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Perfis

Foto de James Whitmore

James Whitmore

Idade
87 anos
Nascimento
01/10/1921
Falecimento
06/02/2009
País de nascimento
Estados Unidos
Local de nascimento
White Plains, Nova York

Um grande ator que conciliou sua carreira de mais de meio século entre o cinema, o teatro e a televisão.

Os mais novos devem se lembrar de James Whitmore (pronuncia-se uitmore) como o ator que interpreta um dos personagens mais comoventes em Um Sonho de Liberdade, o velhinho simpático que, após ser liberado da prisão de Shawshank, não mais consegue se readaptar à vida em sociedade. O culto que se criou ao longo dos últimos anos em torno deste filme, estréia de Frank Darabont na direção, serviu para que um público mais jovem conhecesse um rosto e um nome (talvez mais o rosto do que o nome): James Whitmore.

Poucos sabiam, no entanto, que aquele ator de expressão forte, face ovalada, queixo pronunciado e boca larga, já escutava os gritos de “Ação!” e “Corta!” há quase meio século. Com uma carreira das mais extensas, que englobou trabalhos no cinema, teatro e televisão, James Whitmore morreu em 06 de fevereiro de 2009, de câncer no pulmão, aos 87 anos.

A carreira de Whitmore começou em 1947, com a peça 'Trágica Decisão'. Era sua estréia nos palcos da Broadway e, de cara, sua interpretação do Sargento Evans lhe rendeu o Tony de melhor ator revelação. Com tamanho pedigree, não era seria estranho se ele fosse chamado por alguns dos estúdios de cinema. E não deu outra: ainda em 1947 a MGM o incluiu na sua folha de salários.

Apesar da boa receptividade, Whitmore não foi chamado para participar da adaptação para o cinema de Trágica Decisão, que se realizou no ano seguinte, com a direção de Sam Wood e Clark Gable no papel principal. Em seu lugar, Louis B. Mayer preferiu Van Johnson, ator queridinho da casa e que, cansado dos sorrisos amarelos que era obrigado a mostrar em musicais superficiais, estava em busca de material mais sério. O desapontamento foi superado logo em 1949, quando ele foi chamado para um papel importante no policial O Czar Negro, estrelado por Glenn Ford e Nina Foch. No mesmo ano, Whitmore fez sua segunda participação diante das câmeras, no filme de guerra O Preço de Glória, de William Wellman. O longa-metragem fez enorme sucesso nos EUA, chegando a ser indicado ao Oscar de melhor filme da temporada. Whitmore foi lembrado com uma indicação ao Oscar de melhor ator coadjuvante. Mesmo derrotado, o ator já dizia a que vinha.

Whitmore tinha consciência de que não era um homem bonito. De certa forma, isso até lhe foi benéfico. Sem criar falsas ilusões, ele sabia que devia focar sua carreira apenas nos papéis que os estúdios estavam dispostos a lhe dar, que variavam entre o protagonista de um filme de segundo escalão ou o coadjuvante de confiança de um produção mais requintada. Assim, é comum ver o nome de Whitmore tantos nos créditos de alguns títulos famosos quanto em outros nem tanto, como no drama A Voz que Vão Ouvir (Wellman, 1950), ao lado de Nancy Reagan (sim, a própria!); Trem das Surpresas (Taurog, 1950); no clássico filme de assalto O Segredo das Jóias (Huston, 1950); no drama de guerra Seu Nome é Sua Honra (Frank e Panamá, 1952); Dá-me um Beijo (Sidney, 1953), versão musical de 'A Megera Domada'; Oklahoma! (Zinnemman, 1954); e na clássica ficção científica O Mundo em Perigo (Douglas, 1954).

No final da década de 50, Whitmore percebeu que sua carreira no cinema começava a andar pra trás. Para driblar o problema, passou a dar mais atenção a trabalhos na televisão. Nos anos seguintes, interpretou papéis importantes em séries que hoje são consideradas clássicas como 'Além da Imaginação', 'Os Detetives', 'The Big Valley' (estrelada por Barbara Stanwick), e 'Ben Casey'.

Entre uma série e outra, Whitmore era chamado para atuar em alguma produção na tela grande, sempre na condição de coadjuvante de segurança, como por exemplo o policial Os Impiedosos, de Don Siegel, Planeta dos Macacos, de Franklyn Schaffner, e Tora! Tora! Tora!, de Richard Fleischer.

Ao longo dos anos 70, Whitmore se especializou naquilo que os americanos chamam de one man show: foram três monólogos em que ele interpretou, nos palcos, grandes personalidades americanas. A primeira delas foi o caubói Will Rogers, na peça 'Will Rogers’ USA' (1974). No ano seguinte, foi a vez de ele personificar a vida do presidente Harry Truman, em Give'em Hell, Harry! A montagem fez tanto sucesso que logo foi vertida para o cinema sob o mesmo título. Pelo filme, James Whitmore conquistou sua única indicação ao Oscar de melhor ator (seu azar foi ser lembrado pela Academia justamente no mesmo ano em Jack Nicholson lançara Um Estranho No Ninho). Finalmente, em 1977, Whtimore viveu o papel do Theodore Roosevelt na peça 'Bully'.

A nomeação ao Oscar não revigorou a carreira de James Whitmore no cinema. Os trabalhos começaram a ficar cada vez mais raros. Digno de nota, apenas algumas participações em O Ovo da Serpente, de Ingmar Bergman, e Nuts - Querem me Enlouquecer, de Martin Ritt.

Até que em 1994, um cineasta desconhecido chamado Frank Darabont resolveu levar às telas um obscuro conto de Stephen King: 'Rita Hayworth and Shawshank Redemption'. No Brasil, o filme recebeu o vago título de Um Sonho de Liberdade. Sete indicações ao Oscar e alguns anos depois, eu não consigo me lembrar de uma obra recente do cinema que tenha conquistado tamanha admiração do público em tão pouco tempo. Um Sonho de Liberdade é um daqueles poucos filmes em que crítica e público convivem sem querer se matar um ao outro. Esse culto certamente contribuiu para que uma nova geração conhecesse James Whitmore. Sua caracterização do presidiário Brooks Hatlen é um dos grandes achados do filme. Nas poucas cenas em que aparece (alimentando um passarinho dentro da prisão e tendo enorme dificuldade de se readaptar à vida, fora dela), são poucos que conseguem segurar as lágrimas. Na época, seu nome chegou a ser cogitado aos prêmios da temporada, expectativa que acabou não se cumprindo.

Seu último papel no cinema foi novamente sob a batuta de Frank Darabont, no insosso Cine Majestic, lançado no fim de 2001. James Whitmore interpreta um dos cidadãos da localidade que recebe o personagem de Jim Carrey e o confunde com um ex-herói de guerra desaparecido em combate. Já sua última aparição diante das câmeras foi em 2007, num episódio de 'CSI: Las Vegas'.

Pelos personagens que viveu, é quase certo que uma grande parte do público sequer tenha ouvido falar em James Whitmore, enquanto que para outra, ele é aquele ator, que volta e meia aparece em papéis secundários, seja fazendo escada para os mocinhos, seja interpretado vilões inescrupulosos, mas de cujo nome ninguém se lembra. O que todas essas pessoas tem em comum é o fato de desconhecerem a figura de um grande ator. A estampa de James Whitemore o afastou dos papéis heróicos e de conquistadores, obrigando-o a viver tipos característicos e marcantes, mas nem por isso de menor importância. Sua técnica de representação foi nitidamente melhorando com o passar dos filmes. Suas caracterizações foram ficando cada vez mais naturalistas e espontâneas. O tempo veio e as fortes rugas na face só lhe trouxeram ainda mais humanidade, seja na pele de ex-presidentes, ou na de presidiários.

James Whitmore era, sim, um grande ator.

Filmografia

Título Prêmios Ano Notas
Planeta dos Macacos
Presidente da Assembléia
1968
8,1
8,2
Tora! Tora! Tora!
Almirante Halsey
1970
7,0
1999
Segredo das Jóias, O
Gus Minissi
1950
8,0
7,8
Oklahoma!
Andrew Carnes
1955
Mundo em Perigo, O
Sgt. Policial Ben Peterson
1954
1967
Give 'em Hell, Harry!
Harry S Truman
Globo de Ouro (indicação)
Oscar (indicação)
1975
Querem me Enlouquecer
Jurado Stanley Murdoch
1987
Relíquia, A
Dr. Albert Frock
1997
No Palco da Vida
Sr. Stacey
1951
Czar Negro, O
George Pappas
1949
1953
1953
1960
1969
Experimento Harrad, O
Philip Tenhausen
1973
Renegado Impiedoso
Joshua Everette - Josh
1972
Crê em Mim
Vincent Maran
1950
Primeiro Pecado Mortal, O
Dr. Sanford Ferguson
1980
1985
1950
1968
1955
Impiedosos, Os
Inspetor Chefe Charles Kane
1968
7,6
Rua do Crime, A
Ben Wagner
1956
Polícia Incrimina... A Lei Absolve, A
Comissário Aldo Scavino
1973
Melodia Imortal
Lou Sherwood
1956
Sonho de Liberdade, Um
Brooks Hatlen
1994
8,5
8,9
Cine Majestic
Stan Keller
2001
5,9
6,7
Oscar (indicação)
Globo de Ouro (prêmio)
1949
1955