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Zé do Caixão - Episódio 1


Baseada no livro "Maldito", Zé do Caixão é uma série sobretudo reverente ao biografado. Por isso, a preocupação é mostrar desde o início Mojica (Nachtergaele) como um homem "maior que a vida", tão dedicado ao mundo que inventa e filma que a vida mundana pouco parece interessar em matéria de seguir suas tradições e narrativas.

Esse caráter é explicitado em vários momentos: no início, quando ele dá aulas de interpretação para atores e os dirige, sem nenhum momento até o final da cena de apresentação pessoal ou volta à realidade; quando cria cenas para a atriz, o produtor e o fotógrafo de seu filme enquanto bebe no bar; quando assiste os rolos de seu filme, quando dirige os atores, quando conversa com potenciais atores... Mojica é retratado um homem que vive a misé-en-scene, um indivíduo que faz parte de sua natureza atuar, gesticular e representar. 

Neste primeiro episódio vemos principalmente o Mojica diretor, realizando o faroeste A Sina do Aventureiro (1958), onde junto com o produtor Mário Lima, seu fotógrafo, sua editora e seus atores se manda da cidade grande para o interior de São Paulo, indo parar numa cidadezinha carola do interior. 

Mojica fascina desde o início pelo espírito empreendedor: quando recebe um cheque, imediatamente troca de protagonista; quando as filmagens são paradas por policiais, os convence a atuar no filme; quando um padre se preocupa o que aquela turma da cidade de São Paulo vai fazer no interior, logo se mostra devoto. Mas ao mesmo tempo, também se mostra um rebelde, explorando erotismo e violência em seu cinema e sem muita paciência (para não dizer verdadeira aversão) ao moralismo.

Caprichado em missões particulares e gerenciamentos de crise, com a viagem e a realização marcando diferentes jornadas para cada um - o diretor começa a encenar uma persona provocadora, a atriz enfrenta um calvário por beatas que condenam suas performances sensuais, os personagens locais são tentados e confrontados pela visão mais liberal dos visitantes - o episódio é carregado, de maneira didática até, de inferências de sexo, realização cinematográfica e plot twists que alteram um pouco a biografia real para resultados dramáticos mais acentuados.

Mas não é nada que chega a incomodar propriamente, cumprindo a função de "desenhar" uma jornada para um personagem; a única coisa que incomoda mesmo é o final, muito repentino, que joga uma ideia e acaba com um cliffhanger pouco satisfatório, que seria melhor aproveitado como início de um episódio seguinte. 

Como resultado geral, é um começo que definitivamente atrai, cumprindo o propósito em oferecer o chamariz para conhecer as origens, as agruras, os sonhos e a experiência de um dos grandes ícones brasileiros do século vinte. 

7.0

No próximo episodio: "À Meia Noite Levarei Sua Alma". 


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