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The Walking Dead - S05E14 - Spend

 

Emergência e manutenção. Também a vemos nos filmes, mas no folhetim televisivo acontecem frequentemente. Crises maiores, mais complexas, intricadas e demoradas, comportam em si aquelas rápidas, de caráter urgente, para cumprir o efeito principal que é, neste caso, a velha ideia de Robert Kirkamn: destruir a civilização para então reconstruí-la, vendo o comportamento de indivíduos em situações extremas, a garantia de sobrevivência pelos números, os acidentes de percalço ao longo do caminho e o frágil tecido social em sua raiz, lutando para se formar com as suas divergências e contrastes humanos.

The Walking Dead cria há cinco temporadas esses gerenciamentos em pequena e larga escala firmando o pé em elementos como a ação física (que salva ou condena seus personagens) em situações que prevalecerão concentrações temporais com grandezas de quadro aproximadas, abusando de travellings vertiginosos, câmeras manuais e montagem acelerada; por outro lado, cria distensões temporais, repletas de elipses e composições de quadro contemplativas, onde prevalece dialética de montagem acima do paralelismo narrativo e a contemplação ritmada, sonorizada por música ou ruído, visando provocar afetividade para os sentimentos de depressão de seus personagens.

“Spend” deixa em segundo plano certos elementos didáticos já utilizados na temporada – como nas alucinações de Tyreese e as lembranças de Sasha, materiais, visuais e sonoras, mas é mais clássico, de certa forma, que o anterior “Remember”, que se apropriava de múltiplas linguagens para a oportunidade de recontar a série até então, como é observada pelos seus personagens, como absorvem, como reagiram, como foram transformados.

Agora, recorrendo a mecanismos narrativos mais simples - paralelismo, dialoguismo e ação – inserindo as questões políticas de uma sociedade em reconstrução através da manipulação de Padre Gabriel - atente para o viés de melodrama da série, fazendo ao invés da conversa solitária dos quadrinhos, Maggie como a observadora da cena, fazendo as vezes de espectadora – está em primeiro plano – e de juiz do coral de indivíduos (no caso aqui, a residente e o forasteiro).

Mais ainda do que o clímax envolvendo Glenn, Noah e os batedores de Alexandria – um momento onde a série testa os limites do próprio gore quando a câmera olha por muito mais tempo para os detalhes escabrosos (chegando a relembrar as duas primeiras temporadas), a cena de Maggie carrega um poder de síntese sobre a expectativa, frustração e reorganização constante na série que após encarar seu tempo errante, quase que exclusivamente focado entre espasmos de movimentação brutal e inércia melancólica, volta a ganhar um pano de fundo constante e delicado - sempre pronto a ser quebrado pela violência que nunca descansa, como parece nos lembrar a agonia surda e estupefata de Glenn após a cena de ação que corre em paralelo à politicagem do porto seguro. O elemento perturbador que atravessa as atmosferas  e os ritmos é a incerteza, quente, urgente e sanguinária ou calma, pulsante e decompositora. Não parece descansar nunca.

Em um caderno, Noah escreveu a frase “este é o início”. O início do maior arco da mídia original deixa de lado e agora, pelo menos por hora, a realocação do popular conflito do drama burguês de dominação e resistência da guerra puramente física pelo nem sempre sutil jogo de poder. Com dois episódios para concluir a temporada, o mundo dos protagonistas recomeça, gerenciam-se as primeiras crises, e como os finais abertos estão indicando, mesmo em toda a dúvida e desconforto, as apostas (as morais dos personagens; as narrativas, dos criadores) estão sendo feitas.

Comentários (3)

Raphael da Silveira Leite Miguel | sábado, 21 de Março de 2015 - 19:06

Muito boa crítica, espero ver toda semana até o fim da temporada! muito contente

E esse clímax do episódio foi de uma brutalidade que há muito não via na série, alguém teve que pagar o pato, infelizmente. Parece que "Todo mundo Odeia o Chris" ainda não saiu da vida de Tyler James Williams, tadinho.

Não sabia que a temporada estava perto do fim, e pra mim, esses últimos episódios com a chegada em Alexandria foram os poucos que salvaram ela. As decisões criativas tomadas por fazer diferente do que estava no HQ (Terminal e hospital) e a ênfase dada a alguns personagens nem tão interessantes (Beth, Sasha) me irritaram demais.




SPOILER: As coisas vão ficar fodas demais quando Lucile aparecer... Hehehe!

Arthur Brandão | sábado, 21 de Março de 2015 - 23:31

Tyler James fez um bom trabalho, enquanto durou... Acredito que o Coreano vai ter um perfil mais trabalhado - O Glenn é um personagem muito completo e importante das HQs, deixado de lado muitas vezes na série, Lucille is coming. Acredito que mataram o Noah por causa da chegada do Morgan (muito provavelmente). A traição do padre e as lideranças que o grupo do Rick vem tomando... The Walking Dead evolui e cai, em certos momentos onde deveria-se pisar fundo, eles pisam no freio. Os últimos episódios prometem, vamos ver 😏

Raphael da Silveira Leite Miguel | domingo, 22 de Março de 2015 - 11:34

Verdade Arthur, também acho o Glenn pouco aproveitado na série. Esse episódio já começou a dar uma atenção um pouco melhor a ele, acho que depois desse trauma ele passe a reconsiderar suas escolhas o que o levará a um dos momentos mais impactantes de TWD.

Pode ser mesmo, o Morgan não deve demorar a aparecer, tem também o Jesus né, que acho que deveria ter aparecido já, um personagem foda.

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