Saltar para o conteúdo

Perfis

Foto de Marilyn Monroe

Marilyn Monroe

Idade
36 anos
Nascimento
01/06/1926
Falecimento
05/08/1962
País de nascimento
Estados Unidos
Local de nascimento
Los Angeles, California

"Eu sabia que eu pertencia ao público e ao mundo, não pelo fato de ser talentosa ou até mesmo bonita, mas porque eu nunca pertenci a nada ou a ninguém". – Marilyn Monroe

Na eterna busca pelo sucesso, cada um se vale daquilo que possui para conquistar a admiração desejada. Ciente disto, Norma Jeane Mortensen acreditou, desde bem cedo, na combinação explosiva que consistia em seus atributos físicos somados às tragédias que circundaram sua infância e adolescência. Para conseguir a atenção pretendida, bastava somente encontrar as pessoas certas, contar sua história e, vez ou outra, adicionar algum floreio dramático, ou seduzir e hipnotizar através de seus dotes patentes — afinal de contas, ambição jamais lhe faltou. Marilyn Monroe levou ao extremo o tal desejo pelo estrelato, e foi uma estrela no maior dos sentidos empregados à definição. Sua vocação para brincar com o imaginário popular (dos homens, especialmente), com a inocente crença da “felicidade perene” dos artistas do cinema – que, eventualmente, seria quebrada com o rompante brutal de sua morte –, mitificou sua pessoa diante das massas. Para o público, ela já não era somente uma atriz, mas a maior das divas.
 
Quando se falava propriamente na ideia da absoluta felicidade no meio artístico, ligava-se àquelas pessoas que, em tela, conseguiam transpirar sensações que pareciam destoantes da realidade comum. Eram sempre belas, comungavam matrimônios publicamente exemplares, ostentavam fama e riqueza, atestando na mente do público o pensamento de que seria impossível que fossem tocadas por qualquer sentimento de tristeza ou insatisfação. Marilyn Monroe corroborou e ao mesmo tempo destruiu esse juízo, quando, sob o brilho dos holofotes, se mostrava uma mulher pessoal e profissionalmente realizada — quando, na verdade, era gradualmente consumida por uma melancolia que assolava sua vida desde pequena. É certo que ela tirou proveito das desgraças de sua infância para comover gente poderosa, mas, realmente, Norma Jeane tinha passado por turbulentas transições, sendo obrigada a tomar decisões importantes muito cedo, não podendo contar com estabilidade dos pais em sua criação, visto que sua mãe, uma cortadora de filmes nos estúdios RKO, sofria de graves distúrbios psicológicos, enquanto seu pai ela jamais conhecera, ficando sempre sob os cuidados de amigos, vizinhos e, consequentemente, orfanatos.
 
Pode-se dizer que Marilyn foi feita nos moldes de Hollywood, a julgar por sua beleza magnética com um toque de fragilidade, seu senso critico pouco aguçado, além, é claro, de seu passado lastimável que, quando contado, despertava em quem ouvia uma comoção que serviu como um de seus vários passaportes para a glória do show business. Não se pode negar, contudo, que, à procura da fama, Norma Jeane (seu nome de batismo) teve de carregar muitos dos fantasmas que a perseguiam desde o nascimento em 1º de junho de 1926, no County Hospital, em Los Angeles, já que teve de crescer sem o amparo de seu verdadeiro pai, a proteção constante do seio materno e um histórico de insanidade em sua família: da avó esquizofrênica à já supracitada mãe, Gladys Pearl Monroe, que fora internada em um manicômio. Aos vinte anos de idade, a moça foi levada por uma amiga de Gladys, Grace Mckee, para morar no Lar dos Órfãos de Los Angeles, onde passaria os próximos 21 meses de sua vida, e, segundo a própria, classificaria como “inferno infantil”. Esses eram alguns dos tristes relatos da atriz para quem quisesse escutar, incluindo outros episódios que iam de maus tratos até uma possível violência sexual que sofrera antes dos nove anos de idade.
 
O caso é que, por bem ou por mal, absolutamente nada na vida de Norma Jeane aconteceu gratuitamente, sem um propósito sequer em sua ascensão, até mesmo seu casamento precoce com Jim Dougherty, onde fora obrigada por sua tutora a escolher entre o compromisso com o rapaz de 21 anos ou o inimaginável retorno ao internato. Antes de seu aniversário de 16 anos, em 19 de junho de 1942, sabendo pouco sobre seu noivo, e vice-versa, ela se une matrimonialmente a Jim numa relação que, apesar do curto prazo de validade, deu espaço para seus primeiros passos como modelo e, logo em seguida, atriz. De acordo com sua descrição, fora uma esposa diferente das outras, e por sua personalidade um tanto infantilizada costumava se dava bem melhor com crianças que com adultos, e se pegava brincando com a molecada da vizinhança quando seu marido, ajustador na Lockeed Aviation, estava trabalhando e ela se sentia solitária – muito disso em razão das deficiências afetivas de sua própria infância. Em 1944, Jim, convocado pela marinha mercante, parte em missão para a África, concedendo inconscientemente à mulher uma oportunidade de libertar-se da condição da doméstica e esposa. Norma Jeane consegue um emprego como inspetora de paraquedas e pintora de fuselagem na Rádio Plane e durante esse período conhece o fotógrafo David Conover, quando ele fica responsável para fotografar uma bela moça para distrair os soldados americanos em batalha. A imagem da jovem de corpo provocante dentro de um macacão sujo de graxa aguçou o desejo masculino e creditou Conover como o descobridor de Marilyn Monroe.
 
Seu gosto por essa fama que ascendia aos poucos catalisou o desmoronamento da relação com Dougherty, uma vez que ela não mais se prendia às memórias do marido, tendo inclusive se mudado da casa da sogra, indo viver sua própria independência. Norma Jeane já faltava ao trabalho, dando atenção somente a essa oportunidade de ser modelo que havia chegado sem avisos prévios. Sua imagem em trajes que dariam mais ênfase às suas curvas, mais tarde, a estimulava a querer entrar cada vez mais profundamente na libido do cidadão americano, e, durante esse processo, se rompiam os últimos elos matrimoniais que tinha com Jim, quando, em pleno Natal de 1945, após ele retornar da longa missão, ela recusa seu papel de dona de casa, partindo em viagem com André de Diennes para realizar um ensaio fotográfico. Em seus primeiros passos fora da obscuridade, Norma Jeane fez amizades úteis, arrancou elogios de personalidades relacionadas a estúdios e revistas onde posava, chamou a atenção de gente como Darryl Zanuck, diretor da Twentieth Century Fox, que exigira imediatamente sua contratação. Nessa época, ela teve de mudar de nome – já tendo substituído o Mortensen por Baker uma vez -, adotar um que realmente rimasse com a imagem que estava moldando para si mesma; surge, por sugestão do diretor de elenco Ben Lyon, a união entre os nomes Marilyn (devido à sua semelhança com Marilyn Miller, atriz da Broadway) e Monroe, sobrenome de sua avó.
 
O corpo de Marilyn tanto abriu como lhe fechou as portas. Foi despedida no final de 1947 dos estúdios que a empregaram por manter relação com um ator estreante que, por coincidência, seria o prometido noivo da filha do presidente da Fox. Depois disso, trabalhou para Bill Burnside, posando para algumas fotos que lhe renderiam dinheiro suficiente para manter-se e pagar os estudos no Actor’s Lab. Por influência dos amigos que fez e antes mesmo de tornar-se a queridinha do velho fundador da Fox, Joe Schenck, fez uma ponta não creditada em Sua Alteza, a Secretária (The Shocking Miss Pilgrim, 1947) e na produção B Idade Perigosa (Dangerous Years, 1947) – respectivamente, suas primeiras incursões nas telonas. Em 1948, já sob a proteção do milionário, Marilyn assinou um contrato de um semestre com a Columbia, onde seus dotes físicos foram responsáveis para garantir a sobrevivência de sua carreira. Jamais negou as trocas sexuais que havia feito no início de seu trabalho no cinema, sabida de que aqueles homens que mandavam e desmandavam nos estúdios desejavam dela somente uma coisa. Dormiu com produtores, diretores e influentes para garantir, óbvio, a manutenção do sonho de se tornar uma atriz de verdade.
 
Mentira Salvadora (Ladies of the Chorus, 1948) lhe conferiria uma fissura emocional que carregaria até o fim da vida. Durante as filmagens do longa, frustrada com sua desestabilidade amorosa, Marilyn conhece e se apaixona por Fred Karger, diretor de música da Colúmbia, e logo mais inicia com ele um breve affair. Depois de se aconchegar no equilíbrio afetivo da família de Karger, ela o propõe em casamento, que rejeita alegando não poder viver com uma moça de sensualidade indiscutível, mas intelectualmente pobre. Culto, sofisticado, divorciado e dez anos mais velho, ele fez com que ela levasse consigo, pelo resto de seus dias, o peso de mais um aborto (registros indicam que não fora seu primeiro) e o esfacelamento do modelo ideal de família que havia projetado. Desempregada da Columbia, foi acolhida pelo descobridor de talentos Johnny Hyde, que lhe ofereceu um papel na comédia Loucos de Amor (Love Happy, 1949), ao lado dos irmãos Marx, e, mais a frente, no western O Que Pode um Beijo (A Ticket to Tomahawk, 1950). Aos 53 anos, perdidamente apaixonado, Hyde abandona a esposa para dedicar-se somente a Marilyn, a quem pede e lhe é negado matrimônio, deixando para ela, contudo, uma invejável fortuna como herança.
 
Nesse tempo é escalada para participar de filmes maiores, com participações mais duradouras. Como no noir O Segredo das Jóias (The Alphalt Jungle, 1950), de John Houston, onde deu vida à frágil Angela Phinlay, jovem amante do criminoso Alonzo D. Emmerich, que acaba por se envolver indiretamente nas tramoias do sujeito. Conta a trajetória de uma equipe incumbida de executar um delicado roubo de joias, mas o que teoricamente seria um plano impecável, acaba por proporcionar consequências brutais para os envolvidos. Nas duas cenas onde aparece, muito por sua beleza em meio aquele clima sombrio, Marilyn chama a atenção, num destaque que se estenderia até seu próximo trabalho, o grande vencedor do Oscar A Malvada (All About Eve, 1950), em que interpreta a Srta. Casswell, admiradora do trabalho de Margot Channing (Bette Davis), com quem eventualmente se encontra numa festa realizada na casa dela. Em termos profissionais, aquele ano se mostrava fértil para a atriz, mas representaria, entretanto, sua queda em um incontrolável abismo emocional, quando, no natal, recebera a notícia da morte de Johnny Hyde, um dos únicos homens realmente bons que cruzaram seu caminho. Por meio de uma overdose de pílulas, Marilyn tenta o suicídio.
 
Buscar dar cabo a própria vida seria uma atitude a qual ela recorria sempre que seu fardo emocional estava insuportável para carregar. Logo após o falecimento de seu protetor, seus papeis na tela foram reduzidos a participações pífias; o desprezo que os grandes tinham por sua inteligência a incomodava, queria que todos vissem que existia substância sob a embalagem, e, para tanto, matriculou-se na Universidade da Califórnia e num curso de interpretação. Karger fora a prova de que sua limitação cultural atrasava a concretização de suas ambições, e, como se sentira relegada pelo estúdio, convenceu-se de que, para adquirir o espaço que procurava, teria que fazer mais que simplesmente seduzir. Mas tudo apontava que não havia outro jeito, essa era, inegavelmente, a grande arma pela qual se habilitou em manipular atenções masculinas; serviu para que o presidente da Fox, Spyros Skouras, mordesse a isca e logo somasse seu nome ao elenco de Só a Mulher Peca (Clash by Night, 1951), filme de Fritz Lang, emprestando-a ao estúdio RKO.
 
Estourou nas bilheterias pela razão de que, muito astuta no que diz respeito ao manejo de opiniões alheias, a atriz conseguiu reverter em glória o escândalo que se formava com o vazamento de um ensaio fotográfico que teria feito anos atrás e estaria enfeitando, em forma de calendário, paredes de oficinas e barbearias. Ela atribuiu o trabalho como último recurso para pagar seu aluguel atrasado e persistir, mesmo que através desses meios, com a vontade de ser uma estrela. Comoveu a imprensa e, desse modo, o público, que, ainda naquele ano, transformaria seu rosto no mais comentando, estampando revistas famosas por todo o país. Fez uma breve ponta em um dos cinco segmentos do filme Páginas da Vida (Full House, 1952), e com a publicidade que vinha aumentando gradativamente, teve a chance de contracenar com um dos astros mais queridos da América em O Inventor da Mocidade (Monkey Business, 1952), de Howard Hawks, onde finalmente conheceu Cary Grant e, durante uma foto promocional com este, foi apresentada ao ídolo do beisebol Joe DiMaggio. E com ele iniciaria uma relação que, diferente das anteriores, a perseguiria até 1962 (seria ele que a tiraria de alguns de suas internações e arcaria com as despesas de seu velório).
 
Em razão de seu desempenho no grande sucesso Os Homens Preferem as Loiras (Gentleman Prefer Blondes, 1953), que teria filmado no intermediário de outros projetos, teve a honra de, em 26 de junho, ao lado da recente amiga e companheira de elenco Jane Russel, registrar sua assinatura em cimento fresco no Grauman’s Chinese Theater. Apesar dos problemas enfrentados nos bastidores da produção, que iam desde seu cachê injustamente reduzido (onde ganhava cerca de 500 dólares por semana, enquanto Russel recebia 200 mil pelo trabalho) até a negação de um camarim próprio, como as outras, sua segunda parceria junto de Howard Hawks rendeu um dos feitos mais marcantes no que concerne às produções musicais da Era de Ouro de Hollywood. Diamonds are a girl’s best friend, o mais conhecido número musical de sua carreira, seria fonte de inspiração para videoclipes contemporâneos e demais fitas do gênero. Deu vida a dançarina Lorelei Lee, que, ao lado da fiel companheira, viaja rumo à Paris para apresentar seu mais novo espetáculo, envolvendo-se em poucas e boas dentro do cruzeiro, já que seu sogro, na esperança de abrir os olhos do filho ingenuamente apaixonado, contrata um detetive particular para flagrara pulando a cerca.
 
Surgia aos montes oportunidades que agarraria para trabalhar, quase simultaneamente, em projetos ainda mais condizentes com seus planos de ser uma atriz de verdade – até mais que uma estrela. Sabia que um dia, quando envelhecesse e perdesse suas medidas, lhe enviariam ao ostracismo, e por essa razão começou a dedicar-se às suas habilidades artísticas ainda pouco nutridas, mesmo que esporadicamente elogiada em meio a um e outro desempenho. Produções como o drama Almas Desesperadas (Don’t Bother to Knock, 1952) ou a comédia Como Agarrar um Milionário (How to Marry a Millionaire, 1953), de Roy Baker e Jean Negulesco respectivamente, parecem ter sido concebidas para mostrar que Marilyn poderia ser sim uma boa atriz. No primeiro ela interpreta o denso papel de uma mulher que, recentemente liberada do sanatório onde repousava, encarrega-se de trabalhar como babá e inicia um envolvimento com um homem comprometido, mostrando aos poucos uma personalidade doentia. Já no segundo, ela imerge no gênero que, segundo confissões suas, sempre fora o que mais gostava de trabalhar, vivendo uma mulher que, junto à cômica dupla de amigas, sai à procura de um rico partido, na cidade de Nova York.
 
Sua viagem às montanhas canadenses para filmar, por exigência de um contrato, O Rio das Almas Perdidas (River of No Return, 1954) trouxe uma atmosfera de tensão às gravações, onde esclarecia sua capacidade de irritar aqueles com quem trabalhava. Coube a Otto Preminger aguentar sua dificuldade em decorar falas, falta de compromisso com os horários de trabalho e mais as orientações de Natasha Lytess, então instrutora da atriz. Em decorrência dos gritos e desgastes de paciência, qualquer comunicação entre o diretor e Monroe estava fora de alcance. Mesmo desaprovando seu estilo de interpretação, Preminger sabia que ter Marilyn ali significaria sucesso, e, para prosseguir com seu trabalho sem mais arranca rabos – e resistir à forte pressão do estúdio –, pediu auxilio a Robert Mitchum, protagonista do filme, que passou a funcionar como mediador naquela relação. O ator ajudava-a com o texto, com o posicionamento em cena, etc. Foi seu real diretor enquanto seus problemas de aprendizagem brigavam de frente com a grosseria do cineasta. Desgostoso com o resultado final, Zanuck exigiu novas sequências para esclarecer fatos relegados na narrativa (como a relação entre a cantora de cabaré interpretada por ela e seu namorado pilantra), e, para isso, Jean Negulesco, que já dirigira a estrela em Como Agarrar o Milionário, se encarregara da tarefa.
 
Marilyn, agora casada com Joe DiMaggio, estava segura do carinho que o público sentia por ela, e, por essa razão, se recusava a retornar aos papeis medíocres que costumavam lhe oferecer, fato que resultou em seu declínio da proposta de trabalhar junto de Frank Sinatra em Pink Tights, por julgar a oferta como sendo insignificante – e com essa renuncia, é novamente suspensa pela Fox. Suas aspirações para trabalhar com produções que apenas somassem qualidade a sua carreira causaram muita dor de cabeça aos magnatas de Hollywood, e, naquele ano, aceitaria de muitíssimo bom grado co-protagonizar O Pecado Mora ao Lado (The Seven Year Itch, 1955), de Billy Wilder. E foi justamente em seu primeiro filme ao lado do diretor que ela protagonizaria sua cena mais icônica. Sua personagem, identificada simplesmente como “a garota”, caminha pela calçada ao lado do homem (Tom Ewell) que a deseja intensamente naquele momento, e, de repente, é atingida por uma forte rajada de vento vindo da calefação do metrô, fazendo esvoaçar seu curto vestido marfim (que se tornaria, anos depois, item de colecionador), revelando suas pernas e, diante da libido latente, algumas coisas a mais.
 
O que ela não sabia é que, antes mesmo de figurar entre os momentos mais emblemáticos do cinema, a cena em questão culminaria na ruptura de seu relacionamento com DiMaggio. Em razão de seus ciúmes, o jogador fora assistir as gravações do filme em que sua esposa trabalhava no momento, e se deparou com o exato momento em que ela, sob os olhares de vários curiosos, tinha sua saia completamente levantada e sua calcinha a mostra. Depois de dois meses de muita indiferença e brigas intermináveis, Marilyn anuncia publicamente seu divórcio oficial com o atleta. Era um tempo de mudanças, onde buscava deixar para trás determinados empecilhos e apostar suas fichas exclusivamente no lado profissional. Com a ajuda de seu amigo fotógrafo Milton Greene, a atriz revela à imprensa seu novo e ousado projeto: o “Marilyn Monroe Productions”; uma ambiciosa isca para que os chefões da Fox repensassem novamente seu contrato, já que a empreitada almejava atrair artistas que realmente quisessem realizar suas produções à margem das asas dos estúdios consagrados. E deu certo, afinal.
 
Foi aceita por Lee Strasberg em suas aulas de interpretação no Actor’s Studio, onde desenvolveria com ele e a esposa, sua futura instrutora, Paula, uma verdadeira amizade, encontrando naquele lar muitas vezes uma paz para suas notórias inseguranças – não obstante, Marilyn deixaria a cargo da família Strasberg seu espólio pessoal. Nessa mesma época, ao passo que iniciava um namoro com o escritor Arthur Miller, manteve um affair passageiro com o ator e símbolo sexual Marlon Brando. Em 1956, por conta do sucesso da estratégia de rivalizar com os estúdios mais reconhecidos, a Fox, novamente, a admitiu, dessa vez constando em seu contrato as seguintes exigências: fazer quatro filmes em um período de sete anos, com a comissão de cem mil por cada título, receber uma calculada participação nos lucros da produção, além, é claro, do direito de recusar qualquer roteiro, atores e entre outros, cabendo também sua opinião sobre quais os diretores com quem gostaria de trabalhar. Começa a gravar, à base dos caprichos e implicações costumeiras, Nunca Fui Santa (Bus Stop, 1956), de Joshua Logan, e, ao fim das filmagens, aos 30 anos de idade, a atriz se casa com o dramaturgo Miller, onze anos mais velho. Sem pausa, ela parte para a Inglaterra onde iniciaria O Príncipe e a Corista (The Prince and Showgirl, 1957), junto de Sir Lawrence Olivier.
 
Em terras inglesas, Marilyn e Arthur enfrentaram um esgotamento de seu casamento, pois, ainda que fosse latente sua admiração para com o esposo, não conseguia se livrar de seus defeitos maiores, que a tornavam uma mulher de dificílima convivência, e, bastante infiel, no fim das contas. Dentro e fora de cena, difícil era haver o homem que suportasse tantos faniquitos, neuroses e exibicionismos; tanto que seu conjugue afirmaria estar decepcionado com a mulher por quem, desde que conhecera, havia nutrido um encanto. Após os quatro meses de tensa gravação do filme (já que Lawrence Olivier entrava na lista dos diretores que acabaram perdendo as estribeiras com a atriz), o casal retorna a Nova York com o objetivo de voltar à estaca zero (ou quase isso), dando a si mesmo uma nova chance de melhoria. Contudo, os problemas com ciúmes – que, mais tarde, levaria ao afastamento de Milton Greene da Marilyn Monroe Productions, por pressão do Miller sobre a esposa para demiti-lo –, desconfianças e extremas diferenças opinativas impedia que tudo retornasse à normalidade. Enquanto casado com ela, Arthur enfrentava, segundo críticos de sua obra, uma preocupante má fase artística, uma vez que, com desmoronamento emocional da mulher, iam embora também sua criatividade e inspiração. Monroe carregava uma corrosiva tristeza, que, de tão forte, tragava também o outrora talentoso escritor.
 
No verão de 1958, Quanto Mais Quente Melhor (Some Like It Hot, 1959) começa a ser rodado, tendo ela interpretando novamente uma variação da imagem que lhe empregaram: Sugar Kane, sua personagem, é uma mulher ingênua que, apesar de sua beleza, jamais encontrara um amor de verdade, tornando-se alvo fácil diante da lábia dos mais espertos. Seu destino muda quando conhece dois músicos que acabaram de testemunhar um crime, e, para escaparem da mira dos bandidos, se travestem de damas e conseguem um emprego numa banda feminina. Como não poderia deixar de acontecer nos bastidores, Marilyn arranjou muitos problemas, entre os quais fez Billy Wilder adoecer pelo estresse e exaustão, brigou e conseguiu o desprezo de Tony Curtis e permitiu a Jack Lemon considerar a desistência daquele papel. Seus atrasos excessivos, dificuldade de decorar o texto e a desconcentração trouxeram à produção gastos maiores que o previsto, incumbindo o diretor de procurar novas saídas para ajudá-la (colocando suas falas no cenário, por exemplo), e enfim terminar o projeto – sabia que, mesmo com esses pesares, Marilyn tinha o timing necessário para o humor. Como resultado de tantos esforços, foi eleita a melhor dentre todas as comédias americanas, segundo o AFI, conferindo a Monroe o prêmio de “melhor atriz em comédia” no Globo de Ouro de 1960.
 
Emocionalmente destruída, o sucesso de sua imagem já não suplantava o caos que crescia em sua mente, e consumia todos que estavam ao seu redor. Logo após um ano longe das telonas, em um período marcado por internamentos, um aborto e profundos abalos psicológicos, ela regressa com Adorável Pecadora (Let’s Make Love, 1960), de George Cukor, na pele da vedete Amanda, que encanta o bilionário Jean-Marc Clement quando esse, sabendo da criação de uma peça teatral que pretende satiriza-lo, decide se tornar o escolhido para o papel principal e ficar ao lado da sedutora mulher. Os últimos suspiros de seu casamento aliados ao pequeno caso extraconjugal que teve com Yves Montand, protagonista do filme, e à dependência de medicamentos deram margem para que ela fosse procurar a ajuda do psiquiatra Ralph Greenson, que iria acompanhar seu caso até o trágico desfecho. Naquele momento em particular, Marilyn parecia jogar ao vento todos os planos que fizera para equilibrar a realização pessoal e profissional, sabia que Miller era sua última oportunidade de construir um painel familiar realmente sólido, mas também que sua união com ele se sustentava somente por uma linha tênue – e os inúmeros relacionamentos infiéis pareciam determinar o triste sepultamento de todos os projetos afetivos que havia construido.
 
Os Desajustados (The Misfits, 1961), seu último trabalho concluído no cinema, se tornou uma espécie de lápide de duas grandes carreiras: a sua e a de Clark Gable, homem que, como ela própria admitira numa entrevista, considerava como a figura paterna que jamais teve, apesar de não ter tanta intimidade com o ator. Diversos fatores contribuíram para que esse seu segundo trabalho com John Huston se tornasse um tipo de adaptação de suas desgraças pessoais para a tela. Muito dessa ideia provém do roteiro escrito por seu próprio esposo, que, na época, cansado de vê-la amarrada em papeis estereotipados construiu Roslyn Tabor como uma mulher com os mesmos medos e características de Monroe, não sabendo que, para ela, seria muito prejudicial esta união de realidade com ficção. Nos sets, atuava ao lado de Montgomery Cliff, que tinha suas emoções tão devastadas quanto as dela, e de Clark Gable, o dito “pai que nunca teve” e que, na história, arrebata seu coração; fora de cena, o tratava da pior maneira, como um modo inconsciente de penalizar seu verdadeiro pai por tê-la abandonado. Durante as gravações, Marilyn pretendia a separação legal de Arthur, já que estava bem claro que aquela união não mais chegaria a lugar algum.
 
Suas brigas com Miller já eram públicas, as acusações de traição protagonizadas em frente à equipe do filme; não era mais segredo para ninguém a absoluta infelicidade de ambos. Desolada com tal momento, Marilyn toma uma nova overdose de barbitúricos e por pouco escapa da morte. A tragédia novamente lhe bate a porta quando, com pouco mais de uma semana após o término das filmagens, Clark Gable falece vítima de um infarto; ao receber a notícia, se culpa pela forma reprovável como o tratou durante o único projeto ao seu lado. Em 20 de janeiro de 1961, junto de Arthur Miller, ela assina o documento de divórcio, possibilitando assim sua entrega total aos últimos meses de uma vida desmedida, onde ainda se deixaria levar por promessas de que seria a Primeira Dama dos Estados Unidos, ditas por seu mais famoso amante: o então presidente da república, John Fitzgerald Kennedy. O relacionamento dos dois, diferente da visão geral, não ocorrera já nos tempos finais da atriz; eles, na verdade, se conheceram primeiramente em 1951 e iniciaram seus encontros amorosos em 1954, quando JFK ainda era um senador e a estrela, por sua vez, galgava rumo a um reconhecimento ainda maior.
 
Durante essa época, Marilyn se envolveu com gente poderosa, mantendo algumas relações arriscadas à sua integridade física e psicológica, visto que, obviamente, enquanto amante do homem mais poderoso do país (tendo quase esclarecido isso publicamente quando cantou, em voz libidinosa, a melodia Happy Birthday, Mr. President durante o aniversário do político, em maio de 1962), ela seria, em mãos inimigas, uma inevitável arma de chantagem contra ele. Sua carreira também trilhava esse irreversível caminho, já que, desde o início, a atriz sempre misturou o profissionalismo com suas inseguranças pessoais, de modo a fazer com que seus problemas cotidianos invadissem os sets de gravação; essa foi a causa de sua demissão no último trabalho contratual com a Fox, o inacabado Something’s Got to Give, no qual Monroe faltava excessivamente, inventava desculpas ridículas e, quando resolvia dava o ar de sua presença, oferecia uma atuação absolutamente constrangedora aos produtores, que se viram na obrigação de dispensa-la da tarefa. Com a subjetiva rejeição de Kennedy (dos dois, aliás, já que também estabeleceu uma relação com o irmão mais novo de John, Robert Kennedy), o casamento de Arthur Miller, Marilyn se deixou destruir de uma vez por todas.
 
No fatídico dia 5 de agosto de 1962, com 36 anos, o corpo de Marilyn Monroe é encontrado sobre sua cama, despido, segurando um telefone fora do gancho (especulações indicam que tentava ligar para Robert Kennedy), ao lado de um frasco de barbitúricos vazio sobre o criado-mudo no quarto. É divulgada que a causa oficial da morte da estrela foi overdose por ingestão de remédios, e, mesmo com as mais diversas teorias por trás do episódio – ainda bastante discutidas até hoje –, o suicídio foi tomado pela polícia como versão oficial dos fatos. Hoje, tendo deixado em testamento 75% de seu patrimônio para seu professor de arte dramática Lee Strasberg (que, junto da mulher Paula, ajudou a atriz na concretização de seu sonho) administrar, ela repousa na cripta 33 do Westwood Memorial Park, e sua morte trouxe a pulverização desse sistema de estrelas hollywoodiano – que alimentava a ideia de eterna felicidade de seus artistas –, assim como também alterou a percepção do público de que os astros da tela não eram frágeis ou suscetíveis a quaisquer derrotas e desilusões; mesmo negando toda essa visão, o legado da estrela permaneceu intacto aos problemas de sua vida pessoal, continuando a ser, a mais de meio século, uma das personalidades mais queridas e celebradas de todo o cinema - e quanto a isso, podemos afirmar que, apesar de todos os pesares, ela chegou onde queria chegar.

Filmografia

Título Prêmios Ano Notas
Malvada, A
Srta. Caswell
1950
8,9
8,7
1954
7,3
7,3
Segredo das Jóias, O
Angela Phinlay
1950
8,0
7,8
Desajustados, Os
Roslyn Taber
1961
7,1
Almas Desesperadas
Nell Forbes
1952
7,2
1953
6,5
Loucos de Amor
Cliente de Grunion
1949
Páginas da Vida
Streetwalker
1952
Sua Alteza, a Secretária
Operadora telefônica (não-creditado)
1947
1957
Segredo das Viúvas, O
Roberta 'Bobbie' Stevens
1951
Mundo da Fantasia, O
Vicky Parker
1954
Travessuras de Casados
Annabel Jones Norris
1952
Joguei Minha Mulher
Joyce Mannering
1951
Sempre Jovem
Harriet
1951
1951
Faísca, O
Polly
1950
Mentira Salvadora
Peggy Martin
1948
1950
Prados Verdes, Os
dançarina
1948
1948
Nasceste para Mim
garçonete
1948
1947
Marilyn Monroe - O Fim dos Dias
Ela mesma (arquivo)
2001
Quanto Mais Quente Melhor
Sugar Kane Kowalczyk
Globo de Ouro (prêmio) 1959
9,0
8,7
1955
6,6
7,3
Globo de Ouro (indicação) 1956
6,3
Adorável Pecadora
Amanda Dell
1960
7,2
1952
7,6
Torrentes de Paixão
Rose Loomis
1953
7,5
Inventor da Mocidade, O
Srta. Lois Laurel
1952
7,7
1953
6,9
7,3
Título Prêmios Ano Notas
Love, Marilyn
Roteirista
2012
2001