Ator teve carreira interrompida aos 28 anos mas já conseguiu firmar seu lugar na história do cinema.
Faleceu no dia 22 de janeiro de 2008 o talentoso ator australiano Heath Ledger. A notícia realmente abalou, além dos fãs do astro, os amantes da sétima arte - por motivos óbvios. Ele tinha apenas 28 anos e era considerado um dos jovens atores mais talentosos na atualidade. É bem verdade que Ledger não é o meu (ou talvez o seu) ator preferido. Porém, em virtude dos ótimos trabalhos já desempenhados, todos nós sabemos o quanto ele teria potencial para trilhar uma carreira ainda mais brilhante nessa "fábrica de sonhos" (e de pesadelos, é bom que se diga) chamada Hollywood.
Nascido no dia 4 de abril de 1979 na cidade de Perth, na Austrália, Heath Andrew Ledger, após alguns trabalhos na TV, chamou mesmo a atenção em 1999, com a fraquinha comédia romântica "10 Coisas que Eu Odeio em Você", nova adaptação do clássico "A Megera Domada", de Shakespeare. Na trama, a cena mais famosa do ator é aquela na qual canta 'Can't Take My Eyes Off You' para a personagem Katharina Stratford (interpretada pela atriz Julia Stiles). Vale lembrar que Ledger recebeu uma indicação ao MTV Movie Awards de Melhor Seqüência Musical pelo seu trabalho nessa comédia, que, apesar dos (incontáveis) defeitos, mantém-se, segundo alguns críticos, como um "clássico da adolescência". Ainda em 1999, Ledger lançou na Austrália o drama "Two Hands" - eleito o melhor filme daquele ano pelo Australian Film Institute.
Logo depois, ele atuou como Gabriel Martin, filho do herói Benjamin Martin (vivido por Mel Gibson), no drama de guerra "O Patriota". A partir daí, sua carreira só cresceu. Ledger foi o protagonista da aventura "Coração de Cavaleiro", na qual dá vida ao jovem escudeiro William, que, após seu mestre, o nobre Ulrich von Lichtenstein, morrer subitamente, resolve assumir seu posto em uma competição envolvendo combates com lanças. Com este "Coração de Caveleiro", Ledger foi novamente indicado ao MTV Movie Awards de Melhor Seqüência Musical.
O talento dramático de Ledger, porém, tornou-se realmente palpável no longa "A Última Ceia", do diretor alemão Marc Forster. Nesse drama, que acabou premiando Halle Berry com o Oscar de Melhor Atriz, o australiano tem uma cena fortíssima (quem assistiu ao filme sabe a qual estou me referindo), muito bem realizada e, para mim, impossível de ser revista novamente. Pelo menos enquanto o ator ainda estiver bem vivo na minha memória. No filme, Ledger interpreta o filho de um agente policial racista, vivido por Billy Bob Thornton.
Em 2002, com "Honra & Coragem - As Quatro Plumas", Heath Ledger é Harry Faversham, um oficial britânico que pede baixa de seu posto no exército pouco antes de uma importante batalha contra os rebeldes locais, no Sudão. Por essa atitude, sua noiva e seus três melhores amigos dão-lhe quatro penas brancas, simbolizando sua covardia. Então, após saber que seu melhor amigo está em apuros, Harry decide partir para o Sudão a fim de reconquistar a confiança perdida.
No suspense "Devorador de Pecados", Ledger interpreta o monge Alex Bernier, um integrante da ordem religiosa dos carolíngios - que é enviado a Roma para investigar as estranhas circunstâncias do óbito do líder da ordem. No mesmo ano, ele protagonizou "Ned Kelly", longa que narra a história real do bandido australiano que dá nome ao filme. É bom lembrar que Ledger atuou neste último com vários outros astros, como Naomi Watts, Orlando Bloom e Geoffrey Rush.
Chegamos em 2005. E, sem a menor dúvida, esse foi o ano de Heath Ledger. Afora ter atuado em "Os Reis de Dogtown" - filme que retrata um grupo de amigos skatistas nos anos 70 -, protagonizou "Casanova", do sueco Lasse Hallström, e o bobinho, mas divertido, "Os Irmãos Grimm" - neste, ao lado do igualmente competente Matt Damon.
Todavia, 2005 foi o ano de destaque na carreira do ator pelo fato de ter estrelado o ótimo, corajoso e polêmico filme "O Segredo de Brokeback Mountain", de Ang Lee. Alcançando o respeito e, acima de tudo, a admiração de público e crítica, Heath Ledger conseguiu, com seu cowboy Ennis Del Mar, receber várias indicações a prêmios importantes, como o Oscar de Melhor Ator e o Globo de Ouro de Melhor Ator em Filme Drama - na época, alguns chegaram a compará-lo ao jovem Marlon Brando. Exagero? Talvez. Mas, com ou sem rótulos, Ledger firmava sua posição de destaque em Hollywood.
Um ano depois, ele esteve nos cinemas com o drama "Candy", de Neil Armfield. Ao lado de Abbie Cornish - que forma com o ator o casal protagonista -, Ledger, demonstrando maturidade, vive o poeta Dan. Candy (Cornish) e Dan se apaixonam assim que se conhecem, dividindo também a dependência por heroína. Inicialmente, eles sentem viver no paraíso, mas a falta de dinheiro faz com que a dupla retorne à realidade. Dessa forma, Candy chega ao ponto de se prostituir para manter o vício do casal. Bastante sensível e belamente interpretado, este único trabalho do ator australiano no ano de 2006 só não é melhor pois não apresenta nada de novo à sua temática central: as drogas.
Felizmente, antes de partir, Heath Ledger nos deixou mais dois trabalhos concluídos: "Não Estou Lá", de Todd Haynes, e "Batman - O Cavaleiro das Trevas", de Christopher Nolan. No primeiro, ele interpreta uma das várias faces do mutante cantor e compositor Bob Dylan. No segundo, Ledger, com o apoio total dos fãs do héroi, vive o vilão Coringa na aguardada nova aventura do homem-morcego, seqüência do sucesso de 2005, "Batman Begins".
Notícias recentes afirmam que o falecimento do ator provavelmente ocasionará um forte impacto na campanha de divulgação do novo longa do Batman, visto que, até o momento, boa parte do marketing de "O Cavaleiro das Trevas" envolveu justamente o personagem de Ledger. Por fim, a certeza mesmo é que será no mínimo estranho acompanhar Ledger nesse filme - embora eu aposte os dez dedos das minhas mãos como esta será sua melhor atuação.
É bem provável que muita gente ainda não tenha assimilado bem a sua morte. Suicídio? Acidente? Enfim. Não sei vocês, mas pouco me interessa o resultado final da autópsia. Além disso, não aprecio em nada quando dizem que ele entrou para o grupo de atores que morreram precocemente - a exemplo de James Dean e River Phoenix. Talvez seja melhor lembrá-lo pelos seus filmes. Talvez seja mais justo.
Não apenas pelo fato de ter deixado uma filhinha de dois anos - que, todos são unânimes, era a maior felicidade de sua vida -, mas principalmente pelo talento já comprovado nos diversos projetos citados, a tristeza maior reside na frustração de uma carreira que prometia um futuro cheio de glórias, mas que acabou sendo abruptamente finalizada.
"Heath era um artista de verdade, um homem profundamente sensível, um explorador, sensato e talentoso demais para alguém de sua idade. Não havia melhor pessoa neste mundo"
- Todd Haynes