações de hoje em dia. Fazer sexo e cancelar compromissos em cima da hora é tão corriqueiro quanto calçar sapatos, enquanto dançar ou beijar possuem um caráter de afeição muito maior.

A aproximação que Master of None tem com seus personagens é interessante de ser elaborada também, por pautar-se na ironia. Mas deixemos essa elaboração para os próximos episódios.

Quote do episódio
Denise, sobre mandar um “?” para uma garota que o sujeito convidou para sair, comparando Brian e Dev: Quando ele faz isso, é bonitinho. Quando você faz isso, é carente e triste.

7/10

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